Robôs não serão tão populares na Bovespa quanto nos EUA, diz CEO do Bloomberg Tradebook

Um dos principais motivos para a rápida expansão das negociações de alta frequência nos EUA é a fragmentação do mercado em 13 diferentes bolsas, o que cria oportunidades de arbitragem

João Sandrini

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(SÃO PAULO) – As negociações de alta frequência são consideradas o futuro do mercado financeiro. Nessas operações, gestores de recursos e investidores desenvolvem algoritmos capazes de identificar tendências e oportunidades de lucro no mercado. Na maioria das vezes, as ordens de compra e venda de ativos são disparadas eletronicamente, por computador, sem a interferência humana. Nas bolsas americanas, as negociações de alta frequência já representam mais da metade do volume total de transações.

No Brasil, entretanto, o mercado movido por robôs ainda está em amadurecimento. As operações de alta frequência representam 10,6% do volume de negócios da Bovespa e 5% no segmento BM&F. Ray Tierney, CEO mundial do Bloomberg Tradebook (a plataforma eletrônica para negociação de ativos da Bloomberg LP), explica que a principal razão para as transações com algoritmos não serem tão comuns é o fato de só haver uma bolsa no Brasil, a BM&FBovespa.

Ele afirma que uma das razões para os algoritmos terem sido inventados e depois terem se popularizado tão rapidamente nos EUA é a fragmentação das bolsas americanas. Com a desregulamentação promovida pelas autoridades a partir da década de 1990, o mercado se fragmentou de tal maneira que hoje existem nos EUA 13 bolsas e 40 “dark pools” – nome dado aos espaços de negociações de grandes blocos de ações entre investidores institucionais feitas fora do ambiente de bolsa.

Num ambiente com tantas plataformas para comprar e vender ativos, os algoritmos são importantes para que os investidores consigam encontrar o preço mais interessante em todos esses mercados. Os robôs também permitem que os investidores encontrem oportunidades de arbitragem entre bolsas, comprando um ativo em um lugar por um preço e o revendendo por um valor um pouco superior em outro mercado, quase que simultaneamente. “As negociações com algoritmos vão continuar avançando em todo mundo, mas não acho que o mercado brasileiro de bolsa vai parecer com o americano. A regulação é diferente aqui. Não haverá 13 bolsas no Brasil no futuro próximo”, afirmou Tierney ao InfoMoney.

Algumas grandes bolsas internacionais já manifestaram interesse em criar concorrentes para a BM&FBovespa no Brasil. Entre elas, estão a Bolsa de Nova York (Nyse), a BATS e a Direct Edge. Isso seria estimulante para dar mais liquidez ao mercado e para criar mais oportunidades de arbitragem. As bolsas estrangeiras, no entanto, ainda esbarram no problema da “clearing” no Brasil. Hoje a CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia), que pertence à BM&FBovespa, é a única responsável pela liquidação e custódia das transações com ações. O serviço poderia ser contratado por terceiros, mas a um custo elevado. E abrir uma nova “clearing” no Brasil poderia ser custoso e demorado. “Ter uma nova bolsa no Brasil ajudaria muito em termos de aumento de transparência e de custos de transação. Não vou dizer que 13 bolsas como nos EUA seria o ideal. Talvez nem lá haja espaço para tantas bolsas. O problema é que um monopólio ou um duopólio não serve para os clientes. Mais bolsas trariam mais liquidez, inovações e redução de custos. A competição obriga as empresas a serem mais inovadoras, o que favorece os investidores e as corretoras”, diz o CEO do Bloomberg Tradebook.

Como a tecnologia ajuda os investidores

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Ray Tierney conhece muito bem as características dos mercados financeiros e as plataformas de execução de ordens. Ele trabalhou por 30 anos como executivo de grandes corretoras e gestoras, como Morgan Stanley Investment Management, Paine Webber, First Boston e UBS Warburg. Hoje no comando do Bloomberg Tradebook, ele vende aos investidores soluções tecnológicas que permitem encontrar oportunidades de ganho nas bolsas e ferramentas para realizar essas transações com o custo mais baixo possível.

O Bloomberg Tradebook está interligado a mais de 100 bolsas e a centenas de corretoras em 41 países. Pela plataforma, investidores institucionais – como gestoras de fundos de investimento, fundos de pensão e bancos – podem enviar ordens de compra e venda de diferentes tipos de ativos – ações, contratos futuros, opções e moedas – em diferentes partes do mundo.

Os investidores podem fazer o mesmo pela própria corretora, mas há desvantagens competitivas em relação ao serviço da Bloomberg. Uma gestora de fundos que tem conta em diversas corretoras, por exemplo, precisa do Tradebook para passar ordens a diferentes instituições por uma única tela. Para os gestores profissionais, muitas vezes é importante usar corretoras diferentes para manter uma estratégia em sigilo. O investidor pode não querer que a corretora saiba que ele está montando uma operação “long and short”, vendendo ações da Petrobras e comprando Vale, por exemplo. Então cada uma das ordens é passada para uma corretora diferente, sem que a estratégia completa seja conhecida por quem faz a intermediação.

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A plataforma da Bloomberg também ajuda o gestor a distribuir a execução das ordens durante o dia. Alguém que deseja comprar 1 milhão de ações de Cesp pode distorcer as cotações se passar uma única ordem desse tamanho. Pela plataforma da Bloomberg, o investidor tem diversas opções para dividir essa ordem em várias, utilizando diferentes corretoras. A ferramenta mostra, inclusive, os horários em que o volume de negociações com ações da Cesp é maior, o que reduziria o impacto da entrada de volumosas ordens de compra. “Isso não faz diferença para comprar Vale ou Petrobras. Mas, para uma ação com liquidez menor, o Tradebook vai me dar 14 opções para executar a operação, e eu vou poder escolher a que acredito que levará a um custo menor de execução”, diz João Roriz, vice-presidente da BR Partners, banco de investimentos que usa a ferramenta. O sistema ainda permite customizações de forma que o gestor inclua os próprios algoritmos na plataforma.

Outra funcionalidade importante para gestores de fundo que fazem operações de arbitragem ou estratégias “long and short” é que a funcionalidade que impede que o investidor fique descasado. Se alguém planeja montar uma operação em que vai ficar comprado em dólar e vendido em euro proporcionalmente e usar o Tradebook para isso, o negócio só será fechado se houver condições de realizar as duas transações simultaneamente. Ao fazer isso manualmente, muitas vezes o investidor fica com a impressão de que é possível ficar comprado em dólar e vendido em euro por determinado preço porque os dois ativos estão disponíveis naquele momento. Só que, nos poucos segundos necessários para enviar as duas ordens, o “trader” perde a oportunidade de fechar uma das pontas da operação porque outro investidor foi mais rápido, ficando descasado – o software da Bloomberg minimiza esse risco.

Ray Tierney, do Bloomberg Tradebook, diz que os custos explícitos das transações no mercado – corretagem e emolumentos da bolsa – representam, em média, apenas 13% das despesas de execução dos negócios. Já os custos que não ficam aparentes representam os outros 87%. O Tradebook ajuda o investidor justamente a reduzir essa conta, preservando a rentabilidade do fundo.

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