Publicidade
SÃO PAULO – As companhias ligadas ao setor de energia elétrica são citadas como empresas com perfil mais defensivo e reconhecidamente boas pagadoras de dividendos. Contudo, algumas delas vêm sendo lembradas no noticiário pelo alto endividamento e, em consequência disso, pela necessidade de intervenção do Governo em seus ativos, a fim buscar o reestabelecimento financeiro.
Estes são os casos da Celg D (CPAR3) e Celpa (CELP5), sendo que a segunda faz parte do Grupo Energia, parte de uma rede que forma uma das maiores empresas privadas do setor de energia, que atende 37% do território nacional e está presente em 578 municípios de sete diferentes estados.
Em relação à Celg, o seu alto endividamento resultou na interferência da Eletrobras (ELET3, ELET6), que depois de uma longa discussão iniciada em 2010, anunciou no dia 16 de janeiro deste ano a compra de 51% das ações com direito a voto da Celg, com o objetivo de recuperar a empresa. A operação deu à estatal o direto de assumir o controle acionário controle acionário da companhia.
Já no caso da Celpa, empresa responsável por 143 municípios e 1,6 milhão de consumidores no Norte do país, as discussões sobre a interferência ou não da estatal nos ativos ganharam foco desde que a empresa entrou com pedido de recuperação judicial no dia 28 de fevereiro. A Celpa tem um prazo de 60 dias, contados a partir da aprovação do pedido de recuperação que ocorreu no dia 1º de março, para apresentar um plano de recuperação, que está em negociação com os credores. Depois disso, há um período de 180 dias para negociação das dívidas. Caso não haja acordo, a empresa é declarada falida.
Culpa de quem?
A concessionária atribui à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) os seus problemas financeiros, alegando que as regras adotadas pela agência resultaram no aumento do endividamento, que atualmente gira em torno de R$ 2 bilhões. Entre os motivos apontados pela concessionária está a alteração das regras no processo de revisão tarifária, que poderia reduzir as expectativas de retorno da empresa.
O presidente da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica), Nelson Fonseca Leite, concorda que apesar de a dívida da companhia já existir antes da decisão da mudança na revisão tarifária, a possível redução do fluxo de caixa em decorrência da metodologia utilizada para este cálculo acentuou o seu endividamento.
Continua depois da publicidade
“Ainda não houve uma redução do fluxo de caixa porque a metodologia aprovada ainda não foi aplicada. Mas só de sinalizar que iria reduzir o fluxo, sinaliza que as distribuidoras vão ter menos dinheiro para pagar as suas obrigações, o que aumenta o risco daquelas que já estavam endividas”, afirma Leite.
Interferência da Eletrobras seria negativo
A dificuldade dessas companhias de honrar os seus compromissos financeiros tem envolvido ainda os recentes rumores de interferência da Eletrobras nos ativos dessas empresas, a fim de evitar que entram em falência definitiva. Depois de assumir o controle acionário da Celg, o CEO (Chief Executive Officer) da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, afirmou que pode ser necessário um resgate à Celpa, na qual a estatal atualmente possui uma participação de 34%.
Em complemento, no dia 1º de março, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que o governo poderá intervir na Celpa, de modo a garantir a continuidade da prestação de serviços da companhia. “Não estamos cogitando fazer isso agora, mas pode vir a ocorrer exclusivamente para garantir o serviço, porque se trata de uma empresa privada que tem que gerir o seu próprio destino”, afirmou Lobão na ocasião.
Continua depois da publicidade
No entanto, tal intervenção não foi bem vista pelos alguns agentes do mercado. Os analistas do Barclays Capital, Francisco Navarette, Tatiane Shibata e Giovanna Siracusa, afirmam que qualquer movimento para resgatar a Celpa ou a Rede seria negativa para a estatal. “O acionistas controladores da Rede decidiram vender a empresa em outras ocasiões, mas aparentemente o preço pedido fez alguns players, como AES e China State Grid desistiram dos ativos”, lembram em relatório.
Já o Bank of America Merrill Lynch avalia como improvável a aquisição da Celpa pela Eletrobras. Para os analistas Felipe leal, Diego Moreno e Ariel Simis, apesar dos comentários de que a Eletrobras pode ajudar a Celpa é mais provável que o governo brasileiro exija uma reestruturação da dívida e do potencial conversão de dívida em capital, processo semelhante com o que ocorreu posteriormente com a Cemar, distribuidora de energia do Maranhão.
Privatizada em 2000, a Cemar passou por problemas financeiros até a Aneel decretar intervenção em 2002. A própria agência coordenou o processo de alienação da empresa, que é controlada pela Equatorial Energia.
Continua depois da publicidade
Do endividamento aos cortes de ratings
O alto endividamento dessas empresas tem resultado ainda no aumento do receio por parte das agências de classificação de risco sobre a capacidade de honrarem os seus compromissos financeiros, podendo afetar a saúde financeira do próprio Grupo.
Com isso, a Fitch Rating rebaixou no dia 9 de março o IDRs da Rede Energia (REDE4) de “CCC” para “C”. Na avaliação, a agência de risco considerou os efeitos esperados para a Rede Energia e para a Cemat em relação ao pedido de recuperação judicial da Celpa.
A Celpa, por sua vez, teve a nota rebaixada pelas agências de classificação de risco Moody’s, Fitch Rating e Standard & Poor’s na sequência do pedido de sua recuperação judicial. Entre os motivos apontados pela corretora, o pedido vai resultar na suspensão do pagamento de parte ou toda a dívida da Celpa e em uma demorada renegociação dos débitos.