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SÃO PAULO – No terceiro volume do Diários da Presidência, livro lançado no último final de semana, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou tanto aliados como adversários e apontou momentos difíceis no primeiro biênio do seu segundo mandato (1999-2000).
O ex-presidente aponta momentos de “quase desespero” no início do seu mandato em meio à crise cambial, que diminuiu a sua popularidade e que aumentou o dilema de seu governo: manter o “arrocho econômico” ou abrir os cofres para a recuperação da aprovação. E, em jantar com o ministro da Fazenda Pedro Malan, em junho de 2000, o ex-presidente desabafou que não havia condições sociais para “manter o arrocho”. “Todos preocupados com a popularidade, que não sobe.”
O livro traz ainda diversas críticas sobre integrantes do governo e seus opositores, assim como para o seu antecessor, Itamar Franco, algo que vai contra o estilo mais “sereno” do tucano.
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FHC chama Itamar, então governador de Minas Gerais na época, como “egocêntrico e vingativo” e acusa de sequer ter lido o Plano Real. “Itamar é o irresponsável de sempre. Todo mundo sabe que para fazer o Real foi uma dificuldade imensa. Sei que nem o Plano Real ele leu, ele disse isso a mim na frente do José de Castro, quanto mais leu o orçamento alguma vez na vida. Eu sempre disfarço isso, mas fui a ama-seca dele quando ele era presidente da República. Impedi mil crises, inclusive com os militares”, afirma o ex-presidente em trecho do livro.
O ex-presidente ainda fez uma série de críticas à oposição, afirmando que o PT não tem condições de governar o Brasil. “Qualquer convite, qualquer coisa que implique diálogo, primeiro eles têm que recusar abertamente para ficar bem com o pequeno público. Eu sempre tive desconfiança de quem vive falando de moral”, afirmou ele em meados de 2000.
Dois anos antes da eleição em que Lula chegou à Presidência, o livro aponta ainda que o tucano não enxergava o PT como uma alternativa viável de poder. Ele apontou que o PT “nunca vai chegar ao poder” e disse que, “do jeito que vão, não serão uma alternativa de poder e acabam pondo aqui alguém mais conservador, ou um Ciro da vida, se o Mário Covas não tiver condições de enfrentar o processo eleitoral”.
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Na hora de classificar os adversários, ele foi além, ao classificar Lula e Ciro como mau caráter. “Lula é um mau-caratismo mais popular, o Ciro é de classe média. Ciro tem a petulância própria do impostor. Não engulo.”
As críticas também se estendem à guerra interna do PSDB, com destaque para a “guerra de vaidades” entre os caciques do partido, caso de José Serra, Aécio Neves, Tasso Jereissati e Mário Covas. Serra foi acusado de não ajudar o partido e “só pedir, pedir e pedir, mas não vestir a camisa do governo” e . Ele ainda reclama em muitos pontos da articulação de Aécio Neves, eleito para a presidência da Câmara na época. “Aécio acha que a política brasileira gira em torno dele (…) Aécio quer chutar o PMDB do governo”, destaca ele no livro.
O PMDB volta a ser alvo, de forma ainda mais intensa, além do clima pesado entre o seu partido e os peemedebistas. “O PSDB e o PMDB às turras por causa de nomeações. O PMDB cada vez mais descarado, querendo colocar gente sem condição para exercer cargos. E o PSDB reclamando”,
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Destaque ainda para uma passagem do livro em que o tucano falou a Armínio Fraga: “não se esqueça do seguinte: o Brasil não gosta do sistema capitalista. Os congressistas, os jornalistas, os universitários não gostam do capitalismo. E no capitalismo têm horror aos bancos, ao sistema financeiro e aos especuladores. (…) Eles gostam do Estado, eles gostam de intervenção, de controle de câmbio, enfim, ser conservador é melhor do que liberal”. Ele disse isso antes da sabatina do Senado, em 1999, que aprovou sua indicação para comandar o Banco Central.
(Com Agência Estado)
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Diários da Presidência 1999-2000 (Volume 3)
Autor: Fernando Henrique Cardoso
Editora: Companhia das Letras
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Preço: R$ 79,90