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Os mercados financeiros têm uma série de ineficiências que impactam sua operação. Entre elas, destacam-se a presença de vários intermediários, que elevam os custos das transações de ativos financeiros; os riscos associados ao descumprimento de obrigações contratuais por parte dos envolvidos; e a prevalência de interesses individuais em detrimento dos coletivos.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), no entanto, parte desses problemas poderia ser resolvido por meio da tokenização. Esse termo se refere ao processo de converter um ativo real ou digital – como uma ação ou título de valor mobiliário – em um token em uma blockchain, o sistema que dá suporte para as criptomoedas.
Leia mais: Tokenização não é digitalização
Os potenciais benefícios da tokenização para os mercados financeiros estão ligados à melhoria no compartilhamento de informações e na programabilidade – a capacidade de um software executar algoritmos predefinidos -, disse o órgão no estudo “Tokenization and Financial Market Inefficiencies”, publicado no final do mês passado.
“Esses efeitos incluem maior mitigação e redução de custos associados à redução de atritos ao longo do ciclo de vida do ativo, reduzindo a necessidade de certos intermediários, automatizando procedimentos, mitigando o risco de contraparte por meio de liquidação simultânea, permitindo liquidação mais rápida e reduzindo atritos de busca”.
O FMI exemplificou como os principais problemas poderiam ser solucionados. Veja abaixo:
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Emissão de ativos
A emissão de ativos exige registros de acionistas e títulos de dívida, geralmente administrados por intermediários como bancos ou empresas fiduciárias. Esses atores que jogam no “meio-campo”, no entanto, têm custos operacionais e cobram taxas de transação.
“Um livro-razão compartilhado (blockchain) e programável pode reduzir alguns dos custos de transação da emissão de ativos. Em um livro-razão compartilhado, nenhum registro separado de proprietários de ativos é necessário porque cada ativo está vinculado à conta do proprietário que o comprou. Os serviços de um registrador, portanto, não são necessários, economizando nos custos de transação dos emissores”, disse o FMI, citando como referência artigos acadêmicos de outros pesquisadores.
Negociação de ativos
Outro risco existente no mercado financeiro é o de contraparte. Em resumo, trata-se da possibilidade de alguém envolvido em uma transação não honrar com suas obrigações. Para ajudar a lidar com esse perigo, a indústria criou algumas entidades conhecidas, como depositários centrais e câmaras de compensação.
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De acordo com o FMI, porém, a tokenização oferece uma rota para superar o perigo de contraparte em negociações imediatas por meio da liquidação simultânea via smart contracts (contratos inteligentes, na tradução para o português).
Esses contratos basicamente são programas que se executam automaticamente quando condições acordadas anteriormente são atendidas. Exemplo: Se o João enviar 1 unidade da criptomoeda Ethereum (ETH) para Maria no dia 10 de fevereiro, então ela vai receber 1.000 unidades da cripto USDC Coin (USDC). Ninguém precisou converter ETH em USDC ou fazer o depósito para Maria. Tudo foi programado previamente.
Leia mais: O que são smart contracts e qual a relação com criptomoedas
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Resgate
Quando uma empresa precisa fazer pagamentos de juros, como dividendos, por exemplo, elas precisam saber quais são os títulos e quem são os acionistas que têm direito. Tudo isso também envolve intermediários e têm custos. Segundo o FMI, esse processo também poderia ser automatizado via tokenização, permitindo que smart contracts realizassem esses pagamentos de forma automática e com menos custos.
Mercado de trilhões
O Boston Consulting Group estima que, até 2030, a tokenização de ativos pode atingir US$ 16 trilhões, o que representa 10% do PIB global. O Brasil, assim como outros países, vem trabalhando com o tema faz alguns anos. Em 2020, por exemplo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) lançou o sandbox regulatório, ambiente experimental regulatório que permitiu o desenvolvimento de iniciativas.
Entre os vários projetos lançados por empresas locais – como a Vórtx QR Tokenizadora, a plataforma de crowdfunding Estar Finance e o mercado de negociação de ações tokenizadas Bee4 – estão ações “digitais” de clínicas de reprodução humana assistida, debêntures de concessões de estacionamentos e até dívidas de motéis.
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