EXCLUSIVO: fundo mais lucrativo do Brasil explica por que o Ibovespa pode subir 1.000% nos próximos anos

Luiz Alves Paes de Barros, Henrique Bredda e Ney Miyamoto, da Alaska Asset, explicaram por que seguem tão otimistas com o Brasil

Thiago Salomão

SÃO PAULO – “A conclusão que temos é: nunca haverá um grupo de indicadores irrefutáveis que te darão certeza absoluta que a bolsa vai subir. Mas estar com alguém que já cruzou essa ponte algumas vezes nos dá mais confiança”.

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As palavras finais ditas pelo time da Alaska Asset após 4 horas e meia de entrevista na sede do InfoMoney sintetiza bem a tese de investimentos otimista da gestora que mais ganhou dinheiro em ações no Brasil nos últimos dois anos.

A frase foi dita por Henrique Bredda, gestor do fundo Alaska Black FIC FIA – BDR Nível I, que rendeu 129,2% em 2016 e 74,6% em 2017 (do início de 2016 até este final de março, +352% de rentabilidade contra +95% do Ibovespa).

Junto com ele estava seu parceiro de fundação do Alaska, Ney Miyamoto e o tal “alguém” que ele se refere na frase anterior, que é ninguém menos que Luiz Alves Paes de Barros, uma das mais lendárias figuras do mercado acionário brasileiro e que carregou por muito tempo o apelido de “bilionário anônimo”, termo que logo cairá em desuso tendo em vista o grande sucesso que o fundo alcançou frente ao varejo brasileiro e que tornou estes personagens muito mais “populares” – embora o “LAPB”, como costuma ser chamado, ainda siga avesso a aparições em fotos ou vídeos: “é por questão de segurança mesmo. Estamos no Brasil”, justifica (por isso mesmo a imagem que ilustra a matéria mostra as montanhas do Alasca).

Durante a conversa, o trio mostrou através dos ciclos de mercado porque o Ibovespa em dólar (que é a simples divisão do Ibovespa “em reais” pela taxa de câmbio) tem potencial subir até 1.000% até o final deste ciclo – que podem durar até 8 anos – e explicam isso de maneira quase que lúdica, relacionando ciclos do mercado a um circuito de “Fórmula 1” e usando indicadores quase que anedóticos como “qual resposta você ouve de um candidato a estagiário na sua gestora?”. 

Luiz Alves, Bredda e Miyamoto ainda abriram ao InfoMoney a carteira de ações do fundo para explicar como a diversificação de um portfólio é vital não só para mitigar riscos mas principalmente para construir um resultado diferenciado. Ao final da entrevista, já no elevador a caminho da saída da redação, uma frase reveladora do LAPB que certamente tranquilizará seus cotistas.

Concorde você ou não com a visão da Alaska, o fato é que para alcançar resultados extraordinários é preciso esforços extraordinários: “risco” e “retorno” andam sempre de mãos dadas no mercado, e isso ajuda a explicar por que em meio a ganhos tão gordos a cota do fundo derreteu 30% no dia 18 de maio de 2017 (o “Joesley Day”, quando o Ibovespa caiu 8,8%).

“Antes de conhecer o fundo, o cliente tem que se conhecer, tem que saber seus limites estomacais. (…) Se a pessoa não se conhecer, não funciona, ela vai pedir pra descer do carro no pior momento”, explica Bredda. Após esses ganhos de 350% em 27 meses, o mercado deve começar a dar o benefício da dúvida para o time de gestores.

Confira abaixo os melhores momentos desta longa conversa, dividida em tópicos para facilitar a leitura. Aos que quiserem se tornar cotista do fundo e tenham entendido que ele possui um risco bem acima da média (que na prática significa “coloque aquele capital destinado para aplicações apimentadas”), o Alaska Black FIC FIA – BDR Nível I está disponível para aplicação na plataforma da XP Investimentos – aos que não forem clientes, clique aqui e abra sua conta: é de graça!.

