EUA podem sofrer efeito colateral com nova política industrial, diz Wichmann, da XP

Artur Wichmann avalia durante encontro com assessores de investimentos que o presidente dos EUA ainda parece seguir padrão previsível na questão tarifária, “mas não que isso seja bom”

Augusto Diniz

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“A Arte da negociação” é um dos livros mais conhecidos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e dá uma ideia do que parece ser sua política econômica atual.

Segundo Artur Wichmann, CIO da XP, na questão relaciona às tarifas de importação, “a arte do deal (negociação) de Trump se resume em: coloque o bode na sala, cobre para tirar o bode da sala e depois declare vitória”.

O executivo falou a assessores durante encontro do Selo Private e P15 – grupo dos melhores escritórios que atuam neste segmento, realizado pelo XP Private Bank nesta terça-feira (18). O evento reuniu mais de 130 profissionais focados na gestão de grandes fortunas.

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Pleno emprego

Wichmann analisa que a economia americana está praticamente em pleno emprego. “Mas tem o problema que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) está enfrentando nesse exato momento que é a não convergência da inflação para sua meta (de 2%)”, diz.

Ele explica que a inflação chegou ao pico na pandemia, subiu-se os juros de forma acelerada como não se via há 25 anos e isso fez a inflação arrefecer.

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“Só que agora a inflação parou de cair. Quando se vê os núcleos da inflação dos Estados Unidos, a estabilidade está em torno de 3%. A inflação caiu, a política monetária teve efeito, mas a inflação parou de convergir para a meta (de 2%)”, diz. “Isso é um problema para o Fed”, acrescenta, explicando que a parada na queda dos juros deve ser adotada agora pelo banco central americano.

“Uma parte do problema disso está no fato de os Estados Unidos viver o pleno emprego”, afirma. De acordo com Wichmann, surgem então dois possíveis choques da plataforma de governo de Trump: imigração e tarifa de importação.

Imigração

“O mercado está em pleno emprego. A gente está só com 4% de desemprego e nos últimos 3 anos teve a entrada mais de 4 milhões de pessoas na força de trabalho americana, seja por via legal ou ilegal”, expõe.

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Para o CIO, o mercado de trabalho, que estava equilibrado, pode sofrer queda negativa de oferta com a interrupção da imigração.  

“A economia americana gera demanda de cerca de 150 mil postos de trabalho por mês. E a força de trabalho americana cresce em cerca de 80 mil postos de trabalho. Então, os Estados Unidos precisam em torno de 70 a 100 mil imigrantes todo mês para fechar a força de trabalho”, explica.

Tarifas

Já a segunda questão das tarifas, ele avalia que o Trump as colocou para proteger determinados setores da economia dos EUA. “Só que isso é pior em termos de eficiência econômica”, afirma.

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“Por enquanto, essa nova política industrial americana parece limitada em seu escopo”, ressalta. “Se ela for muita ampla, pode ter efeito colateral que o Trump não quer. Quando se olha a primeira gestão (de Trump), ele tarifou a China de várias formas, mas sempre refutou uma taxa que atingisse o consumidor americano”, analisa.

“A política tarifária de Trump parece no momento seguir um padrão previsível, mas não que isso seja bom”, diz.  

Sobre o encontro do Selo Private e P15, grupo dos melhores escritórios que atuam no segmento, a lista dos quinze melhores escritórios private é atualizada uma vez por ano e, em 2025, será apresentada durante a Expert XP, considerado o maior festival de investimentos do mundo.

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Já o Selo Private reconhece os assessores de investimentos que mais se destacaram no atendimento aos clientes deste segmento.

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