Tarifa de Trump, risco fiscal ou otimismo? Quais melhores ações em cada cenário da B3

Equipe de estratégia da XP ressaltou alguns cenários para Brasil e exterior e qual pode ser o melhor posicionamento em cada um deles

Lara Rizério

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O Ibovespa acumula ganhos de cerca de 6% em 2025, mas o cenário até o restante do ano é marcado por incertezas em temas como política fiscal doméstica e ambiente externo em meio a novas medidas a serem implementadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

Neste ambiente, em relatório assinado por Fernando Ferreira e equipe, os estrategistas da XP fizeram um guia para a volatilidade brasileira na Bolsa e como se posicionar diante de cada um dos cenários desenhados.

São 4 os cenários: (i) na cesta de medidas políticas alternativas e vistas como favoráveis ao mercado, os estrategistas destacam empresas com exposição governamental ou regulatória e que se beneficiam do fechamento da curva de juros; (ii) na cesta de baixa volatilidade, favorecem posições estruturais combinadas com estratégias de opções; (iii) na cesta de deterioração fiscal, favorecem um posicionamento defensivo, como exportadoras, setores sensíveis ao câmbio e setores defensivos; (iv) na cesta de tarifas mais altas nos EUA, favorecem empresas com produção sediada nos EUA, hedges contra inflação e exportadoras.

“Nosso cenário base continua sendo de que há um valor significativo nas ações brasileiras, mas seguimos favorecendo uma exposição defensiva/de alta qualidade, devido ao atual cenário macroeconômico de juros elevados e volatilidade”, avalia a equipe de estratégia.

Ferreira e equipe ressaltam que, em 2024, as histórias micro sólidas no Brasil foram ofuscadas pela deterioração do cenário macroeconômico. Em 2025, até o momento, o macro continua sendo o principal fator de movimento para as ações, com uma forte recuperação até agora. “Além disso, vale destacar que a volatilidade implícita e realizada do Ibovespa está nas mínimas históricas e em queda. Em nossa visão, uma maior volatilidade está à frente, dado os cenários binários”, apontam.

Confira cada um dos cenários desenhados para a XP e qual a melhor estratégia de ações com elas:

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i) Cesta de medidas de políticas alternativas

Na cesta de medidas políticas alternativas, a XP aponta um cenário em que o governo adotaria medidas políticas mais favoráveis ao mercado.

Com isso, a carteira sugerida favorece empresas com forte exposição governamental/regulatória e nomes beneficiados pelo fechamento da curva de juros, partindo do princípio de que deve haver um alívio nos riscos fiscais, como Petrobras (PETR4), Banco do Brasil (BBAS3), Eletrobras (ELET3), B3 (B3SA3) e Localiza (RENT3).

Confira abaixo o quadro de ações:

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CompanhiaSetorTese
PetrobrasÓleo, Gás e PetroquímicosO prêmio de risco de exposição ao governo deve diminuir, desconto em relação ao pares da América Latina deve cair devido às métricas projetadas superiores (ROE, dividend yield)
EletrobrasUtilidade PúblicaAlívio de desafios legais após a privatização
Banco do BrasilFinanceiroO prêmio de risco de exposição ao governo deve diminuir, desconto em relação ao Itaú deve convergir para a média histórica de 10 anos; Juros menores devem estimular o mercado de crédito
B3Instituições FinanceirasJuros menores devem estimular a atividade no mercado de capitais
LocalizaTransportesJuros menores devem melhorar a economia das frotas e de negócios cíclicos

ii) Cesta de baixa volatilidade

Se a volatilidade no mercado de ações for baixa, a XP vê um cenário que favorece estratégias com opções.

Um exemplo destacado é de uma estratégia zero-cost dollar, de forma a proteger as perdas em posições principais financiando uma opção de venda (put) por meio de uma opção de compra (call), cujo prêmio compensa o custo de aquisição da put. O collar limitará tanto o ganho máximo quanto a perda máxima, explica a XP.

iii) Cesta de deterioração fiscal

Nesta cesta, a equipe de estrategistas favorece um posicionamento defensivo, com posições compradas em exportadoras e outros setores sensíveis ao câmbio, devido ao potencial de depreciação cambial decorrente das pressões inflacionárias e da desaceleração econômica.

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Entre os nomes defensivos e de alta qualidade estão: WEG (WEGE3), Petrobras (PETR4), BRF (BRFS3) e Aura Minerals (AURA33).

