
O Globo de Ouro de melhor atriz por Ainda Estou Aqui tornou Fernanda Torres assunto nacional, tanto pela torcida quanto pela surpresa de quem não conhecia a dramaticidade de uma das comediantes mais populares do Brasil.
A distância entre Eunice Paiva e as eternas Vani e Fátima mostra a versatilidade de quem, literalmente, nasceu no meio da arte. Segundo ela, não havia opção além do teatro, das telas e da escrita.
“Eu culpo meus pais, eles me obrigaram a ser atriz. Você leva o filho para o ambiente de trabalho e ‘estraga’ o filho”, disse às gargalhadas no programa Altas Horas, de Serginho Groisman, em 2017.
Precoce também na vida pessoal – casou-se pela primeira vez aos 17 anos, com o apresentador Pedro Bial – Fernanda acumula mais de 40 anos em cena, e é um dos raros exemplos que transitam igualmente entre o cult e o popular. Inclusive, essa sempre foi uma preocupação sua ao longo da carreira, como declarou no programa Roda Viva, em 1998.
“Eu vivo numa linha fina entre o cult e o popular, e tenho muito medo de perder o popular. Tenho pânico de que o cinema e o teatro virem uma coisa pequena, para poucos”.
Desde 1999, Fernanda Torres é casada com o cineasta Andrucha Waddington, com quem tem dois filhos: Joaquim e Antônio.
Fernanda Torres: origem e início da carreira
Fernanda Pinheiro Torres é uma atriz, escritora e roteirista nascida em 15 de setembro de 1965 no Rio de Janeiro.
Filha caçula dos atores Fernanda Montenegro e Fernando Torres (falecido em 2008) e irmã do diretor e roteirista de cinema Cláudio Torres, desde cedo manifestou interesse pela vida artística. Em 1978, aos 13 anos de idade, entrou para a escola de teatro Tablado, e estreou nos palcos naquele mesmo ano, na peça Um Tango Argentino.
Na década de 80, em paralelo ao teatro, Fernanda começou a atuar em novelas e no cinema. Em 1981, veio a sua estreia na Globo em Baila Comigo, e no mesmo ano emendou Brilhante. Em 1983, atuou na novela Eu Prometo e no seu primeiro filme, Inocência, dirigido por Walter Lima Jr.
Em 1986, ganhou mais notoriedade ainda ao ser premiada como melhor atriz em Cannes pelo filme Eu sei que vou te amar, de Arnaldo Jabor, enquanto gravava o remake da novela Selva de Pedra. À época, a atriz se declarou espantada com a vitória, e não conseguiu receber pessoalmente o prêmio em função das gravações da novela.
Anos 90: foco no cinema e no humor na TV
A partir dos anos 90, Fernanda deu mais foco ao cinema e a participações mais breves na TV, especialmente em programas humorísticos.
Na época, fez trabalhos no cinema que foram bem recebidos pela crítica. Entre eles, está Terra Estrangeira, de 1995, que marcou o início de uma longa parceria com o cineasta Walter Salles. Logo depois, veio o filme Miramar, em 1997, e O que é isso, Companheiro?, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1998.
Paralelamente, participou de famosas produções cômicas, com destaque para Comédia da Vida Privada, série baseada em crônicas do escritor Luís Fernando Veríssimo, e Vida ao Vivo Show, quadro de humor exibido no Fantástico em 1997.
Em 1998, veio o segundo trabalho com Walter Salles, no filme O Primeiro Dia e, no mesmo ano, atuou em Traição, longa dirigido por seu irmão.
Anos 2000: a explosão de “Os Normais”
No início dos anos 2000, Fernanda Torres chegou a fazer algumas peças e pequenas participações em novelas. Mas sua marca na época veio mesmo em 2001, com a estreia de Os Normais em junho daquele ano.
A aproximação com Luiz Fernando Guimarães havia começado alguns anos antes, quando os dois atuaram na peça Cinco Vezes Comédia, de 1996. Cinco anos depois e já amigos, deram vida a Vani e Rui, um dos casais mais icônicos da comédia brasileira.
Os Normais mostrava o dia a dia conjugal de maneira bem humorada e com formato e linguagem inovadores. O sucesso foi tanto que rendeu um filme em 2003, ano em que a série deixou de ser produzida, por decisão dos roteiristas Fernanda Young e Alexandre Machado.
Fernanda retomaria a fórmula em 2011 ao lado de Andréa Beltrão em Tapas e Beijos. A série cômica de cinco temporadas, que ficou no ar até 2015, notabilizou as inseparáveis Fátima e Sueli, amigas que tentavam achar sua cara-metade em meio a tropeços afetivos.
Volta ao teatro e início como escritora e dramaturga
Em 2003, Fernanda voltou ao teatro com a peça A Casa dos Budas Ditosos, atuação que lhe rendeu o Prêmio Shell em 2004. No mesmo ano, foi responsável pelo roteiro de Redentor, filme dirigido por seu irmão e no qual também atuou ao lado de seus pais.
Em 2007, começou a fazer roteiros para o cinema e TV e escreveu crônicas para jornais e revistas. Tempos mais tarde, algumas dessas crônicas foram compiladas no livro Sete Anos, publicado em 2014.
Sua estreia como dramaturga foi em 2009, com a peça Deus é Química, na qual atuou novamente ao lado de Luiz Fernando Guimarães.
Alguns dos principais filmes:
- Inocência (1983);
- A Marvada Carne (1985);
- Eu Sei que Vou Te amar (1986);
- Com Licença, Eu Vou à Luta (1986);
- Fogo e Paixão (1989);
- One Man´s War (1991);
- Terra Estrangeira (1995);
- O que é isso, Companheiro? (1997);
- O Primeiro Dia (1998);
- Traição (1998);
- Gêmeas (1999);
- Os Normais (2003);
- Redentor (2004);
- Casa de Areia (2005);
- Saneamento Básico, o Filme (2007);
- Jogo de Cena (2007);
- A Mulher Invisível (2009);
- Os Normais 2 (2009);
- Ainda Estou Aqui (2024).
Teatro
- Um Tango Argentino (1978);
- O Mito de Aukê (1980);
- Pequenos Burgueses (1981);
- Rei Lear (1983 – 1985);
- Orlando: Uma Biografia (1989);
- The Flash and Crash Days (1991);
- O Império das Meias Verdades (1993);
- Dom Juan (1995);
- Cinco Vezes Comédia (1996 – 1998);
- Da Gaivota (1998);
- Duas Mulheres e Um Cadáver (2000 – 2001);
- A Casa dos Budas Ditosos (2003 – 2008);
- Deus é Química (2009).
Literatura
- Fim (2013);
- Sete Anos (2014);
- A Glória e seu Cortejo de Horrores (2017).