Vale e Ambev perdem R$ 15 bi em valor e small cap sobe 26% “sem motivo”

Anhanguera dispara 6% após após prévia operacional e Gol chega a 15% de valorização em cinco pregões

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – A temporada de resultados e o noticiário corporativo foram os grandes destaques na sessão desta quarta-feira (30), principalmente com duas blue chips, Vale (VALE3; VALE5) e Ambev (ABEV3), que caíram forte e pressionaram a Bolsa para o negativo. Na ponta positiva, a Anhanguera (AEDU3) chamou atenção com alta de 6,48%, a R$ 13,80. No total, foram 11 das 72 ações do Ibovespa com queda de mais de 2%, enquanto 8 papéis subiram mais de 2%.

A mineradora refletiu nesta sessão o resultado do primeiro trimestre, onde mostrou um lucro líquido de R$ 5,909 bilhões, excluindo os efeitos líquidos de variações cambiais e de marcação a mercado das debêntures participativas. Este número representa uma queda de 4,7% frente o primeiro trimestre de 2013. “Os números foram aparentemente bem ruins e aquém do esperado que devem fazer o papel pesar hoje”, disse a equipe de análise da XP em relatório. A corretora aproveitou para destacar 3 pontos do balanço que acabaram pesando, como o baixo volume de vendas, o preço do minério e o Ebitda em queda.

Em teleconferência, o presidente da companhia, Murilo Ferreira, destacou a redução de custos com produção de minério de ferro a partir do aumento da produção, permitindo a diluição dos gastos. Entre outros destaques, o executivo ainda citou a China – onde espera-se um aumento das vendas – e citou 4 motivos para a queda de investimentos da companhia.

Os papéis ordinários da Vale fecharam com queda de 1,28%, a R$ 29,40, enquanto os preferenciais recuaram 1,16%, para R$ 26,42. Com essa desvalorização, a mineradora perdeu, apenas nesta sessão R$ 1,891 bilhão em valor de mercado. O movimento da companhia puxou os papéis da Bradespar (BRAP4, R$ 19,30, -2,13%) e CSN (CSNA3, R$ 8,56, -2,62%). A Bradespar é a holding que detém participação no capital da Vale, enquanto a CSN possui forte participação no mercado de minério.

Ambev
Enquanto isso, a Ambev (ABEV3) teve seu pior pregão na Bovespa desde 2008, recuando 5,01%, cotada a R$ 16,30. Pesou para a companhia nesta manhã a notícia de que o governo do Brasil irá aumentar novamente a tributação da cerveja e refrigerante no País – este é o 2º aumento na carga tributária do setor de bebidas frias em menos de um mês e deve impactar em 1,3% o preço final dos produtos. Com a queda de hoje, a Ambev perdeu R$ 13,472 bilhões em valor de mercado.

O secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto, informou que, a partir de 1º de junho, serão corrigidas as tabelas de preços que servem como base para a incidência do IPI e do PIS/Cofins. Segundo ele, a medida resultará numa arrecadação adicional de R$ 1,5 bi este ano e valerá para cervejas, refrigerantes, refrescos, isotônicos e energéticos.

Continua depois da publicidade

Os técnicos da equipe econômica admitiram que a medida não estava no radar nesse momento. No entanto, diante das dificuldades de caixa da União e contando com o fato de que as vendas de bebidas devem subir durante a Copa do Mundo, que começa no dia 12 de junho, ela acabou saindo do papel.

Anhanguera
Liderando com facilidade os ganhos do Ibovespa, as ações da Anhanguera (AEDU3; R$ 13,80; +6,48%) foram as únicas com alta de mais de 4%. O desempenho ocorre após a empresa divulgar a prévia operacional do primeiro trimestre de 2014. Nos três primeiros meses do ano, a empresa apresentou um lucro líquido de R$ 99,4 milhões, valor 18% maior do que o mesmo período no ano anterior. Além disso, a empresa teve um aumento de 20,3% no Ebitda, que atingiu R$ 152,3 milhões neste trimestre.