Mercado de ações e Fórmula 1: muito mais semelhanças do que você imagina
Sempre que vamos falar de bolsa, as pessoas começam a fazer perguntas desgovernadas do tipo: “mas e o lucro das empresas? E o PIB do Brasil? Bolsa já não está cara? E o Temer? Você acha que vai ter reforma?”. São todas perguntas de curto prazo. O que a gente faz nessas horas? Se afasta e vê mais do alto o que está acontecendo. É aí que você percebe que são ciclos acontecendo o tempo todo no mercado.

E quando olhamos com um pouco mais de cuidado, vemos que tudo não passa de um circuito de corrida, onde há períodos de reta em que você “pisa no talo” e períodos de curva, onde não tem o que ser feito. Vimos uma “curva” se iniciar em 2013, e aí não tinha nada para ser feito em 2014, 2015, até que em 2016 surge uma nova reta. A analogia é perfeita, você pode olhar na história do Ibovespa, têm períodos de reta, um contratempo ali, uma reta de novo… Você consegue até pensar mais no assunto e fazer estratégias para pisar no acelerador no “bull market” e tirar o pé e não fazer nada quando chegar na recessão.

Sobre tirar o pé: na Fórmula 1, as zonas de frenagem são antes da curva, e não na hora de virar o carro. Isso me lembra 2016, quando o dólar foi pra R$ 4,00 e o Ibovespa caiu pra 40.000 pontos e todo mundo começou a mandar dinheiro para os EUA. Não é assim, você tem que frear antes, depois já era, não tem o que fazer. Ou você antevê e freada ou não faz nada, agir depois é besteira.

A mesma coisa nas zonas de aceleração: para quem está sentindo cada centímetro da pista pela primeira vez, nunca passou por um mercado mercado assim, já começa a achar que vai dar problema a qualquer pedaço de pista virada. Agora, quem já passou por aqui e já deu milhares de voltas sabe que não é pra tirar o pé de jeito nenhum, é uma “curva de alta”. Pra quem está andando pela primeira vez se assusta ao pensar que é uma grande curva, mas para nós sabemos que a reta continua.

Essa confusão acontece porque, na prática, a visão para todo mundo sempre estará “embaçada” no curto prazo. Nós na Alaska não temos a menor noção se a bolsa vai subir ou cair no mês que vem, zero de certeza. Só que temos uma noção maior de como devem ser os próximos 5 anos, temos mais convicção de como vai ser o longo prazo do que o curto.

Fazendo mais uma analogia de corrida, é só pegar aquela disputa entre o Felipe Massa e o Robert Kubica no GP do Japão em 2007 (veja o vídeo ao final do parágrafo). A visão do Massa naquela hora é a mesma que a gente tem no curto prazo, toda fragmentada, mas ele conhece o circuito, tem cada curva na cabeça e mesmo que às vezes ele não enxergue nada, nem por isso ele tira o pé, pois ele sabe mais ou menos onde está.

Isso é pra exemplificar que não é porque você não enxerga os metros seguintes que você vai tirar o pé. Não sabemos se em abril a bolsa vai cair 15% ou subir 20%. Mas se você me perguntar como está nossa alocação, direi que estamos 100% alocados. Não vamos ficar preocupado com o “market timing” nesse meio do caminho, é muito custoso você ficar de fora tentando adivinhar a hora certa de voltar.

Mesmo nas retas você terá contratempos e você tem que ter um pouco de habilidade pra consertar. Ano passado foi o exemplo perfeito disso: em plena recuperação do Brasil, tivemos um maio desastroso por causa do Joesley Day, mas logo depois recuperamos tudo. O evento impactou aquele momento presente, mas não teve impacto nenhum no circuito.

