Small cap dispara 60% em duas semanas e gestor afirma: “será uma Ambev em seu setor”

Ações dispararam no começo de ano por conta do corte da Selic, mas recuperação da companhia vai muito além disso

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O ano começou bastante positivo para o Ibovespa, e a surpresa do Copom (Comitê de Política Monetária) ao reduzir a Selic em 75 pontos-base ajudou a dar um novo impulso para o mercado na última semana, mas se tem uma ação comemorando este 2017 é a small cap Springs Global (SGPS3). Em apenas 13 pregões, os papéis já dispararam 60%, sendo 50% apenas nos últimos sete dias, e alguns analistas já apontam que este pode ser apenas o começo.

Segundo analistas, neste início de ano, o que se vê é uma combinação de foco na gestão e melhora das condições de mercado, principalmente por conta do corte de juros pelo BC. A Springs Global, diante das dificuldades do passado, adquiriu uma grande dívida com financiamentos, e agora com a aceleração do ciclo de corte da Selic, caminha para um novo momento, vendo suas condições de pagamento melhorarem significativamente. No fim de outubro de 2016, cerca de 81,5% da dívida bruta da companhia estava atrelada ao CDI, que acompanha a taxa básica de juros.

Tanto que, em resposta à questionamento da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) na noite de terça-feira (17), a companhia afirmou que um dos motivos que poderiam explicar a recente alta das ações seria exatamente o corte de Selic. Em entrevista ao InfoMoney, a diretora de Relações com Investidores da Springs Global, Alessandra Gadelha, lembra que a dívida atrelada ao CDI estava em cerca de R$ 600 milhões no 3º trimestre de 2016. “Assim, a redução de 1 ponto percentual da taxa de juros representa economia ou ganho R$ 6 milhões por ano, equivalente a 25% do lucro realizado em 2015.”, explica.

“A queda dos juros tem grande impacto na companhia, mas essa disparada vai além disso. É uma combinação de fatores, incluindo o resultado de uma gestão que se reinventou nos últimos anos”, ressalta João Paulo Reis, gestor da Venture Investimentos e blogueiro do InfoMoneyEle lembra ainda que a empresa vem registrando sete trimestres seguidos de melhora em seus resultados, e que além da contínua melhora, ela deve ser beneficiada por alíquotas de impostos menores por conta dos prejuízos acumulados que possui, dando espaço para que lucros maiores comecem a aparecer.

E esta visão do efeito dos juros é reforçada pelo mercado. “Nosso call de Springs estava baseado na queda efetiva dos juros e não apenas na expectativa, por conta da alavancagem”, afirma Adeodato Volpi Netto, head de mercados de capitais da Eleven Financial. Mas ele ressalta que há um ponto importante que precisa mudar para que a empresa consiga manter as altas na Bovespa: a liquidez.

Até o início deste ano, a companhia tinha média de volume diário na Bolsa abaixo de R$ 1 milhão, mas nos últimos dias isto mudou, e nesta quarta-feira o volume ficou em R$ 5,261 milhões. 

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O desempenho da companhia hoje é reflexo da grande reestruturação que ela passou nos últimos anos após se afundar em uma grande crise no fim dos anos 2000. Naquele período, a forte queda do dólar acabou prejudicando um processo importante logo após a fusão com a Coteminas. Para Reis, a empresa tinha tudo para ter quebrado por conta das condições adversas de mercado, mas está conseguindo se recuperar.

Para o gestor da Venture, porém, estas notícias positivas e a disparada dos papéis ajudam a melhorar a visão que o mercado tem da companhia e deve colaborar para que o volume de negócios envolvendo as ações também aumente. “Este novo cenário e a melhora da liquidez coloca a empresa no olhar de grandes players do mercado, que vão colaborar para sustentar um volume maior”, explica o gestor.

“Ambev do setor”
Uma das grandes melhoras que a companhia tem tido nos últimos anos, segundo Reis, está relacionada a sua expansão de negócios. Hoje, a Springs Global, que é dona das marcas Artex, Santista e MMartan, não vende apenas produtos de cama, mesa e banho, mas também outros artigos relacionados ao que eles chamam de “moda lar”, com itens como travesseiros e protetores de colchão, além de possuir uma linha de produtos têxteis de decoração que incluem cortinas, mantas e almofadas.

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Além disso, a Springs Global está no controle toda a cadeia de produção, desde a compra do algodão até a venda efetiva no varejo em suas lojas franqueadas. Com isso, ela consegue, por exemplo, controlar os estoques das varejistas que vendem seus produtos, como Lojas Americanas e Pernambucanas. Lembrando ainda que a empresa tem operações, além do Brasil, na Argentina, Canadá e Estados Unidos.

“É por isso que acredito que a Springs Global irá se tornar uma Ambev do setor de cama, mesa e banho”, afirma Reis destacando a fatia de mais de 50% de market share que a empresa tem do setor. Para ele, a comparação não está relacionada às ações, mas ao negócio, ao tamanho e ao controle que estas empresas têm em seus setores. “Com o corte de juros ajudando a melhorar o resultado e essa gestão que está recuperando a companhia, a Springs tem tudo para voltar a ser a gigante que foi um dia”, diz o gestor.

Para quem não sabe, a empresa é fruto a união da Coteminas com a Springs Industries, que em 2006 criou a maior empresa de cama, mesa e banho do mundo. Hoje, a Springs Global perdeu tamanho, mas ainda é a maior das Américas, valendo cerca de R$ 200 milhões. “A única justificativa para isso é o total desconhecimento do mercado da sua existência, que se reflete na sua baixa liquidez”, afirma Reis, completando que esta é uma ótima oportunidade para o investidor que busca ações para médio e longo prazo.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.