As 7 questões que vão determinar quem será o próximo presidente do Brasil

O ano que se inicia é repleto de incertezas, mas há muitos pontos para ficar de olho que serão decisivos para determinar quem será o governante no ano que vem

Lara Rizério

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SÃO PAULO – 2018 é um ano cheio de incertezas no cenário político e econômico, guiado por uma pergunta que pode definir e muito quais serão os próximos do Brasil. Afinal, quem será o próximo presidente do Brasil?

O cenário é fragmentado, com muitas questões políticas que se misturam com as jurídicas, o que leva a poucas certezas, quase incomparáveis com o montante de dúvidas que pairam no ar sobre o que acontecerá nesse ano no noticiário. Mesmo assim, algumas tendências podem ser apontadas – e os quatro analistas políticos consultados pelo InfoMoney para o Guia Onde Investir 2018 traçaram um panorama bastante importante para começar o ano sabendo em que se atentar – e quais serão os temas que estarão em foco neste ano.

Richard Back (XP Investimentos), Ricardo Ribeiro (MCM Consultores), Rafael Cortez (Tendências Consultoria) e Christopher Garman (Eurasia Group) foram os consultados – e apontaram suas percepções e análises sobre o complicado ano que se inicia. Entre algumas discordâncias, todos eles concordam em um ponto: esse ano promete ser de fortes emoções para o mercado, já que as chances de uma eleição tranquila são mínimas.

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1. Bolsonaro: um forte candidato ou fogo de palha?

A resiliência da candidatura do deputado federal também é alvo de muitas análises. Se, por um lado, a candidatura de Bolsonaro tem algumas fragilidades, como a falta de uma estrutura partidária, pouco tempo de propaganda e falta de tropa partidária, ele também recebe apoio de segmentos relevantes da sociedade, como uma fatia dos evangélicos, além do fato das redes sociais, campo em que ele domina bem, ganharem mais forças e a revolta com os políticos tradicionais só aumentar.

“Por mais que se diga em avaliações pejorativas que não é um candidato com consistência, a grande verdade é que, até agora, no passo 1, ele foi muito competente, consolidando-se e fugindo da bolha de 5%. Achou um discurso em que não precisa oferecer resultado nem um programa muito bem definido, mais baseado na indignação das pessoas. Agora, o passo 3 é tentar oferecer algo em termos de economia. Esse movimento tem sido um pouco mais lento, ele ainda tem que provar um pouco mais. Veja que foi contra a reforma trabalhista. Vai votar a favor da reforma da Previdência? Outra dificuldade pode ser a comparação com ele mesmo: o Bolsonaro que todo mundo conhecia até janeiro dizia coisas diferentes deste que diz agora”, aponta o cientista político da XP Investimentos, Richard Back.

Para Ricardo Ribeiro, a questão que fica é: será que a força na internet e a revolta política serão suficientes para compensar a fragilidade da estrutura partidária tradicional do Bolsonaro? “É uma dúvida para 2018. A minha avaliação é que Bolsonaro tende a cair quando começar a campanha, porque ele será atacado, vai ter pouco tempo para se defender e há algumas questões que estão começando a aparecer agora e que podem trincar a imagem dele daqui até a eleição”.

Bolsonaro será um personagem bastante interessante a ser observado de perto nas eleições de 2018. Afinal, conforme aponta Christopher Garman, ele está colocando o dedo em uma demanda que existe, que é um discurso antiestablishment em um contexto de grande desencanto. “Ele também tem uma característica valiosa que é a autenticidade: você pode concordar ou não com o que ele está falando, mas tem a sensação de que ele fala o que realmente pensa. Esse é um ativo igual ao Trump tinha nos EUA e ele também tem aqui”, aponta o analista da Eurasia.

