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SÃO PAULO – Um doce irresistível. Uma blusinha na promoção. Um celular caro, mas que você queria muito. O carro do ano. Você já deve ter feito uma compra da qual se arrependeu depois. Mas a verdade é que geralmente esses gastos são geradas pelo impulso e isso pode ter um impacto negativo forte na sua vida financeira.
“As pessoas destroem suas vidas financeiras devido a compras que não são necessárias com o cartão de crédito, por exemplo. Aí a fatura chega gigantesca, não conseguem pagar e isso vira uma bola de neve, com as taxas de juros que são bem altas”, explica a planejadora financeira Carol Sandler.
A dica é comprar experiências, não objetos, segundo uma pesquisa da Universidade de Cambridge.
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Cerca de 82% das pessoas relatam sentir arrependimento ou culpa por uma compra – o que representa US$ 10 bilhões em bens, coletivamente. Pode acontecer com algo tão insignificante quanto uma casquinha de sorvete ou tão grave quanto uma casa.
Do ponto de vista psicológico, quando você considera uma compra, duas forças opostas estão travando uma guerra no seu cérebro. Uma delas, chamada de sistema de evasão, diz para evitar riscos e conseqüências negativas; a outra, sistema de aproximação, diz para você fazer o que te deixa feliz naquele momento.
“A qualquer momento, uma delas tenta controlar o que estamos fazendo. Mas qualquer um que esteja mais alinhado com seu objetivo (seja fisicamente ou no tempo) será mais dominante”, explicou o professor de psicologia da UT Austin, Art Markman ao The Hustle.
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Por exemplo, digamos que seu objetivo seja comprar um carro. Você está visitando uma concessionária quando o vendedor faz uma proposta. Não é a melhor que você recebeu. Mas então você entra no carro, sente o cheiro de novo e automaticamente cria uma expectativa com aquela compra e uma série de emoções influenciam seu pensamento para o “sim”. Seu sistema de aproximação se sobrepõe ao seu sistema de evasão: você fecha o negócio.
Depois da compra, esse sistema de aproximação, impulsionado pelo ambiente na concessionária, desaparece, e o sistema de evasão entra em ação. De repente, você é confrontado com todas as consequências reprimidas de sua ação.
Psicologicamente, segundo o professor, o remorso do comprador é um tipo de “dissonância cognitiva” – um período de desconforto mental causado por crenças e atitudes conflitantes. Durante este período, passamos por uma gama multidimensional de pensamentos e sentimentos:
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“Eu realmente precisava do carro? Eu deveria ter comprado o carro? Fiz a escolha certa? Fui enganado, ou o negociante me fez uma proposta ruim? Poderia ter gasto o dinheiro para outra coisa? A outra opção era melhor? Tinha essa mancha desse lado quando eu comprei?”
Segundo Sandler, no entanto, essas são as perguntas que todo consumidor deve se fazer antes de fechar a compra, qualquer que seja, com mais segurança e evitar remorso. “Planejar qualquer compra é o segredo para não se endividar – e também não se arrepender”, diz.
A pesquisa mostra, ainda, as principais razões dos consumidores se arrependerem de ter comprado algo:
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Motivo |
Porcentagem |
Não alcançou as expectativas |
58% |
Acabou não usando o produto/serviço |
30% |
Custou muito caro |
20% |
Achou um preço/proposta melhor depois |
15% |
Não precisava do produto/serviço |
15% |
“O desconforto tende a ser mais grave quando a compra exige mais ‘esforço’ (mais dinheiro, mais tempo gasto pesquisando ou negociando) ou ‘compromisso’ (dedicação de longo prazo). Quanto mais envolvido você estiver com uma compra, mais intenso será seu potencial arrependimento”, diz o estudo.
Uma outra pesquisa, da consultoria Autotrader, mostra que 7 entre 10 pessoas que compram um carro novo experimentam alguma forma de remorso. E mesmo a compra de itens menores como roupas, eletrônicos e utensílios de cozinha podem ter efeito negativo inesperado.
Sandler explica que “antes de uma compra importante a pessoa tem de avaliar as prioridades, necessidades e etc”. Mas ao mesmo tempo não se pode menosprezar as “pequenas compras”.
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“Também é preciso ter a consciência de qualquer compra tem impacto, seja no curto, no médio ou no longo prazo. Já ouvi, ‘ah, comprei uma blusa e me arrependi, mas pelo menos o impacto é pequeno’. Porém, na verdade é médio, porque quando você estimula um hábito ou faz esse tipo de compra muitas vezes sem perceber os efeitos financeiros podem ser muito maiores”, diz.
Veja os itens que mais causam arrependimento segundo a pesquisa Universidade de Cambridge:
Item que causa remorso |
Porcentagem |
Roupas, sapatos |
60% |
Casa |
44% |
Equipamentos de ginástica |
42% |
Utensílios de cozinha |
41% |
Cosméticos |
40% |
Eletrônicos |
36% |
Carros |
32% |
Alimentos |
30% |
Era da tecnologia: muito mais compras
O remorso do consumidor se intensificou na era do e-commerce, checkouts com um clique e compras simplificadas: o consumo é mais fácil, mais barato e mais rápido do que nunca com a chegada da tecnologia.
Essas compras por impulso, das quais muitas pessoas são vítimas, são carregadas de emoção. Muitas vezes chegamos a nos arrepender delas em poucos minutos.
Em certo sentido, o remorso do comprador é produto das expectativas que temos para o consumo: muitas vezes compramos coisas porque achamos (falsamente) que o ato de aquisição nos faz felizes, de acordo com os psicólogos.
Sandler afirma que para evitar esse tipo de processo de remorso, uma coisa simples pode ajudar: pensar por 10 minutos. “Se você está numa loja e pega um produto, antes de comprá-lo deixe-o de canto. Vá dar uma volta, tomar um café, olha o Facebook, etc. Depois de 10 minutos, você deve se perguntar de novo se precisar comprar aquele produto. Muitas pessoas depois desse pequeno exercício, nem se lembra do que queria comprar”, explica.
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Além disso, ela explica que o planejamento financeiro também é crucial para fazer compras, principalmente se for algo de muito valor. “Faça as contas e veja se realmente cabe no seu orçamento e faça uma lista com os pontos bons e ruins, parece bobo, mas pode fazer você evitar prejuízo”, explica.
Se você é do tipo de pessoa que compra muito por impulso, outra dica é deixar o cartão de crédito guardado na gaveta. “Deixe trancado mesmo, use apenas para emergências. Só de não andar com o cartão na bolsa, as chances de gastar mais do que deveria diminuem”, afirma a especialista.