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SÃO PAULO – Entre os casos de investimento mais conhecidos e bem sucedidos, o de George Soros vai contra algumas práticas tradicionais dos mercados.
A série Personagens do Mercado desta vez revela as facetas por trás do bilionário húngaro que popularizou o termo especulador, do homem que quebrou o banco da Inglaterra.
A história de Soros começa na luta de sua família para fugir da ocupação nazista na Hungria, que acabou o levando a Londres, onde se graduou pela famosa London School of Economics. Sua habilidade como administrador passou a se destacar pelos retornos consideráveis que obtinha no mercado, sempre sob a ótica do risco.
Distante de ideias mais tradicionais de investimento, que colocavam Warren Buffett e seguidores do value investing entre as grandes fortunas do mundo, Soros apostava nas brechas do mercado, no risco, em retornos mais imediatos. “Não há nada errado em correr riscos, desde que não se arrisque tudo”, certa vez ponderou.
Quando se juntou ao operador de Wall Street Jim Rogers, em 1969, fundou o Quantum Fund. O primeiro case de sucesso do fundo foi apostando contra o mercado. Todos acreditavam que a companhia Mortgage Guaranty Insurance Corporation iria falir; mas sobreviveu, e rendeu uma fortuna ao Quantum.
A partir daí, o fundo de Soros e Rogers aparecia como um dos mais famosos do mundo, com rendimento anual em torno de 30% por um período de 30 anos.
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O homem que quebrou o Banco da Inglaterra
Mas a grande tacada de Soros viria somente em 1992, mais uma vez com uma aposta contra o mercado. O governo inglês prometeu manter a libra esterlina em patamares supervalorizados diante de altas taxas de desemprego locais e do desenvolvimento do programa de unificação da moeda europeia. Soros julgava que a moeda estava vulnerável, e o governo não conseguiria manter sua promessa.
Pela teimosia do Tesouro britânico em sustentar os patamares da libra esterlina, a pressão era por taxas de juro mais elevadas e a situação macroeconômica do país começou a se complicar. Contra a promessa do governo, Soros investiu cerca de US$ 10 bilhões, obtidos em empréstimos de curto prazo, na insustentabilidade da moeda. A aposta o rendeu US$ 1,1 bilhão de lucro em apenas um dia, além de notoriedade como ícone do mercado na época.
Mercados não-eficientes
As operações de Soros sempre questionavam teorias conhecidas como a hipótese de eficiência dos mercados, que levou Eugene Fama e Kenneth French à proposição de racionalidade dos mercados, em que todas as informações estão incorporadas nos preços, fator que torna os movimentos de curto prazo meramente aleatórios e o investimento de longo prazo a saída mais sensata.
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“Fiz minha fortuna compreendendo situações ´distantes do equilíbrio´ melhor que a maioria dos outros participantes do mercado”, defendeu o investidor húngaro. Soros passou 50 anos estudando os ciclos e bolhas dos mercados, sempre obtendo retornos expressivos, para formular sua teoria própria.
Teoria da Reflexividade
Grosso modo, reflexividade remete a reflexo, à relação que uma ação tem consigo mesma. De acordo com a teoria de Soros, os desequilíbrios do mercado levam os agentes a iniciativas que ampliam essa situação de desequilíbrio.
A despeito da hipótese de mercados eficientes, que os agentes têm acesso às informações e tomam suas decisões da melhor forma possível a partir delas, a Teoria da Reflexividade aponta que os agentes do mercado, por terem conhecimento imperfeito, adicionam suas incertezas, expectativas e suposições nos preços. Apesar dos resultados de Soros, sua teoria nunca foi levada muito a sério no meio econômico.
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O investimento de uma vida
Por seus estudos de desequilíbrios, a recente crise dos mercados apareceu para Soros como mais uma grande oportunidade, tanto que deixou sua aposentadoria para retornar aos investimentos; diga-se de passagem, com saldo positivo em 2008.
No início de 2009, o balanço de seu fundo apontou que Soros vinha elevando sua participação na estatal brasileira Petrobras, que chegava a mais de US$ 900 milhões em ADRs (American Depositary Receipts) da petrolífera no final de 2008.
Em seu livro “The New Paradigm for Financial Markets”, apontou a China como a maior oportunidade de investimento que viu em sua carreira, após visitar o país asiático em 2005. Para Soros, investir no potencial de crescimento do gigante asiático e na lucratividade da privatização de algumas estatais do país é a “oportunidade de uma vida inteira”.
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As atuações mais recentes de Soros descolam um pouco de seu antigo apetite por risco, relacionando um caráter um pouco mais conservador do mega-investidor. Alguns creditam esta postura a sua idade.
Para mudar a imagem
Por suas atuações na maioria das vezes apontarem para o curto prazo, o risco, as iniciativas questionáveis para a sociedade, Soros sempre defendeu o rótulo de especulador. Para mudar sua imagem, injetou bilhões de dólares em filantropia, o que inclui um instituto para estudantes negros na África do Sul durante o Apartheid e uma organização que sustenta atividades em mais de 50 países.
Como uma vez ironizou: “Eu não gosto de ganhar dinheiro, mas sou bom nisso”.
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