Eleição não mudará o Brasil, diz Joaquim Barbosa após desistir da disputa: “somos reféns do sistema”

"O sistema não tem válvula de escape. O cidadão brasileiro vai ser constantemente refém desse sistema. Você não tem como mudá-lo. Esse sistema contém mecanismos de bloqueio que servem para cercear as escolhas do cidadão", disse o ex-ministro ao jornal Valor Econômico

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após a decisão de não sair candidato à presidência da República, anunciada ontem pelo Twitter, o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, negou ao jornal Valor Econômico que teve desentendimentos com o PSB, partido ao qual se filiou em abril, mas manteve suas críticas ao sistema partidário em geral. 

“Os políticos criaram um sistema politico aferrolhado de maneira a beneficiar a eles mesmos. O sistema não tem válvula de escape. O cidadão brasileiro vai ser constantemente refém desse sistema. Você não tem como mudá-lo. Esse sistema contém mecanismos de bloqueio que servem para cercear as escolhas do cidadão”, disse ele ao jornal, lamentando ainda que o sistema eleitoral não permita candidaturas avulsas. “Por que um cidadão tem que se filiar seis meses antes? Foi isso me levou a me filiar. Me filiei quando ainda tinha muitas dúvidas. Sou abordado há muito tempo por pessoas que dizem que tenho potencial. Se não me filiasse tiraria a possibilidade das minhas cogitações. É um absurdo que país não permita candidaturas avulsas. Deixa de fora uma grande quantidade de pessoas”.

O ex-ministro ainda afirmou: “não acredito que esta eleição mude o país. O Brasil tem problemas estruturais gravíssimos, sociológicos, históricos, culturais, econômicos”. Ele disse ter temor de que a escolha do novo presidente aprofunde desigualdades sociais: “Meu temor é que os grupos que são indiferentes a isso vão se unir para dominar esse processo eleitoral. Se uniriam contra mim, não tenho dúvidas”, apontou, afirmando que o que fica do período em que foi cogitada a sua candidatura é de que é “inviável uma candidatura fora desse sistema pernicioso”. 

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Barbosa ainda disse que não vê “glamour na vida de quem tem poder” e que não morre de amores pelo poder. “Tudo aquilo que leva os políticos a conquistar o poder, nunca me atraiu.” Perguntado se houve algo determinante para a sua decisão, o ex-ministro do Supremo disse que não consultou ninguém, mas que a sua família está aliviada. 

Quando questionado sobre o que vai fazer em outubro – mês das eleições presidenciais – Barbosa apontou que vai continuar a sua vida autonomamente e estará provavelmente fora do País. Ao ser perguntado sobre o que diria aos eleitores que chegaram a apostar na sua candidatura, ele finalizou: “que prestem atenção para a maneira como funciona a política no Brasil. Somos reféns. Nosso direito de escolha é limitado”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.