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SÃO PAULO (Reuters) – A BNDESPar, braço de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), decidiu se abster de votar sobre a proposta de dupla listagem de ações da JBS (JBSS3) nos Estados Unidos e no Brasil, de acordo com fato relevante publicado pela companhia de alimentos nesta segunda-feira.
A decisão da BNDESPar, segundo maior acionista da JBS, com 20,8% de participação, foi tomada em um acordo com a J&F Investimentos, holding da família Batista, acionista controladora da JBS com fatia de mais de 48%.
A dupla listagem nos EUA, que será feita na bolsa de Nova York (NYSE) e na B3, tem potencial de destravar valor das ações da JBS, diz a empresa, já que pode atrair grandes investidores que atuam em bolsas nos exterior.
Mas os planos, tornados públicos no formato atual em julho de 2023, ainda dependem de aprovação da SEC, a comissão norte-americana de valores mobiliários.
Com a abstenção da BNDESPar, caberá aos investidores minoritários decidir em assembleia da JBS sobre a chamada dupla listagem, uma vez que o maior acionista da empresa, a J&F, não terá direito a voto na assembleia, segundo nota do banco de fomento.
Conforme comunicado da JBS, o acordo “aproxima” a maior produtora de carnes do mundo da dupla listagem.
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Pelo instrumento assinado com a J&F, a BNDESPar pode receber uma remuneração eventual limitada a R$500 milhões na hipótese de uma valorização das ações da JBS abaixo de patamar estabelecido entre as partes, segundo a JBS.
Esse montante funcionaria como uma espécie de seguro para a BNDESPar, para o caso de a ação da JBS não atingir determinado valor após a realização da dupla listagem, esperada para até o final de 2025, segundo fontes a par do assunto.
O preço “strike” para eventualmente a BNDESPar receber ou não a remuneração não foi divulgado, mas será calculado com base na média da cotação do papel nos seis meses do segundo semestre do ano que vem, disseram as fontes.
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Mas os envolvidos no acordo consideram que são baixas as possibilidades de este “seguro” vir a ser utilizado, já que o preço da ação da JBS é negociado abaixo de seus pares nos EUA, como a Tyson Foods, que atualmente estão abertos a esses megainvestidores que a companhia brasileira quer acessar.
A JBS está entre as maiores empresas de alimentos do mundo, com uma plataforma diversificada de proteínas e de geografias, com mais de 50% de seu faturamento proveniente de operações nos EUA.
Com mais de 250 fábricas, a JBS produz em 17 países, possui mais de 300 mil clientes e seus produtos chegam a mais de 180 países.
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SEM COMPROMISSO DE VENDA
O pacto entre a BNDESPar e a J&F não altera a participação acionária do banco na JBS, empresa na qual a instituição estatal investe desde 2007, segundo o comunicado oficial.
Conforme informações divulgadas pela BNDESPar, desde então foram investidos pelo banco cerca de R$8,1 bilhões na JBS, aportes estes que tiveram uma taxa interna de retorno (TIR) de 11,35%, versus rentabilidade de 7,25% do Ibovespa, segundo cálculos da BNDESPar.
No período, o banco estatal recebeu R$4,9 bilhões em dividendos e, considerando os desinvestimentos já realizados e a posição de mercado ao final do ano passado, o total de ganho estimado da BNDESPar está em R$22,7 bilhões.
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Com a dupla listagem, a BNDESPar vai continuar sendo titular de uma ação com valor representativo de uma listagem fora do país.
A BNDESPar não tem prazo nem obrigação de venda das ações de da companhia, após a dupla listagem, conforme fonte com conhecimento da operação, que pediu ficar no anonimato para falar livremente sobre o assunto.
Pessoas com conhecimento da operação avaliaram ainda que o processo da dupla listagem está caminhando em direção à autorização junto à SEC, uma vez que as perguntas do regulador de mercados dos EUA estão diminuindo.
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A listagem também nos EUA, além de permitir à JBS acesso a um número maior de investidores, também possibilitaria a obtenção de financiamentos com juros mais competitivos no exterior.
Quando a JBS revelou sua proposta de listagem dupla, chamou-a de “uma proposta de valor transformadora”.
Mas seus planos de listar ações em Nova York sofreram oposição de políticos nos EUA e de grupos de ambientalistas, que levantaram preocupações sobre “greenwashing” e acusações anteriores de corrupção envolvendo seus fundadores.
Para a realização da dupla listagem, a JBS criaria um veículo de investimento na Holanda, que não deve mudar nada em termos de gestão ou de localização da sede da empresa, segundo uma das fontes.