Marcos Mendes: Governo sem convicção e Congresso sem interesse barram ajuste fiscal

Economista afirma que R$ 50 bilhões destinados a emendas parlamentares “não tem em nenhum lugar do mundo”

Augusto Diniz

Publicidade

Para o economista Marcos Mendes, especializado em economia do setor público, finanças públicas e política fiscal, quando se tem um poder executivo determinado a fazer ajuste fiscal, ele tem muita dificuldade, porque vai enfrentar interesses diversos no Congresso.

Marcos Mendes participou do episódio 271 do programa Stock Pickers, com apresentação de Lucas Collazo e Henrique Esteter.

“Mas quando se tem um governo que não tem convicção de fazer ajuste fiscal, fica mais difícil ainda.”

— Marcos Mendes

Individualização

Para ele, o modelo de eleição dos parlamentares, no qual é eleito o mais votado, acaba se criando um agente singularizado.

“São campanhas individualizadas porque ele está lutando sozinho para ser eleito. Cabe a cada candidato buscar seu autofinanciamento. Então ele vai passar o mandato fazendo duas coisas: ou mandando recursos para o eleitorado dele ou agradando um financiador de campanha, que vai financiar a próxima campanha dele”, explica.

“Isso distorce a escolha pública porque os partidos são feitos para decisões coletivas. Mas se criou um desenho (eleitoral) que incentiva a ação individualizada”, afirma. “Isso abre espaço enorme para o lobby, emedas parlamentares e dinheiro para isso ou aquilo.”

— Marcos Mendes

O economista expõe que ter R$ 50 bilhões para emendas “não se encontra em lugar nenhum do mundo”.

Reforma política

Ele diz ainda ter receio grande de uma reforma política abrupta que proponha, por exemplo, o semiparlamentarismo.

Continua depois da publicidade

“Com uma base partidária eleita da forma que descrevi, de interesses individualizados, sem organicidade partidária, sem um processo de decisão coletiva, está se criando uma incerteza muito grande.”

— Marcos Mendes

Mendes explica que os interesses fragmentados e pulverizados dentro do Congresso inviabilizam uma política econômica coerente.

“Para se ter um modelo de parlamentarismo hoje, precisa mudar a forma de eleição e composição das bancadas partidárias”, diz. “Mas isso é uma mudança de mentalidade muito grande”, afirma.