USP, ensino e aprendizagem na Amazônia

Em que medida o exercício acadêmico, no âmbito das universidades, é capaz de repensar o cotidiano e construir formatos e metodologias de superação dos entraves do crescimento a um tempo integral, sustentável, social e próspero?

Equipe InfoMoney

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Alfredo MR Lopes (*)

Artigos publicados em revistas internacionais, temáticas da gestão da Amazônia, privilegiando as bases da bioeconomia e tecnologia da informação e comunicação, foco nos gargalos do Polo Industrial de Manaus, empreendedorismo social e prioridade na inovação, são alguns dos avanços dignos de celebração do primeiro ano da preciosa parceria entre UEA, Universidade do Estado do Amazonas e a USP, Universidade de São Paulo, para exaurir frutos da relação entre economia e academia, neste momento de adversidade inquietante que o Brasil atravessa.

Em que medida o exercício acadêmico, no âmbito das universidades, é capaz de repensar o cotidiano e construir formatos e metodologias de superação dos entraves do crescimento a um tempo integral, sustentável, social e próspero? Estas respostas começam a aparecer nos primeiros trabalhos do DINTER, o doutoramento de 22 pesquisadores do Amazonas, que pôs em interação fecunda o portfólio de ensino, pesquisa e desenvolvimento da FEA, a entidade de Economia, Contabilidade e Administração da USP, mais respeitada do Brasil, com a UEA, a maior universidade multi-campi do país, atuando em 62 municípios, no Estado mais pródigo em potencialidades naturais, e com maior extensão geográfica.

O que é possível fazer para ajudar a economia do país a sair do atoleiro em que, ironicamente, foi a má gestão que a enfiou. Os descaminhos da política puseram em jogo o futuro da própria sociedade, razão de ser e de servir da Universidade, essa instituição milenar e necessária a história da Humanidade. É dramático responder a esta indagação num momento em que os indicadores econômicos na geração de emprego tem prognósticos ainda sombrios, obrigando-nos a todo esforço é pouco para encontrar respostas rápidas para o enfrentamento do caos social persistente. É nesse contexto que a definição dos temas e problemas do Doutorado Interinstitucional entre São Paulo-USP e Amazonas-UEA foram vitais para priorizar as urgências regionais de gestão de projetos, infraestrutura, negócios e oportunidades. Ou seja, a academia debruçando-se sobre as demandas e emergências da economia. Não há outro encaminhamento mais adequado para prosseguir no rescaldo socioeconômico e ambiental provocado pela anomia gerencial do Brasil.

Mais uma, como uma incessante Espada de Damocles, a economia do Amazonas é escalado pela imprensa do Sudeste para o bode universal e expiatório do desastre fiscal que descreve a governança aloprada da brasilidade. Levando em conta que toda a Amazônia Ocidental, englobando, além do Amazonas, os estados vizinhos de Rondônia, Acre, Roraima e dois municípios do Amapá, Macapá e Santana, e utiliza apenas 8% da renúncia fiscal, segundo dados da Suframa e da Receita Federal, esta acusação de bode fiscal não passa de mais uma demonstração de desinformação e má-fé.

A aproximação do Amazonas com a FEA, nota máxima em Administração na CAPES, o organismo federal que cuida da capacitação docente, tem por meta suprir a fragilidade na gestão de projetos para, no sentido clássico da Administração, mapear metas, promover planejamento, identificar, conhecer e solucionar problemas, organizar recursos financeiros, tecnológicos, liderar movimentos, motivar pessoas, tomar decisões e avaliar, no sentido de aferir resultados. Esse beabá é vital e é urgente encarar num planejamento de curto, médio e longo prazo, devidamente elaborado por todas as forças e atores envolvidos.

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Com métricas, planos e determinação, vamos precificar os serviços ambientais do Amazonas, com sua cobertura vegetal quase intacta, mais de 95%, graças às especificidades polo industrial de Manaus, que emprega, gera renda, oportunidades e qualificação acadêmica, evitando que a economia avance na direção da floresta. Somos um estado que grita aos sete mares que superou o modelo predatório desta civilização. Entretanto, é tímida nossa aposta em inovação, como criação de novas soluções para velhos problemas do empreendedorismo.

Será gratificante ver desembarcar na Pauliceia, a partir de março, essa leva promissora de futuros doutores em gestão da Amazônia, remanescentes da história da economia do látex, para mergulhar nos saberes acadêmicos da economia oriunda do café, que marca o florescer do desenvolvimento do país no século XX, e propicia essa relação ensino e aprendizagem que a grandiosidade do Brasil exige como requisito de expansão de suas oportunidades. O DINTER USP-UEA tem esse desafio adicional, ensinar e aprender, sacudir a inércia que o descaso federaL tem imposto ao Amazonas, promovendo um mutirão interdisciplinar, interinstitucional e intranacional, continental, de inovação, conectando saberes, habilidades, empresas, atuais e em gestação.

Este caráter interinstitucional tem um sentido mais urgente e mais abrangente, tecnológico, não apenas acadêmico mas sobretudo estratégico, na junção dos entes federativos, da comunhão entre pesquisa, desenvolvimento, sustentabilidade e mercado. Sem delongas conservadoras nem temor de inovação, para aprender e ensinar, sugerindo o país a mudar…

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(*) Alfredo é filósofo e consultor do CIEAM. Centro da Indústria do Estado do Amazonas