Queda de 4% do dólar neste começo de ano não é toda pelo “efeito Bolsonaro”, diz analista

Para Sidnei Moura Nehme, momento é de correção após moeda subir forte no fim de 2018

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Os primeiros dias do governo de Jair Bolsonaro foram marcados por uma grande euforia no mercado brasileiro, com a bolsa disparando 4,5% e o dólar desabando 4,1% em apenas três dias. Apesar de muitas pessoas creditarem este movimento a um otimismo com o novo presidente, pelo menos no câmbio, nem toda a queda ocorreu por isso.

Segundo o diretor executivo da NGO Corretora, Sidnei Moura Nehme, alguns fatores não permitem se creditar a um eventual “efeito Bolsonaro” a queda do dólar de R$ 3,87 no fim do ano passado para os atuais R$ 3,71.

Ele afirma que a forte demanda do mercado à vista já era esperada e a atuação “retardatária” do Banco Central não justifica a disparada da moeda em dezembro e são esses outros fatores que ajudam a entender uma correção neste momento.

“Numa leitura subjetiva é possível admitir-se um movimento ordenado pelos bancos, para o que contribuiu a inércia do BC na oferta da liquidez, de forma estratégica e previdente, buscando, ante um cenário incerto com a posse do novo governo, provocar uma Ptax mais elevada para aplicação em seus balanços, assim compreendendo todos os seus posicionamentos no vários segmentos do mercado cambial”, explica Nehme.

A Ptax é uma taxa de referência utilizada para contratos envolvendo negócios em dólar, que vão desde acordos entre empresas, definição do dólar turismo e até contratos futuros da moeda. Todo fim de mês ocorre uma “briga” no mercado para que estes players consigam uma taxa mais vantajosa, já que o valor definido será o usado para os contratos do próximo mês.

Nehme explica que houve um movimento mais defensivo do mercado no fim de dezembro, justificado pela mudança de governo e todas as incertezas que isso traz para os investidores.

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Voltando ao movimento guiado pelos bancos, o especialista afirma que “estrategicamente o preço da Ptax em torno de R$ 3,87 era defensiva quanto a este risco, ao reduzir a intensidade da apuração de resultados, em especial nas posições vendidas detidas pelos bancos em grande volume no mercado futuro de dólar”.

Diante disso, Nehme reforça que a queda do dólar não é crédito do “efeito Bolsonaro”, parecendo “enganosa” este movimento de início de ano. Ele explica que o cenário praticamente não mudou nestas últimas semanas, sendo que há um otimismo com o novo governo, ao mesmo tempo que o exterior ainda traz cautela, em especial nos Estados Unidos e as sinalizações do Federal Reserve.

O analistas conclui dizendo que o cenário é positivo no mercado, mas que é preciso ter cautela e eventos mais concretos precisam ocorrer para que a alta da bolsa e queda do dólar sejam realmente consolidadas.

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“Tanto no câmbio, até mesmo na Bovespa, o viés é favorável, mas sem sustentabilidade nos movimentos havidos nestes primeiros dias, não se descartando que haja volatilidade. O momento é de ajustes e para tanto é necessário que haja um quadro melhor definido em termos concretos, tanto aqui como no exterior”, conclui Nehme.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.