Não inventamos nada, apenas “replicamos” Buffett e Marks
Esse negócio de cíclico não é a gente que está inventando. Howard Marks, da Oaktree Capital, e Warren Buffett são super vocais sobre isso: “everything is cyclical”. As árvores não crescem até o céu e raramente as coisas vão pra zero. O investidor não pode achar que tudo que está acontecendo hoje, vai acontecer pra sempre. Ignorar ciclos e extrapolar tendências são duas das coisas mais perigosas que o investidor faz. Se o Ibovespa está lá embaixo o investidor acha que o Brasil vai virar a Venezuela; se está lá em cima acha que vai virar os EUA. Os dois estão errados.

Buffett e Marks falam que a maioria das coisas são cíclicas e maior oportunidade de perda ou de lucro vem quando as pessoas se esquecem disso. Se você está lá embaixo e esquece que é cíclico, você vai ter uma perda “monstra” por ficar pessimista e cair fora. Mas se você lembrar que é cíclico quando as ações estão lá embaixo, é “great opportunity for gain”.

Olhando para o Ibovespa em dólar, o circuito é esse mesmo: reta e curva, reta e curva… São altas multiplicadas por 20 a 30 vezes, com quedas intercaladas em divisões de 5 a 10 vezes (quedas de 50% a 90%). Fazendo um exercício simplista, o pior upside foi 15 vezes de alta em 1983/1986 e o maior foi 34 vezes em 1991/1997. De 15x a 30x, saindo dos 9.000 pontos do Ibovespa em dólar em 2016, o upside é entre 135.000 a 270.000 pontos em dólar. Em relação aos atuais 25.000 pontos, temos um potencial para subir entre 440% e 1000%! Quer dizer que é garantido que vamos subir até lá? Não. E mesmo que a gente chegue lá, todo mundo vai conseguir segurar a posição até lá? Também não!

Mas isso aqui é pra dar a ideia de magnitude dos ciclos. Se você imaginar que o real vai se valorizar bastante, só pra tirar um pouco de ganho do Ibovespa, a gente sai de 270.000 pontos em dólar para 540.000 pontos. Impensável hoje, mas deve ter sido impensável em outros ciclos anteriores [a saber: o Alaska apresentou um gráfico com histórico da brasileira desde 1963, cinco anos antes da criação do Ibovespa, quando o índice utilizado era o IBV, da bolsa do Rio de Janeiro].

Veja também: qual a origem do nome “Alaska”? Confira entrevista em vídeo com Henrique Bredda

Uma forma simples de ganhar dinheiro durante os ciclos
Mas o que a gente gosta mesmo de olhar é que em nenhum destes ciclos vimos uma “linha reta” de alta. Pega entre 2002 e 2008: apesar de todo o rali, tivemos quedas de 18%, 21%, 27%… Como a gente sabe que a história ainda não acabou? Nós não conseguimos saber se vai cair ou não, mas tem uma forma de ganhar dinheiro com isso: é só você ter uma carteira não correlacionada ou até com correlação negativa

Fazendo um exemplo simples: imagina que você montou uma carteira agora com dois ativos, o ativo A é uma exportadora e o ativo B atua no mercado interno, cada um ocupa 50% do portfólio. Como dólar e Ibovespa costumam ter correlação negativa – quando um sobe, o outro cai -, imagina que a cada período um duplica de valor e o outro cai pela metade, e no período seguinte essa relação se inverte (o que dobrou agora cai 50% e o que caiu vai subir 100%). Ao final de um longo período, seu lucro seria zero se você só tivesse comprado e mantido estes dois papéis, mas se a cada alta você diminuísse a que subiu e comprasse a outra e vice-versa, seu resultado seria extraordinário com duas ações que, no fim das contas, não saíram do lugar.

Como a gente usa isso na prática? Desde 2016, vivemos vários momentos de tensão no meio dessa “linha reta”. Agora em 2018, vimos esse drama do S&P500 e do VIX explodindo, e no fim das contas a queda foi de 5.4%. Não foi nada, absolutamente nada. Mas isso gerou quantas manchetes? Isso apavora. Mas o que a gente tenta fazer como gestor? Tira um pouco do que subiu com isso e aumenta naquilo que caiu mais. Aqui não existe essa de comprar e ficar sentado, a gente movimenta bastante a carteira com as ações que a gente gosta.