2. Alckmin finalmente vai engatar?

Geraldo Alckmin parece ser o candidato mais bem estabelecido do centro, com o governismo apontando para convergir em torno dele. Porém, ainda falta algo essencial a ele: votos. Afinal, conforme apontam as últimas pesquisas, o governador de São Paulo segue com cerca de 8% das intenções de voto, bem distante de nomes como Lula e Bolsonaro, que despontam nas pesquisas. Isso tem levado com que os partidos que orbitam em torno do Palácio do Planalto busquem lançar outros nomes, ainda mais levando em conta que o PSDB, apesar de querer mostrar que é a favor das reformas, quer manter uma “distância segura” do Planalto, além de enfrentar diversas questões internas.

Conforme aponta Richard Back, em condições normais, Alckmin seria o candidato da base, mas ainda tem muito a construir. “O tucano precisa mostrar a que veio. Até agora, ele foi o que sobrou, com muita resiliência, fazendo o jogo certo, mas em algum momento tem que trocar isso e ser candidato, começar a dizer coisas. No fim de semana em que foi eleito presidente do PSDB, falou contra Lula, mas muito mais para bater em Bolsonaro”.

A avaliação de que a candidatura de Alckmin é o que acabará “restando” para o centro também é destacada pelo analista político da MCM Consultores. Ele ainda avalia que Alckmin vai subir nas pesquisas, mas não por agora. “Alckmn vai depender muito da estrutura de campanha e também tem um pouco o que mostrar do que foi feito nos governos de São Paulo. A tendência do Alckmin é subir, mas não vai ser fevereiro ou março… as coisas estão convergindo ao redor do Alckmin… pensar por exemplo em Temer candidato é algo absurdo. Rodrigo Maia também é bem difícil”, afirma.

3. Centro fragmentado ou a união fará a força?

A fragmentação do centro está diretamente relacionada com a questão acima – e também pode contribuir para que os “extremos” possam ganhar forças para a eleição. Conforme avalia Rafael Cortez, o grau de fragmentação do centro é a origem dos riscos eleitorais.

“Uma pluralidade desses candidatos dificulta a ida ao segundo turno de um nome da centro-direita que tenha proximidade com a gestão atual, sobretudo pensando do ponto de vista da política econômica. No fundo, a competitividade da centro-direita passa menos pelos nomes escolhidos e mais pela quantidade de candidatos, especialmente olhando a relação do PSDB com os demais partidos da base. Se o PSDB perder o status de monopolista do antipetismo, como pelo menos o ambiente agora sugere, há um risco relevante de protagonismo de Bolsonaro e Lula”, aponta o analista político da Tendências. Henrique Meirelles e Rodrigo Maia são cogitados.

Para Ricardo Ribeiro, caso Lula não concorra, será um incentivo maior à fragmentação da disputa à direita, mas também à esquerda, porque justamente abre uma perspectiva melhor para todo mundo. “Há um eleitorado enorme que vai ficar sem candidato e vai ser disputável pelos demais candidatos. Sem o Lula a tendência é que haja mais fragmentação. Mas não só a direita, à esquerda também”, avalia.

4. Falando em Lula, o que muda se ele puder ou não concorrer?

O ex-presidente lidera atualmente as pesquisas de intenção de voto. Caso ele não possa concorrer, o que ocorreria? Para Christopher Garman, a maior chance é de que Lula não concorra. Porém, mesmo com Lula saindo, ainda se estaria numa eleição arriscada para o mercado.

“Isso porque, para um cenário de maior ‘tranquilidade’ para os investidores, teria que haver no páreo candidatos reformistas que estão alinhados com a revolta com o establishment político. Ou seja, outsiders. Sem esse quadro, podemos ter facilmente um cenário com Lula fora do páreo, Bolsonaro com robustos 15% a 17% e Ciro Gomes herdando boa parte dos votos do Lula – mais do que um substituto eventual de Lula no PT. Além deles, na disputa pode ter também Marina Silva e Joaquim Barbosa, amigáveis a reformas, mas com sinais um pouco mais dúbios, também sendo competitivos”, aponta ele.

