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O presidente Michel Temer está em Nova York para discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU e para uma série de encontros bilaterais para “vender” a imagem do novo governo, papel que não pode cumprir integralmente duas semanas atrás na reunião do G-20, porque ainda vivia uma certa “timidez da interinidade” a estava um tanto quando “assustado” com as acusações de “golpismo”.
Agora, nesta terça-feira, ele deve fazer um discurso mais assertivo, com as linhas mestras da nova política externa brasileira. Será de fato a entrada de Temer no cenário político e econômico internacional. Temer vai conversar com líderes internacionais e dirigentes de grandes bancos: o foco é atrair investimentos, especialmente para o programa de concessões e privatizações na área de infraestrutura.
O presidente, porém, deixa no Brasil um rastilho que pode vir a azedar as relações de seu governo com os aliados no Congresso Nacional, que ele ainda não conseguiu azeitar totalmente. Com ações mais recentes, principalmente ao reafirmar a disposição de não ceder mais na questão do ajuste fiscal – inclusive vetando o generoso aumento salarial que o Congresso havia aprovado para os defensores públicos – Temer havia alcançado acalmar seus principais críticos na aliança, o trio DEM-PSDB-PPS.
No fim de semana, com Temer já de malas prontas, baixou mais uma dose de “ciumeira” no antigo bloco oposicionista liderado pelos tucanos, que, como se sabe, querem ter voz ativa – e se possível preponderante – no novo governo e ainda temem as manobras do próprio Temer e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, com vistas à sucessão presidencial de 2018.
MEIRELLES: CONGRESSO NÃO PODE
DESFIGURAR A PEC DO TETO
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A motivo do curto circuito foi o almoço que o presidente ofereceu aos líderes do chamado Centrão, com direito a fotos cheias de sorrisos e a um manifesto de apoio às propostas do presidente, na sexta-feira. O objetivo do Planalto era exatamente conquistar os insatisfeitos órfãos de Eduardo Cunha para as propostas de reforma da economia e da administração. Garantir votos, enfim – inicialmente para PEC do Teto de Gastos e depois para a reforma previdenciária. Em entrevista a “O Estado de S. Paulo”, o ministro da Fazenda diz que a a proposta não pode ser desfigurada.
Tucanos e companhia viram um objetivo subliminar: juntar o Centrão ao PMDB e formar um bloco informal poderoso de apoio ao governo, exatamente para enfraquecê-los e reduzir o poder de pressão que eles exercem no momento. Paralelamente, o grupo acha que Temer, o PMDB e o Centrão estão ajustando um acordo para disputar a presidência da Câmara, no ano que vem, lugar que os tucanos aspiram.
Na volta, Temer terá, além de administrar essa insatisfação, de administrar uma outra “ciumeira” que começa a se instalar em seu governo: está incomodando a alguns ministros o excesso de interferência (ou de palpites) em quase tudo na administração do poderoso ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, coadjuvado pelo ministro Geddel Vieira Lima. O incômodo chega até à área econômica.
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Temer deverá definir também o nome de um porta-voz para a Presidência da República, para tentar unificar o linguajar do governo e evitar o bate cabeça de ministros e as informações desencontradas que têm dado munição para a oposição, casos da reforma trabalhista e da reforma da Previdência.
Na mesma linha, o presidente, que já estava mais falante nos últimos dias, vai começar a sair de Brasília, para inaugurar obras, apresentar projetos, discursar – enfim, tornar-se mais visível e tornar seu governo mais aberto para começar a bloquear os movimentos de rua da oposição. Temer sentiu o cheiro desses protestos ao desembarcar nos Estados Unidos.
Não se espera nada de excepcional, nenhuma decisão crucial nas próximas duas semanas na seara política e do Congresso Nacional – serão tempos apenas de eleições municipais. Os candidatos e seus apoiadores, principalmente os deputados e senadores e os partidos estão assustados: até agora a eleição não “pegou” junto ao eleitor, não está empolgando. Surpresa somente do imponderável, do imprevisível da Operação Lava-Jato.
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A grande expectativa da semana é no campo econômico: a reunião amanhã e depois do Banco Central do Estados Unidos. Há temores, fundados segundo muitos analistas, de que o Fed, finalmente, comece a elevar os juros norte-americanos. A gangorra da bolsa e do dólar no Brasil na semana passada já ocorreu, em parte, por causa desse temor.
Outros destaques
dos jornais do dia
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– “Receita dos estados recua 6,2% de janeiro a agosto” (Valor)
– “Governo oferece aval para que estados tomem até R$ 20 bi em empréstimos” (Estado)
– “Temor de mudanças na Previdência eleva em 25% o número de concessões de aposentadorias” (Globo)
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– “PIB perde 0,6% por aposentadorias precoces” (Valor)
– “TCU aponta fiscalização frouxa e cobra metas rigorosas para teles” (Folha)
– “Congresso articula volta da doação eleitoral de empresas” (Estado)
LEITURAS SUGERIDAS
1. Paulo Guedes – “A proposta ganha-ganha” (diz que a aprovação de uma reforma política vai ao encontro das ruas e assegura sustentação parlamentar orgânica às reformas econômicas) – Globo
2. Editorial – “Estado calamitoso” (diz que governadores pressionam Planalto em busca de recursos –a situação é delicada, mas negociação deve se dar em termos mais maduros) – Folha
3. Luiz Carlos Mendonça de Barros – “Olhando para a frente” (diz que Brasil vive o fim da queda do vácuo na atividade e o início de ainda tímido de uma recuperação em V, que ficará claro em 2017) – Valor
Destaques dos jornais
do fim de semana
SÁBADO
– “Brasil perdeu 1,5 mi de vagas de trabalho no ano passado” (Globo/Estado/Folha)
– “Petrobras quer cortar hora extra, jornada e salário” (Estado)
DOMINGO
– “Receita cobra R$ 10 bi de investigados na Operação Lava-Jato” (Estado)
– “Siderúrgicas brasileiras tentam barrar fábrica chinesa” (Estado)