Custo para High Frequency Trading é proibitivo, afirmam especialistas

Prática deve fazer com que a bolsa perca volatilidade, mas preço para operar a modalidade ainda precisa recuar

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Embora ainda pouco expressiva, a prática do HFT (High Frequency Trading) deve alterar profundamente o cenário da bolsa brasileira em alguns anos. Menos volatilidade deverá ser experimentada no longo prazo, mas especialistas indicam que ainda existe um grande empecilho quanto aos custos, que pesam no bolso tanto dos investidores quanto das corretoras que prestam o serviço aos clientes.

Por enquanto, o lucro fica todo com a operadora da bolsa, a BM&FBovespa (BVMF3) que, por não ter concorrentes, tem mais poder de determinar os preços. Talvez, porém, essa não fosse a melhor opção para a bolsa. “Acredito ser interessante rever o modelo de alta frequência, diminuindo o custo para esse tipo de operação, o que a tornaria mais popular”, aponta Juliano Carneiro, professor do Portal Juliano Carneiro. 

Custos
Na hora de automatizar suas operações, o investidor encontra um problema. Embora com boas opções de software atualmente, os altos custos da bolsa nacional são um entrave para muitos – mesmo aqueles que possuem um trading system estatisticamente comprovado. “Se os cálculos dos custos não forem bem feitos, corre-se o risco de ter uma estratégia com alto índice de acerto, mas que não dá lucro”, diz o professor. 

E os altos gastos de emolumentos e liquidação cobrados pela bolsa refletem nas operações. Além disso, sistemas que utilizam técnicas de escalpelamento dependem do cálculo de lotes no livro de ofertas, enquanto aqueles sistemas que necessitam de muitos cancelamentos de ordens acabam tendo um custo adicional. Isso ocorre pois a BM&FBovespa tarifa a corretora que faz essas operações e limita o número de ordens canceladas no mês.

E não é só isso que afeta os custos de corretoras, já que muitas vezes elas precisam alocar seus servidores na própria sede da bolsa, no centro da cidade de São Paulo. “A gente busca diminuir a latência, é importante não ter delay. Para a corretora, isso ainda é bastante caro”, diz Leandro Martins, analista-chefe da Walpires Corretora. 

HFT deve modificar cara da bolsa
Os investidores que tem disposição de investir o suficiente para diluir os custos devem então definir em sua estratégia quais ativos serão negociados pelo computador. “Quanto maior liquidez, melhor. O risco de que ocorra uma reversão dentro da estratégia do investidor torna-se menor”, afirma Martins. Geralmente, ativos de maior liquidez respondem de maneira mais previsível, já que ordens individuais passam a importar muito pouco, o que é importante para os desejosos em automatizar operações.

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Com o aumento das negociações por conta do HFT, é provável que a liquidez aumente no mercado brasileiro, estabilizando o nosso ambiente bursátil, atualmente mais volátil que outros mercados mais maduros. “Costumo brincar que o futuro das operações é a alta frequência, pois experimentaremos em 20 anos um mercado tão líquido que se movimentará pouco e o investidor irá buscar alguns centavos de lucro somente”, ressalta Carneiro. 

Martins, contudo, não concorda com essa visão. “Há outras estratégias na bolsa também, como gestores que tentam jogar o preço para cima ou para baixo. Nos EUA, o mercado é menos volátil já faz um tempo, mas isso diminuiu bastante isso nos últimos três ou quatro anos”, finaliza o analista. Seja como for, é muito possível que o futuro da bolsa brasileira esteja associado aos robôs, que se tornam cada vez mais populares.