A equipe macro da XP acredita que os sinais de desaceleração econômica estão se tornando mais evidentes e devem persistir em 2026, devido aos efeitos defasados da política monetária contracionista. Embora o governo enfrente menos desafios para atingir a meta fiscal neste ano (favorecido por um cenário macroeconômico que impulsiona a arrecadação tributária), a tendência de alta na dívida pública continua sendo uma preocupação central.

Diante disso, em ações, os estrategistas preferem: i) exportadoras e setores sensíveis ao câmbio, considerando a possibilidade de depreciação do real devido a pressões inflacionárias e à desaceleração econômica; ii) setores defensivos, diante do cenário de menor crescimento; iii) empresas de alta margem e baixa alavancagem, dado que a trajetória de alta da dívida pública segue como um fator de pressão sobre as taxas de juros.

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Confira abaixo o portfólio sugerido diante deste cenário:

TickerSetorRatingValor de mercado (R$ mi)Desempenho (52 semanas)
WEGE3Bens de capitalCompra221.900,5447,0%
PETR4Óleo, Gás e PetroquímicosCompra522.096,8910,5%
BRFS3Alimentos & BebidasCompra31.436,4141,6%
UNIP6Óleo, Gás e PetroquímicosCompra5.465,31-15,4%
AURA33Mineração & SiderurgiaCompra6.540,54205,5%

iv) Tarifas mais altas dos EUA

Os estrategistas não acreditam que o Brasil será um foco da política externa sob Trump.

No entanto, destacam possíveis cenários que podem afetar o Brasil levando em conta o governo americano.

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A proposta de tarifa global de 10% sobre todas as importações poderia impactar as principais exportações do Brasil para os EUA, principalmente petróleo bruto, aço semiacabado e café.

Embora tenha havido algumas isenções, como as do Section 232 do Trade Expansion Act (tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio) em troca de cotas para as exportações de aço do Brasil para os EUA, e suspensões temporárias das tarifas sobre o etanol entre ambos os países, não está claro se o Brasil conseguiria garantir tais isenções novamente. A proposta de tarifa de 60% sobre todas as importações chinesas poderia ter um impacto limitado sobre siderúrgicas e mineradoras.

Como os EUA são um grande importador de ferro e aço, e a China provavelmente não ajustaria sua oferta em resposta, essa situação poderia gerar um desequilíbrio entre oferta e demanda, impactando os preços do aço.

Já tarifas para países em geral poderiam levar a um dólar mais forte devido à redução do déficit comercial ao desencorajar importações, resultando em menor saída de dólares. A expectativa também é de maior inflação doméstica e taxas de juros, que, caso o Fed responda com aumentos dos juros, resultariam em rendimentos mais altos que poderiam atrair capital estrangeiro, elevando a demanda pelo dólar.

No entanto, as tarifas poderiam levar a um dólar mais fraco com base em: i) tarifas retaliatórias e exportações mais fracas, reduzindo a demanda pelo dólar; ii) menor crescimento global devido à disrupção das cadeias globais de suprimento, com custos adicionais significativos para as empresas dos EUA; iii) expectativas do mercado por uma política monetária mais frouxa em caso de desaceleração econômica; iv) destruição de riqueza decorrente de revisões negativas no mercado relacionadas às tarifas, que impactariam significativamente o patrimônio líquido das famílias americanas e o investimento estrangeiro direto.

Já potencial guerra comercial com a China poderia levar a uma mudança na demanda chinesa, favorecendo certos exportadores de grãos.

Confira o portfólio sugerido nesse cenário:

CompanhiaSetorTese
SLC AgrícolaAgroDemanda chinesa por grãos muda dos EUA para o Brasil devido à guerra comercial
BrasilAgroAgroDemanda chinesa por grãos muda dos EUA para o Brasil devido à guerra comercial
GerdauMineração & SiderurgiaOperação americana significa que não tem exposição às tarifas; se beneficia de um preço de aço americano mais alto devido às tarifas
Aura MineralsMineração & SiderurgiaOuro como proteção contra a inflação
UniparÓleo, Gás & PetroquímicosSe beneficia de um dólar mais forte (receita em dólar, 1% de dívida total em dólar)
RumoTransportesDemanda chinesa por grãos muda dos EUA para o Brasil devido à guerra comercial


Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.