Lojas Renner
Refletindo o resultado do primeiro trimestre, os papéis da Lojas Renner (LREN3) fecharam com alta de 1,78%, a R$ 65,60, após chegarem a se valorizar 3,55% na máxima do dia. A companhia viu seu lucro líquido passar de R$ 21,6 milhões um ano antes para R$ 50,9 milhões, uma alta de 135,6%, o que segundo a companhia foi favorecido pelas melhores margens apresentadas, não obstante as maiores despesas com depreciações no período.

Continua depois da publicidade

Enquanto isso, a receita líquida das vendas de mercadorias registrou avanço de 12,1%, passando de R$ 726,7 milhões no primeiro trimestre de 2013, para os atuais R$ 814,5 milhões. Já o crescimento de vendas de mesmas lojas (estabelecimentos abertos há mais de 12 meses) saltou de 5,4% para 9,4%. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) subiu 50,1%, para R$ 135 milhões.

Os ganhos da companhia diminuíram após a teleconferência, onde o diretor financeiro da Renner, Laurence Gomes, reiterou que as margens em 2014 devem ficar estáveis em relação ao ano passado, mesmo diante de um cenário ainda nebuloso para o segundo trimestre. O período traz uma série de incertezas para o varejo como um todo em relação ao número de feriados e impactos da Copa do Mundo no fluxo de clientes nas lojas. “Estamos preparados para um ritmo menor de vendas”, disse.

Gol
A Gol (GOLL4) chegou a sua quarta alta em 5 pregões, com ganhos que chegam a 15% no período. Apenas nesta sessão, a companhia viu suas ações subirem 2,81%, cotadas a R$ 14,29. Desde a última semana, os papéis da empresa têm registrado fortes ganhos com notícias positivas de demanda de voos domésticos no Brasil, que impulsionaram os resultados operacionais da companhia no 1º trimestre.

Continua depois da publicidade

Apesar da alta e das notícias, a companhia anunciou na noite de segunda-feira uma perda financeira de R$ 75,9 milhões por conta dos problemas enfrentados na Venezuela. Segundo comunicado, a Gol reconhecerá em seus resultados do primeiro trimestre uma despesa financeira R$ 75,9 milhões, devido a mudanças do câmbio na Venezuela. O caixa da companhia aérea mantido naquele país totalizava R$ 350,3 milhões ao final de março, disse a empresa em comunicado, acrescentando que planeja repatriar o saldo remanescente de caixa.

BRF
A BRF (BRFS3) viu seus papéis subirem 1,00%, a R$ 50,50 após a companhia registrar lucro de R$ 315 milhões no primeiro trimestre, queda de 12% ante um atrás e abaixo da expectativa do mercado, impactado por despesas operacionais não recorrentes do plano de reestruturação em curso na empresa.

“Tal resultado foi em decorrência do aumento das despesas operacionais, principalmente em marketing e trade marketing, outras despesas operacionais advindas do plano de reestruturação e do aumento das (despesas) financeiras liquidas em comparação ao mesmo período do ano anterior”, disse a empresa em comunicado.

Continua depois da publicidade

Apesar dos números não mostrarem tanta evolução, o analista William Alves, da XP Investimentos, destaca que o cenário da companhia tem mostrado grande melhora. Segundo ele, diante dos dados apresentados, a afirmação de Abilio Diniz de que a companhia deve se tornar um benchmark mundial do setor não parece impossível. “Apesar dos números não animarem tanto, o balanço foi muito positivo e acredito que a teleconferência amanhã será bastante animadora”, afirmou.

Pão de Açúcar
O lucro líquido do Grupo Pão de Açúcar (PCAR4) cresceu cerca de 23% no primeiro trimestre na comparação anual, impulsionado pela expansão orgânica e melhora das despesas. A maior varejista do Brasil, controlada pelo grupo francês Casino, teve lucro de R$ 338 milhões entre janeiro e março, ante R$ 275 milhões um ano antes. Com isso, os papéis da companhia fecharam com alta de 0,29%, para R$ 105,50.

