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SÃO PAULO – Mais uma vez, o Brasil renovou o recorde mundial de fragmentação partidária no Legislativo. Isso significa que mais siglas estarão presentes no parlamento a partir do próximo ano e exigirão maior habilidade do presidente eleito na formação de maioria para governar. A partir de janeiro, serão 30 partidos representados na Câmara dos Deputados, cinco a mais que o quadro atual.
Se, por um lado, há quem comemore a maior taxa renovação dos últimos 20 anos, por outro, há quem questione o que realmente há de novo nas figuras escolhidas e manifeste preocupação com o grau de polarização a ser observado a partir de janeiro na casa.
Deste segundo grupo faz parte Tabata Amaral, um dos novos rostos da próxima legislatura. Aos 24 anos, a cientista política formada em Harvard foi a escolhida por 264.450 eleitores paulistas como sua representante pelos próximos quatro anos na Câmara, sendo a sexta mais votada no estado. Filha de um cobrador de ônibus e uma diarista, nascida na Vila Missionária, extremo sul de São Paulo, a jovem tem chamado atenção entre os novos congressistas.
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Co-fundadora do movimento Acredito e do Mapa Educação, ela se prepara para exercer o mandato defendendo a construção de consensos em pautas urgentes para o país, como a oferta de igualdade de oportunidades a partir da educação. Sua preocupação, contudo, é que o acirramento político comprometa o avanço desta e outras pautas.
“Vamos encontrar um Congresso muito dividido. As duas maiores bancadas – PT e PSL – estão em lados opostos desta polarização. Há muitas pessoas [eleitas] sem propostas, negando o outro lado e a política. Tenho muita preocupação que isso leve a uma paralisação, que a gente continue nesse fla-flu, mas que não se faça muito. Um trabalho muito grande que vou ter nos próximos quatro anos é o de dialogar com pessoas dos dois lados, mas também com a população”, afirmou em entrevista concedida à InfoMoneyTV (confira a íntegra no vídeo acima).
Para Tabata, o atual quadro político exige ainda mais sabedoria na avaliação das pautas corretas para serem apresentadas em cada momento. “Quando penso em quais são minhas pautas, vem um milhão de coisas na cabeça. Mas tenho que entender quais vão chegar no momento em que têm chances de virarem prioridade. Um desafio que tenho é sair da discussão rasa e polarizada, que é importante mas não muda quantos alunos aprendem a ler e escrever, e criar espaço para pautas que não têm esse glamour”, explicou.
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Nesse sentido, ela lista três prioridades para lutar logo no início de seu mandato parlamentar: 1) o financiamento da educação, com a aproximação do vencimento do Fundeb, em 2020; 2) a reforma do Ensino Médio; 3) a questão dos professores, em termos de formação, carreira, avaliação, desenvolvimento, salário.
“São três pautas que dá para enfrentar nesses dois primeiros anos, pelo menos porque alguém vai ter que falar sobre elas. E aí será uma batalha gigantesca para criar espaço para pautas que não estão na polarização, mas que são muito mais importantes do que as que estão”, avaliou a nova deputada.
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A parlamentar eleita espera desafios ainda maiores para esta agenda caso o favoritismo de Jair Bolsonaro (PSL) seja confirmado pelas urnas no próximo domingo (28). Para ela, além de ideias divergentes, as sinalizações do militar da reserva são de menor atenção à área.
“Me dei ao trabalho de ler a proposta de educação de Bolsonaro e fico muito triste e preocupada com o que vejo. Bolsonaro traz propostas muito polêmicas, com as quais sou contra em sua grande maioria, mas o que mais me preocupa é que, lendo o programa de governo fica muito evidente que a pauta de educação ou não é muito importante ou não há nenhum conhecimento sobre ela daquele lado”, criticou.
Quanto à questão da governabilidade, a cientista política eleita deputada federal vê riscos de um dilema se impor sobre a gestão Bolsonaro e teme pelos caminhos a serem seguidos. “Em um primeiro momento, Bolsonaro terá apoio da população, que vai permitir que ele vá sozinho, mas muito rapidamente entenderá que não tem como se descolar do Congresso. Aí é a hora da verdade, em que vamos entender se ele vai ser capaz de dialogar com quem pensa diferente e construir consenso ou se vai para uma linha cada vez mais autoritária, que é o que me preocupa”, observou.
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“Acho que nos primeiros meses vamos até ver o País melhorando um pouco, porque vão apostar na economia e [ele] vai ter a força da população, mas acho que em pouco tempo a falta de habilidade e a falta de diálogo vão levar a uma situação um pouco mais perigosa. É nesse momento que eu espero que ele tenha capacidade de dialogar com as pessoas e faça diferente do que Collor fez”, concluiu Tabata.
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