A “seleção” do Alaska ajuda a entender isso na prática
A gente tem uma seleção bem distribuída em suas posições e sempre que precisamos mudar o esquema tático temos um banco de reservas bem diversificado de ações que, embora não estejam dentro da carteira, estão no nosso radar. Na defesa, temos um goleirão que é a Comgás (CGAS5), que faça chuva ou faça sol paga um dividendo espetacular. Na defesa temos uma zaga que está voando que é a Fibria (FIBR3) e a Suzano (SUZB3) [a entrevista foi feita dois dias antes antes do deal concluído entre as duas empresas; desde então, o fundo concentrou sua posição em Suzano] e nas laterais Randon (RAPT4) e Marcopolo (POMO4). Temos um meio de campo dividido entre Braskem (BRKM5), Sonae Sierra (SSBR3) e Valid (VLID3). No ataque temos a Magazine Luiza (MGLU3) de centroavante goleador faz dois anos, temos também na frente a Vale (VALE3) faz um tempo e a Petrobras (PETR4) que chegou faz um mês.

Daí num “Joesley Day” essas aqui tendem a subir e as outras despencarem. Então a gente vende um pouco disso e compra um pouco daquilo. Depois que normaliza o mercado, você desfaz o movimento e volta pro mesmo lugar que você ganhou dinheiro. Agora, se você tem só atacante, vem um dia muito ruim e você não tem como se mexer, caiu tudo 10%. O que que você faz? Nada. Por isso que gostamos de ter ativos com características diferentes, mas a gente mexe muito no portfólio, é muito importante pro retorno. É um trade passivo: você não sabe o que vai acontecer, mas você sabe que quando acontecer, ou é bom, ou é bom.

Magazine Luiza continua em nossa carteira, a gente acha que não mudou nada que justifique tirar do portfólio. A história dela vai ser de anos e anos de ganho de market share. É uma inércia de qualidade, se alguém começar hoje a fazer o que ela faz vai demorar não vai chegar onde ela está antes de 5 anos. Já a Petrobras “roubou a vaga” da JBS [no começo do ano, em entrevista ao Valor, LAPB deu a entender que uma empresa com as características da JBS poderia entrar no fundo].

O que nos fez colocá-la em carteira foi a mudança de gestão, as atitudes da companhia sobre disciplina de preços e venda de ativos e o fato de ela estar descontada de seus peers internacionais. Além do mais, se o petróleo subir para US$ 80, o que não é muito, já será um escândalo para a Petrobras. Para saber mais sobre as principais posições do Alaska em Carteira, fizemos uma matéria separada que você pode acessar neste link.

Zero ativismo nas empresas, mas bem atento aos “insights”
Nós somos conselheiros, mas é mais pra acompanhar, ver de perto, pois nós temos zero ativismo nas empresas. Se tiver que mudar alguma coisa a gente nem entra, perder dinheiro brigando com empresário não é a nossa. Até porque depois também se ficar amigo do cara não consegue sair. A gente consegue contribuir com uma coisinha ou outra, não entendemos nada de administração de empresas. Não é nosso business.

Agora, uma coisa importante para ressaltar: começamos a ver no final de 2016 e no comecinho de 2017 através dessas reuniões de conselho como a recuperação estava muito rápida, antes dos economistas começarem a rever suas projeções. Você via mês-a-mês os orçamentos sendo batidos e as empresas tendo que aumentar previsão pro ano seguinte [de 2017].

Isso fez com que a gente começasse a ficar despreocupado com o adiamento da Reforma da Previdência, tamanha a arrecadação que ainda pode vir. A arrecadação vai continuar surpreendendo porque o PIB continua surpreendendo. Com a arrecadação vindo forte por conta do PIB cíclico, dá pro governo reonerar a folha e aí está feita a Reforma desse ano.