Considerando o segmento de móveis e eletrodomésticos e a divisão de comércio eletrônico, que inclui Via Varejo (VVAR3) e a Nova Pontocom, o lucro líquido foi de R$ 167 milhões, alta de 67,8%. Na véspera, a Via Varejo divulgou lucro líquido de R$ 179 milhões. A companhia anunciou em meados de abril aumento de dois dígitos nas vendas líquidas, que atingiram R$ 14,97 bilhões no período. O avanço foi baseado na inauguração de 124 lojas nos últimos 12 meses, sendo 21 no primeiro trimestre.

Continua depois da publicidade

Embraer
Já a Embraer (EMBR3) caiu 0,05%, a R$ 19,28 mesmo após registrar um lucro líquido de R$ 258,7 milhões no primeiro trimestre deste ano, um aumento de mais de quatro vezes ante igual período de 2013. O Ebitda totalizou R$ 354,7 milhões nos três primeiros meses de 2014.

Segundo a Embraer, aumentos na receita ajudaram a compensar um mix de produtos menos favorável na aviação comercial e também o efeito do aumento de 8% nos salários em relação ao primeiro trimestre de 2013. Nos três primeiros meses deste ano, a fabricante brasileira entregou a menor quantidade trimestral de jatos comerciais em pelo menos cinco anos, 14 aeronaves, abaixo das 17 unidades entregues um ano antes. Já na área de aviação executiva as entregas subiram para 20 jatos, ante 12 um ano atrás.

Totvs
Fora do Ibovespa, as ações da Totvs (TOTS3; R$ 36,41; +3,00%) registraram forte alta após a empresa apresentar bom balanço operacional no primeiro trimestre. No período, a companhia teve um crescimento de 15,4% na receita líquida, que atingiu R$ 431,9 milhões, em relação ao mesmo período do ano anterior. O lucro líquido somou R$ 61,6 milhões, alta de 18,7% na mesma base comparativa.

“A Totvs registrou mais um trimestre com resultados consistentes e em crescimento”, elogia a Planner em relatório. Os analistas da corretora seguem com recomendação de compra para os papéis da empresa, projetando um preço-alvo de R$ 47,00 – patamar 33% superior ao fechamento de ontem.

Santos Brasil  
Por outro lado, a Santos Brasil (STBP11; R$ 17,87; -1,00%) registrou queda após divulgar o resultado do primeiro trimestre do ano, período no qual ela reportou uma diminuição de 20,7% na receita líquida em relação aos três primeiros de 2013, atingindo R$ 280,1 milhões. Já o Ebitda caiu 42,1%, para R$ 90,2 milhões, enquanto a expectativa dos analistas era de algo em torno de R$ 104 milhões.

“O cenário difícil que a empresa enfrenta continua”, diz a equipe de análise da XP, que atribui como um dos agravantes do resultado o desempenho ruim do Tecon Santos, principal ativo da empresa, que está sofrendo forte concorrência com os novos terminais privados em Santos, gerando queda brusca nos volumes e preços praticados pela empresa. “A tendência é que esse cenário se prolongue e que a empresa tenha que se contentar com o novo patamar de competição e resultados daqui para frente”, finaliza a corretora.

Profarma
Fora do Ibovespa, as ações da Profarma (PFRM3) disparam 25,88%, a R$ 17,80. Analistas não souberam justificar o movimento da companhia nesta sessão, enquanto o RI da empresa afirmou que não divulgou nenhum comunicado ou fato relevante e também não explicou a forte alta.

As ações da companhia vêm de fortes quedas desde que ela divulgou seu resultado de 2013, no dia 28 de março. A companhia reverteu o lucro de 2012 para um prejuízo de R$ 4,6 milhões. Na época, os papéis da companhia eram cotados a R$ 18,93, e desde então a queda chegou a 25,30% até o último pregão, quando as ações fecharam a R$ 14,14.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.