Revolução dos micos: empresas chamam a atenção com fortes movimentações

Mangels, Estrela, Viver, Telebras, Lupatech e Cambuci subiram forte nas últimas sessões

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Ações menos líquidas tendem a sofrer fortes oscilações mesmo sem um motivo muito concreto. Nos últimos pregões, porém, muitos papéis considerados no jargão de mercado como “micos” chamaram a atenção: Mangels (MGEL4), Estrela (ESTR4), Viver (VIVR3), Telebras (TELB4), Lupatech (LUPA3), Agrenco (AGEN11), Tupy (TUPY3), Renar Maçãs (RNAR3) e Cambuci (CAMB4) apresentaram recentemente fortes oscilações de preços e um volume de negócios bastante acima da média.

O movimento mais fora do padrão é o da Mangels, que vê as ações subirem cerca de 65% nas últimas 3 sessões, com um volume muito acima da média – o que fez com que a BM&FBovespa indagasse a companhia sobre o assunto, obtendo a resposta de que o diretor de relações com investidores “não sabia de nada”. Rumores de que a companhia seria vendida foram rebatidos pela própria empresa, após indagação feita pelo InfoMoney.

A Mangels (MGEL4) traz os pré-requisitos de um mico da Bovespa: a ação possui pouquíssima liquidez – chegando a ter apenas 1 negócio em um dos pregões de julho – e possui baixo valor de mercado, o que acaba refletindo na ação no valor de face da ação, que é muito baixo – o que torna bastante acessível para investidor pessoa física. Nos últimos anos, a empresa vem mostrando quedas na bolsa: 23,38% em 2010, 53,36% em 2011, 41,36% em 2012 e agora apresenta queda de 70,18% em 2013. Embora a companhia, em bolsa, valesse menos do que o patrimônio, a dívida da companhia extrapola em 31 vezes o seu patrimônio.

Depois de altas de 24,44% na quinta e 25% na sexta, foi vez da empresa ter valorização de 11,43% nesta última segunda-feira (29), terminando a R$ 0,78. A empresa devolveu um pouco dos ganhos na terça, com queda de 3,85%, para R$ 0,75. Na quarta e na quinta, praticamente estabilidade – mas com volume forte em ambos pregões.

Viver: valorização com volume
Uma empresa que também está com forte volume é a Viver (VIVR3), cujas ações movimentaram R$ 4 milhões no último dia 29, mais de 10 vezes a média dos últimos pregões. Na última segunda, os papéis subiram 16,13%, aos R$ 0,36 – sem que nada justificasse esse tipo de movimentação, na visão da própria empresa. “Não vemos nada de pontual”, diz Fabricio Oliveira, coordenador estratégico da companhia.

Além disso, as compras da companhia foram compras grandes, já que o número de negócios ficou apenas 2,5 vezes superior à média, com uma operação entre dois clientes de uma mesma corretora – a SLW Corretora – movimentando mais de 6 milhões de ações, indicando uma possível compra casada, o que acaba inflando artificialmente os números da companhia. A ação praticamente sumiu desde 2007, com quedas de 98% desde o topo histórico naquele ano, sofrendo mais que qualquer outra imobiliária os problemas do setor.

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Oliveira cita que a companhia acabou de vender um grande terreno nos últimos dias, a Lagoa dos Ingleses – na região metropolitana de Minas Gerais – e que a empresa vem finalizando esse processo, mas não acredita que isso esteja ligado ao movimento. “Temos sinalizado uma melhora nas nossas operações, uma melhora na nossa estrutura de capital. Mas nada recente que possa ter causado isso”, salienta. 

Talvez por conta dessa ausência de fatores, a ação caiu 16,67% na última terça-feira, para R$ 0,30, tendo movimentado R$ 2,86 milhões. O número de negócios foi ainda mais elevado do que na sessão anterior, já tendo ocorrido 1.136 negociações envolvendo ações VIVR3 – contra apenas 692 da segunda-feira. Na quarta, alta de 3,33%, para R$ 0,31, com volume e número de negócios já dentro do normal.