Os indicadores “anedóticos” sobre o que está barato ou caro
As pessoas tentam usar múltiplos para dizer se mercado está barato ou caro. Isso também não funciona. Em muitas compras que fizemos, as empresas não tinham lucro líquido, logo não tem como calcular o P/L (Preço/Lucro) e muitas vezes nos momentos de pico o lucro líquido está irreal, trabalhando no 3º turno na fábrica, bombando preço de commodity e você é levado a acreditar que está barato. Não tem conta simples pra fazer.

E o que fazemos para nos policiarmos a sempre lembrar que estamos barato e não nos abalarmos com as notícias políticas de Brasília ou qualquer estresse internacional porque a gente sabe que está barato? A gente tem uma série de indicadores que um dia a gente vai patentear, que são quase que anedóticos. São situações que nos mostraram apenas duas coisas: se a bolsa está cara ou se está barata.

Por exemplo, a taxa de desemprego: se ela está alta, a bolsa tende a estar baixa; já se o desemprego está baixo, pessoas estão disputando mão-de-obra, isso tende a acontecer quando a bolsa está cara. Daí temos também a preocupação com o nível da bolsa: se o pessoal está preocupado com a alta, está barato; agora se o comentário feito é “você ainda não tem bolsa?”, ela deve estar cara.

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Temos ainda alguns indicadores mais sérios, como concessão de crédito, quantidade de IPOs, capacidade ociosa, free cash flow (ou fluxo de caixa livre), e também alguns mais anedóticos como a proliferação de gênios na bolsa: quando tem pouquíssimos, está barato; agora quando tem um a cada esquina, “o cara que ganhou 50 vezes com esta construtora”, está caro. A mesma coisa quando vamos contratar um estagiário: se o cara fala “quero aprender”, estamos perto do chão; se o cara fala “qual vai ser meu bônus no primeiro ano”, estamos próximos do topo.

Meu fundo, meu carro: você aguenta ser o passageiro?
Se o circuito é o ciclo do mercado, o carro é o fundo de investimento. No nosso caso, escolhemos como “motor” do carro o mercado de ações, mas como a gente gosta da Fórmula 1 da década de 80, que é o turbo, nós também temos mandato para operar juros e câmbio [o Alaska Black FIC FIA tem que investir até 97% do seu capital no fundo “Alaska Black Master FI Ações BDR Nível I”]. Isso foi importante em 2016 pois um terço do nosso retorno total veio de posições vendidas em juros e câmbio. Nós podemos usar também juros e câmbio nas curvas, coisa que não chegou a usar ainda e está longe de usar.

O combustível deste carro é o capital, então é bom ter bastante gasolina própria, pra que você não tenha uma “pane seca”. Um exemplo que deixa isso mais claro: quando você está num mercado de reta tudo joga a seu favor, mas às vezes mesmo nas retas aparece um “zum zum zum” aqui de Joesley e Temer [referindo-se ao Joesley Day, quando o Ibovespa caiu 8,8% em 18 de maio de 2017] que no longo prazo fica nítido que aquilo foi apenas um contra-tempo e não mudou em nada a recuperação cíclica do Brasil, mas se o seu “carro” usa só a gasolina dos outros, eles tiram na hora e acabou a corrida pra você. E aqui que entra a vantagem de ter um fundo super pulverizado de clientes [a saber: por muito tempo essa era uma das críticas ao Alaska Black, que tinha uma base de cotistas muito concentrada. Atualmente, o fundo possui R$ 5,1 bilhões em ativos sob gestão, divididos em mais de 20 mil cotistas e sendo 60% capital próprio].

A pilotagem do carro tem que ser feita por uma equipe de gestão, não dá pra você ser um “one man show”, o cara que faz tudo sozinho, pois a corrida dura décadas, em algum momento esse cara vai ficar com a cabeça ruim, vai ter problemas em casa etc.

