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Desde o início da corrida, temos dividido a disputa em duas: uma “vermelha”, em que Fernando Haddad e Ciro Gomes se debatem pelo espólio de Lula, e outra “azul”, em que Geraldo Alckmin, embalado pela estrutura partidária e pelo latifúndio na TV, briga para “tomar de volta” os votos de Jair Bolsonaro, retidos pelo apelo anti-establishment e anti-PT e pelo desgaste do PSDB.
Quanto a Marina Silva, não havia cenário em que tivesse relevante chance de vitória. Além da sabida falta de tempo de TV, estrutura e apoios, seus eleitores são pouco convictos, tendem a decidir seus votos muito em cima da eleição e têm -acima da média- a TV como principal meio que os influencia (dados da nossa pesquisa proprietária).
No lado azul, até semana passada, a dinâmica se postava como “Alckmin usará a TV para fazer crescer a rejeição a Jair Bolsonaro” para, em seguida, consolidar a imagem de que o deputado perderia a eleição para o PT, o que seria suficiente para recuperar o voto azul. Justiça seja feita ao marqueteiro de Alckmin, a tática estava de fato surtindo efeito – todos os principais institutos capturaram um crescimento na rejeição de Bolsonaro com poucos dias de propaganda na TV, e a sua clara fragilidade em uma disputa de segundo turno contra quem quer que seja seu adversário. Aliás, para quem duvidou que os fatores tradicionais seriam importantes nessa eleição, até o dia 5 de setembro, 79% dos eleitores disseram ter visto mensagens de candidatos na TV, 53% na internet, 31% no rádio e 27% no Whatsapp (XP-Ipespe Round 16).
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Mas o atentado a Jair Bolsonaro atingiu também a campanha de Alckmin. O ataque parou os tucanos por uma semana e fez os 9 segundos de propaganda do deputado se transformarem em 24 horas diárias de cobertura midiática, o que, por evidente, mudou a dinâmica das coisas. Por paradoxal que seja, as campanhas presidenciais no Brasil parecem ter o cisne negro como uma constante.
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O questionamento agora é se, no momento em que o ataque mais pesado voltar – provavelmente já este final de semana –, ele surtirá ou não o mesmo efeito. E, ainda que surja, é necessário notar que a distância entre os dois aumentou, e, mesmo que haja muito voto útil e que Bolsonaro devolva os eleitores que o efeito emocional lhe rendeu, Alckmin depende de algum nível de sorte/erro dos adversários para subir o quanto precisa para ir ao segundo turno, onde viraria favorito rapidamente. Está mais difícil a vida do tucano hoje que dez dias atrás, e o tempo está mais curto.
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Jair Bolsonaro, agredido e hospitalizado, aumentou seu teto. Alcançou os 20% na espontânea e pontua entre 23% e 26% na estimulada dos principais institutos. Mas não resolveu sua eleição neste fato, e a exploração política do ataque pelo lado bolsonarista tem sido pobre. A foto desde a UTI hospitalar fazendo gesto de metralhadora é a evidência visual de que o político do PSL perdeu o primeiro momento de se colocar como o estadista que não é. Esse tempo se esgotou totalmente? Não. Mas em poucos dias as coisas já começarão a ter cara de notícia velha, caso novas informações, especialmente ligadas ao atacante, ou alguma alteração considerável em seu quadro clínico não forem a público.
A soma do pífio aproveitamento do fato político gerado pelo ataque e da desorganização que virou sua campanha sem o “número 1” para coordenar os diferentes grupos rivais tem impedido um importante reposicionamento da campanha de Bolsonaro. Mas ainda assim ele tem um caminho claro para chegar ao segundo turno.
No lado vermelho, o candidato que assustou os adversários nos últimos dias foi Ciro Gomes. O susto não tem sua razão de ser, uma vez que era óbvio o crescimento de Ciro no vácuo do PT, assim como é grande a convicção de que ele devolverá votos a Fernando Haddad, o candidato de fato competitivo da centro-esquerda. Ciro, para ir ao segundo turno, precisa de um acidente na campanha petista, coisa que não temos visto. Ciro estará, de certa forma, para Haddad como Álvaro Dias está para Alckmin. Toma alguns votos regionais no mesmo perfil eleitoral mas não mete medo.
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Fernando Haddad é a novidade da semana. Depois da astúcia tática de Lula de manter sua candidatura até ser derrubado pelo judiciário, coisa que evitou que os votos do PT se espalhassem, Haddad agora passará a fazer campanha. Não é exagero dizer que, com o PT em campanha, as eleições começaram de fato.
Na ponta, no contato com o eleitorado mais pobre, o PT levará com força o nome de Fernando Haddad – mas aceita votos em “Andrade”, ou “Adauto”, ou como o eleitor quiser chamar o seu candidato, assim como aceitou os votos em “Vilma” em 2010. Ele vai crescer nas pesquisas das próximas semanas, e, se nada de anormal acontecer, estará no segundo turno, embalado por uma campanha publicitária tocada por marqueteiros que, até agora, tem feito um bom trabalho acertando o tom emocional e a leitura política da corrida.
Veremos movimentos de votos nos próximos dias. Haddad tende a crescer, se distanciando do “segundo pelotão” temporário em que hoje está ao lado de Alckmin, Ciro e Marina Silva. O movimento reforça nossa estrutura original, de duas disputas pelas vagas azul e vermelha, o que faz o caminho para Geraldo Alckmin ficar ainda mais difícil.
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Sua ida ao segundo turno não pode ser descartada, mas certamente está mais improvável. Sua campanha deve dobrar a aposta contra Bolsonaro e partir novamente para o ataque, mesmo com potencial de dar errado. Alckmin poderá ainda crescer, mas a principal aposta da XP Política hoje é um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).
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