Mas até onde ele pode ir para manter a candidatura? Para Richard Back, no caso do PT, espera-se Lula candidato pelo menos até o meio de setembro. No meio da eleição, Lula tem dois caminhos: 1) escolher trocar a candidatura e colocar Fernando Haddad, Jaques Wagner ou alguém; 2) ou dobrar a aposta e ir até o final, mesmo que possa ter a candidatura impugnada mais à frente — o ônus para tirar os votos da urna e exclui-los seria do TSE. Imagina como assume o próximo presidente em uma eleição como essa. “Não teríamos um 2019 tranquilo”, avalia.

Outra questão que está no radar é sobre qual é o seu potencial de votos caso ele tenha que abandonar a sua candidatura. Se por um lado, Ricardo Ribeiro avalia que, caso Lula chegue a participar de uma boa parte da campanha e saísse só no final, teria mais chance de transferir uma boa quantidade de apoio eleitoral para um candidato que apoiasse, como Haddad ou Jacques Wagner por outro, Garman aponta: “é muito difícil um candidato do PT que não seja o Lula ir para o segundo turno. O PT ainda é um passivo eleitoral para a grande maioria da população, o Lula tem um grau de apoio que vai muito além do próprio partido e nem o Haddad nem o Jacques Wagner teriam condições de poder chegar lá. No máximo teriam 10%, 15%, acho difícil ter mais do que isso em uma disputa muito fragmentada. Ficaria mais de olho numa candidatura de Ciro Gomes, Marina Silva, do que uma candidatura do próprio PT”.

De qualquer forma, 2018 promete, conforme aponta Rafael Cortez: “a candidatura de Lula vai trazer um problema institucional bastante significativo, a começar pela questão da formalização. Existe a possibilidade jurídica de haver uma candidatura de Lula depois sem condições de diplomação, o que já traria uma tensão entre a ação dos poderes de controle e o resultado eleitoral. O controle horizontal, entre os Poderes, vai entrar em choque com o controle vertical. Muito provavelmente vai ser um processo muito desgastante. Não há uma resposta única, não há uma solução satisfatória para esse dilema. Ou a Justiça Eleitoral consegue se antecipar e definir se o ex-presidente Lula tem condição de ser candidato ou estamos ainda em um mundo de potencial crise institucional”.

5. Polarização PT X PSDB continuará ou um cenário novo se formará?

Relacionado a isso, está a questão: a polarização dos últimos vinte anos se repetirá em 2018 entre PT e PSDB. No limite e apesar das incertezas, Cortez, Ribeiro e Back preveem um cenário em que tende a acontecer uma polarização novamente entre o PT e o PSDB.

Mas claro, com as devidas ressalvas. “É difícil ter uma resposta firme, porque está bem confuso, o Bolsonaro ainda é uma novidade, a influência das redes sociais é outra incerteza, até onde a economia irá melhorar e quanto vai favorecer as candidaturas do campo governista são outras questões. O caminho é de certa normalização na política e, no caso de eleição presidencial, é a polarização PT-PSDB, mas também não vou brigar muito para defender esse cenário, não dá para apostar todas as fichas nisso”, avalia Ricardo Ribeiro, que também não diz apostar um centavo quem ganharia entre os dois partidos.

Já Garman não vê esse cenário desta forma: “a questão é que teremos uma competição pelo voto anti-establishment. Até acho que se o Lula estiver fora do páreo, uma candidatura como a do Alckmin vai ter vantagens, terá tempo de televisão, o que será útil para poder desmontar e atacar os outros candidatos. Então a estratégia será de aumentar o passivo do Bolsonaro, atacar a candidatura da Marina Silva… Até acho que uma candidatura Alckmin pode ganhar, mas é mais no jogo de aumentar os passivos dos outros. Será uma disputa em que o eleitor escolherá entre o ‘menos pior’. Então pode ser uma disputa suja, uma campanha meio feia nesse sentido porque haverá um desespero total para ver quem vai chegar no segundo turno”.