Os fundamentos vieram e a companhia caiu 9,68% na quinta-feira, aos R$ 0,28. A companhia teve o rating rebaixado pela Fitch para “CCC” – transformando os títulos de dívida da companhia em “junk bonds”, lixo. O rebaixamento do rating reflete o contínuo enfraquecimento de liquidez, o aumento do já elevado risco de financiamento da companhia e as fortes pressões de pagamento da dívida corporativa no curto prazo.

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Telebras, Lupatech e Estrela: altas pontuais
Já a Telebras (TELB3, TELB4) apresentou esse movimento fora do comum apenas na segunda-feira: alta de 6,51% – fechando a R$ 3,27 – e volume forte. Na terça-feira, novamente uma sessão com volume forte, mas desta vez a cotação apresentou fraca oscilação – queda de 4,89%, para R$ 3,11. O volume forte seguiu na sessão seguinte e só se estabilizou na quinta, quando o papel fechou a R$ 3,03.

A estatal é conhecida por iniciar movimentos de alta esporádicos: sobe em algumas sessões com volume forte – geralmente quando o governo anuncia algo – e “volta a dormir”, passando várias sessões “parada” ou com queda. No ano, o movimento da companhia é negativo em 62,75%. Contactada pelo InfoMoney, a empresa não foi encontrada para prestar esclarecimentos sobre os movimentos. 

O caso da Estrela (ESTR4) também chamou a atenção, já que a empresa também não anunciou nada ao mercado: apenas lançou uma nova linha de brinquedos baseado no personagem Chaves, o que também não seria visto como um motivo para impulsionar as ações pelo mercado. A empresa apresentou alta de 6,67% no pregão de sexta, mas chegou a subir 18% no intraday, também com um volume muito acima da média, assim como a quantidade de negócios. Na segunda, alta de 3,13%, para R$ 0,33, mas com volume e número de negócios medianos – o que se seguiu nos próximos pregões. Procurada pelo InfoMoney, a Estrela não foi localizada para prestar esclarecimentos.

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Outra empresa que chama a atenção sem que nada público fosse divulgado é a Lupatech (LUPA3), a companhia teve ganhos de 20% em 4 dias, fechando a R$ 0,59 – em sessões marcadas por volume forte e número de negócios acima da média. A empresa, cujas ações também passaram por uma agressiva queda de 99% nos últimos anos, já foi obrigada a dar um calote em suas dívidas – e vive na expectativa do que pode acontecer em relação à sua situação, com planos de resgate sendo escritos, a ponto de que qualquer novidade pode significar o fortalecimento de uma empresa que tem sofrido bastante na bolsa. 

Tupy e Coteminas: queda sem motivo?
Se alguns papéis tiveram ganhos sem motivos, outros tiveram quedas também sem motivo aparente. Parece ser o caso de Tupy (TUPY3) e Coteminas (CTMN4), que tiveram pregões de queda que chamaram atenção. A primeira teve alta de 1,43% na segunda, com um volume de R$ 3 milhões e 80 negócios,  – bastante acima da média de R$ 43 mil e 8 negócios. Mas inverteu e caiu 12,20% na terça, após movimentar R$ 1,5 milhão. Na quarta, destaque: alta de 5,56%, aos R$ 19,00 – movimentando inacreditáveis R$ 120 milhões, mais de 666 vezes a mais. 

Já a Coteminas, que geralmente não é nem negociada diariamente na Bovespa – o que torna impossível o cálculo de uma média – enfrentou vários dias de grande negociação. Após 7 negócios no dia 22, as ações preferenciais tiveram 155 negócios no dia 23, 142 no dia 24, 109 no dia 25, 195 na sessão seguinte – a última daquela semana. O movimento continuou na segunda: 167 negócios, registrando 227 negócios na terça, “apenas” 94 negócios na quarta-feira e 285 na quinta. Nesse período, as ações acumularam perdas de 8,40%, terminando o último pregão aos R$ 2,29. 