Agora existe um problema no meio disso tudo: o investidor antes de entrar neste carro [ou seja, virar cotista] precisa se conhecer, tem que saber seus limites estomacais. Por que para nós uma perda de 5% a 6% num único dia pode ser “normal”, enquanto que para um cotista que não entende o risco pode ser um sofrimento enorme. Se a pessoa não se conhecer, não funciona, ela vai pedir pra descer do carro [ou resgatar o dinheiro] no pior momento.

A gente gosta de ficar provocando e dar exemplos ruins para a pessoa ter certeza que é aquilo que ela quer. Isso não acontece só no nosso fundo, é no mercado de ações em geral: temos visto diversos exemplos de pessoas que entram, tomam um tranco, dizem ‘ah odeio isso, é coisa de ladrão’ e não volta nunca mais.

Mas e se a bolsa dos EUA despencar?
Se a bolsa cair lá nos EUA, de fato reflete aqui, mas só nos primeiros dias. Na nossa opinião, se lá cair uns 10%, aqui a tendência é “não subir”, enquanto se lá cair 40% ou mais, aqui não vai ceder porque já caiu. Vamos lembrar que de 2008 até aqui 2016, o Ibovespa em dólar saiu de 44.000 pontos para 9.000, dividiu por 5. Lá nos EUA, a bolsa triplicou. Então se lá sobe e aqui cai, e quando lá cai aqui cai, parece que aqui só cai (risos). E quando você vê, na verdade, esses movimentos têm aderência com o lucro das empresas.

Vamos lá, por que a bolsa dos EUA vai cair? Porque os juros vão aumentar e vai começar a concorrer com os dividendos. Dividendos hoje estão entre 1,5% e 2%, o que é um nível alto, as empresas estão exagerando no pagamento de dividendos. Quando as empresas começarem a investir e os juros começarem a subir, a empresa vai pagar mais juros e vai pagar menos dividendos.

Então essa concorrência é que vai derrubar a bolsa. Eles estão a pleno emprego, o motivo que ela vai cair é outro, não é lucro. A contaminação [para a bolsa brasileira] só ocorre se contaminar lucro. Um tapa na orelha de 10% no dia vai acontecer tranquilamente. E essa correlação é importante porque as pessoas confundem correlação com tendência. O alfa do S&P daqui vem do gap de lucro. Nosso lucro está na lama e o do S&P está estourando. Não tem custo financeiro, todo mundo empregado e consumindo. Vai chegar uma hora que vai parar.

Conclusão: tenha fé
Só que tem uma coisa. Você olha os indicadores mais anedóticos, o nível de emprego, lucro de empresas, gráficos, relação de PIB, faz conta de DCF (discount cash flow). Nada te dá aquela certeza absoluta se é para comprar, né? E a gente entende que este último argumento que temos, ainda mais para aqueles que delegam investimentos pra terceiros ou querem experimentar o investimento em ações pela primeira vez, o último argumento a gente gosta de fazer analogia com aquela cena do filme do Indiana Jones cruzando a ponte invisível sobre o abismo. A conclusão é: nunca haverá um grupo de indicadores irrefutáveis que te darão certeza absoluta que a bolsa vai subir. Mas estar com alguém que já cruzou essa ponte algumas vezes nos dá um pouco mais de confiança. A gente nunca vai ter 100% de certeza que a bolsa subirá no futuro, mesmo que o futuro seja dois dias, pois se tivéssemos essa certeza, ela subiria amanhã, e não depois de amanhã.

E se o LAPB sair do Alaska?
Eu [Luiz Alves Paes de Barros] já respondi várias vezes essa pergunta: o que acontecerá se eu adoecer ou simplesmente deixar a Alaska? Eu sempre respondo que ninguém precisa mexer um real se eu morrer, vocês precisam ficar preocupados é se esse aqui morrer [diz isso apontando para o Bredda], pois ele tem o conhecimento para perpetuar nossa filosofia de investimentos.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers