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SÃO PAULO – Os recentes problemas envolvendo a presidente Dilma Rousseff e a equipe do Santander começaram a ser repercutidos na imprensa internacional. Em uma matéria publicada nesta quinta-feira (31), o Wall Street Journal destacou a demissão de um analista do banco após uma análise indicando que investidores reduzissem sua exposição no Brasil diante da possibilidade da reeleição de Dilma.
Segundo a publicação, a presidente está adotando uma nova estratégia para acabar com o fluxo de notícias e análises negativas sobre a economia, que acabam pesando para a possível reeleição dela. De acordo com o WSJ, o governo agora está testando “matar o mensageiro” (tradução livre para a expressão “shoot the messenger”), o que significaria que o governo em vez de tentar acabar com o problema estaria tentando evitar que as notícias ruins chegassem ao mercado.
Os efeitos da demissão do analista já está pesando para as instituições financeiras. Procurados pelo jornal, funcionários de diversas empresas disseram que estão controlando suas notas políticas em relatórios para não arriscar uma possível “ira” do governo. O WSJ lembra que o ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, disse que este é um cenário preocupante e que poderia prejudicar os investidores se os economistas tiverem auto-censura por medo de represálias.
“Isso pode levar a uma diminuição na qualidade da análise econômica no Brasil”, disse da Nóbrega. “Por todos os aspectos, temos a lamentar esse episódio”, completou. Um porta-voz do governo não quis comentar o caso com o jornal.
O WSJ ainda destacou as reações da presidente Dilma, que afirmou ser “inaceitável para qualquer país a aceitar qualquer nível de interferência de qualquer membro do sistema financeiro … em atividade eleitoral e político”, além da declaração do ex-presidente Lula, que disse na segunda-feira que o analista “não entende p** sobre o Brasil e sobre a administração de Dilma. Você pode demiti-la e dar o bônus para mim”.
A publicação ainda lembrou que esta não é a primeira vez que o Santander demite um funcionário após um desentendimento com o governo de Dilma Rousseff. Em 2011, o banco demitiu seu economista-chefe, Alexandre Schwartsman, depois de uma briga a líder da Petrobras sobre o uso de novas ações de vendas para ajudar a financiar as operações do governo.
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Schwartsman disse que o governo está tentando distrair os eleitores, criticando os analistas em vez de enfrentar os problemas econômicos do país. “O governo optou por quebrar o termômetro, em vez de atacar a febre”, disse Schwartsman.
Por fim, o WSJ ainda destacou a retirada de uma publicidade da Empiricus Research no que, segundo o PT, seria uma propaganda anti-governo. Rodolfo Amstalden, um dos sócios da empresa, disse que a Empiricus ainda não decidiu se vai lutar contra a liminar. No entanto, ele afirma que a empresa não estava em campanha para um candidato ou outro, e apenas dando conselhos com base nos resultados mais prováveis.
“Nos sentimos violados no nosso direito de expressão”, disse Amstalden. “Esta não foi uma campanha política. Nós temos mais de 200.000 clientes e nossa responsabilidade é a de informá-los”, concluiu.