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Quando os fundamentos são conhecidos: Cambuci, Agrenco e Gradiente
Outros três micos tiveram sessões movimentadas, mas com motivos conhecidos. A Cambuci (CAMB4), empresa de artigos esportivos fabricante das marcas Penalty e Stadium, anunciou a designação do novo presidente, que chega em meio a um movimento para aumentar a liquidez dos papéis e a governança corporativa. Com isso, as ações da empresa registraram 7 negócios na segunda e volume financeiro de R$ 22,12 mil – números a princípio baixos, mas bastante robustos em relação ao histórico recente da empresa na Bovespa. As ações fecharam cotadas a R$ 1,94, com valorização de 4,86%, mesma cotação de terça-feira, depois de 5 negócios. Na quarta, um único negócio levou a cotação para R$ 1,95 – que permaneceu na quinta, quando a companhia não foi negociada. 

Enquanto isso, a IGB Eletrônica (IGBR3), dona da Gradiente, anunciou sua nova versão do iPhone – marca disputada com a Apple -, modelo C600, que chegará ao mercado em outubro deste ano. As ações da IGB dispararam 11,41%, fechando a R$ 6,54. O volume financeiro foi de R$ 60,7 mil, obtido através de 34 negócios realizados – números levemente acima da média, de volume em R$ 57 mil e 30 negócios por dia. Contudo, o movimento foi visto com muito mais intensidade na terça-feira: 131 negócios movimentaram R$ 335 mil e fizeram a ação subir 17,74%, aos R$ 7,70. A alta deu trégua na quarta, com queda de 2,47% e continuaram na quinta, quando a valorização foi de 10,12%, aos R$ 8,27.

Por fim, a Agrenco (AGEN11) vem sofrendo sessões de grandes tensões, após os credores rejeitarem o plano de recuperação judicial da companhia, o que pode fazer com que a companhia precise declarar falência. Essa notícia fez com que a ação recuasse 69,23% na sexta-feira, com um volume de R$ 36 milhões. Na segunda, leve recuperação, com alta de 10%, antes de retomar o caminho das quedas com perdas de 22,73% na terça e um novo alívio na quarta, com ganhos de 11,76%, aos R$ 0,19 – cotação que continuou na quinta, quando os negócios foram abaixo da média. 

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Já as ações da Renar Maçãs (RNAR3) subiram 23,08% na quarta, a R$ 0,16, após a empresa anunciar a redução de 21,4% no total do seu endividamento junto ao banco – ou valor de aproximadamente R$ 11,6 milhões – e 13,3% do endividamento total da companhia. Os papéis RNAR3 também chamam a atenção pelo forte volume negociado, movimentando R$ 382 mil, montante acima dos R$ 41,17 mil atingidos na média diária dos últimos 21 dias. A quinta também teve volume forte, mas as ações não tiveram mudança em suas cotações. 

O que é um mico?
Em Bovespês, um mico é uma empresa pequena, de valor de mercado bastante reduzido e que seja bastante ilíquida, com algumas nem sendo negociadas todos os dias na Bovespa. Geralmente, mas não sempre, ela possui o valor cotado aos centavos e são empresas cujas ações passaram por variações negativas muito forte no passado. Esses fatores fazem com que esses papéis sejam extremamente voláteis, inclusive com as cotações suscetíveis a manipulações. A própria Bovespa pede para que as empresas não deixem que seus ativos tenham o valor em centavos – para impedir que essa volatilidade. Alguns casos mais famosos de “bolha” envolviam “micos”: é o caso da Mundial (MNDL3) em 2011, que subiu mais de 3.000% em 3 meses – antes de estourar e perder 99% de valor de mercado em 3 dias.