6. E os outsiders?

Em um ambiente de desencanto com a política, qual será o papel dos outsiders? Para Ricardo Ribeiro, Joaquim Barbosa é o único nome realmente outsider que ainda tem chances de entrar, mas pondera, ao ressaltar que barreiras de outsiders (como tempo de TV, fundo eleitoral) à eleição presidencial vão acabar prevalecendo. Richard Back reforça que, entre Luciano Huck e Joaquim Barbosa, é possível haver um dos dois [na disputa].

Para Rafael Cortez, a força dos outsiders é sempre possível, mas não é o mais provável. “Há um estoque informacional de aprendizado em relação a 1989 muito significativo. A elite política aprendeu os determinantes e dilemas de uma candidatura presidencial, coisa que não se sabia na época, o que torna a entrada mais complicada. Mas, diante dessa crise partidária e se eventualmente algum partido estiver disposto a fazer uma aposta não tão pragmática, o resultado vai ser uma campanha bastante pulverizada e possivelmente mais incerta. Acredito que um nome de centro-direita deva ser um quadro mais complicado. Organizar este campo é uma tarefa mais difícil do que a centro-esquerda”.

Mais uma vez, Barbosa é citado, desta vez por Garman: “é um candidato que estamos muito de olho. Ele está costurando uma candidatura pelo PSB e, se de fato for candidato, pode navegar por esse espectro antiestablishment e tem credenciais muito fortes anti-corrupção e um espaço na centro-esquerda para ser competitivo. Barbosa é realmente um nome para ficar de olho e que pode ser competitivo em 2018”. Para o diretor para as Américas da Eurasia, em um ambiente de raiva com os políticos, mesmo que o cenário-base não seja a eleição de um outsider, um nome de fora da política pode exercer um papel importante na eleição.

7. Qual será o papel de Temer e da economia nas eleições?

“Em 2018, ele (Temer) será figura pela qual todo mundo terá que passar em algum momento. É o presidente da República, é um operador competente dos meandros políticos, sabe como se mexer e fazer outras peças se moverem e é importante para a formação de alianças. Temer é importante. Até temos brincado que ele vai ser o posto Ipiranga neste ano: todo mundo em algum momento tem que passar para abastecer, mas ninguém tira foto e posta na rede social. Muita gente vai evitar aparecer com Temer, mas todo mundo tem que passar por ele em algum momento”. É assim que Richard Back define o papel do presidente e do governismo nas eleições.

Já Garman e Ricardo Ribeiro ressaltam: Temer é muito impopular e há uma convicção de que o presidente e o seu entorno político é muito corrupto e isso atrapalha candidaturas muito vinculadas ao governo. Os atuais patamares de popularidade do governo são muito baixos e praticamente inviabilizam um governo vinculado a ele.

Neste cenário de governo mal avaliado,aponta Cortez, independentemente do tipo de oposição, a tendência é o fortalecimento de um discurso oposicionista. Assim, 2018 deveria ser uma eleição vencida pela oposição. Contudo, alguns fatores ainda seguram esse cenário: “o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e uma investigação muito forte do principal partido da oposição, com destaque para sua liderança, que, inclusive, corre o risco de não participar da corrida presidencial. De todo modo, não dá para menosprezar o efeito oposicionista no pleito. Não é por acaso que o PSDB não abraça o governismo. Ele sabe dos custos de estar associado a uma administração de baixa popularidade”.

Veja abaixo a entrevista na íntegra com cada um dos especialistas:

“Fragmentação do centro é a origem dos riscos eleitorais”, destaca Rafael Cortez

Michel Temer será o ‘posto Ipiranga’ da política em 2018, aponta Richard Back

Tendência é 2º turno entre PT e PSDB, mas não aposto um centavo quem ganharia, diz Ricardo Ribeiro

Mesmo sem Lula no páreo, eleição de 2018 será arriscada para o mercado, afirma Christopher Garman

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.