Davos 2025: o que esperar do Fórum Econômico Mundial e da participação brasileira?

Edição deste ano acontece em um contexto desafiador, atrelado à volta do poder de Donald Trump: cenário internacional marcado por incertezas geopolíticas, tensões comerciais e a polarização política

Janize Colaço

Logo do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça
19/01/2024
REUTERS/Denis Balibouse
Logo do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça 19/01/2024 REUTERS/Denis Balibouse

Publicidade

O Fórum Econômico Mundial (WEF) de Davos começou nesta segunda-feira (20) e é tradicionalmente um dos maiores palcos de discussão sobre economia global, tecnologia, sustentabilidade e política internacional. No entanto, junto com uma participação brasileira reduzida, a edição de 2025 acontece em um contexto desafiador: com o cenário internacional marcado por incertezas geopolíticas, tensões comerciais e a polarização política.  

Reunindo líderes empresariais, chefes de Estado e especialistas de todo o mundo, o evento procura alinhar estratégias globais e apresentar soluções para desafios complexos. Ainda assim, o número de participantes em Davos 2025 será impactado por vários fatores. 

No caso do Brasil, questões domésticas desempenham um papel central na escolha de uma delegação mais modesta. Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio-fundador da BMJ, explica ao InfoMoney que a agenda política interna exigiu atenção prioritária do governo.  

Continua depois da publicidade

“Estamos na véspera das eleições para as presidências da Câmara e do Senado, além de uma possível reforma ministerial. São muitos assuntos pendentes no cenário doméstico, o que pode justificar a ausência de uma delegação maior.”

— Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio-fundador da BMJ

De olho no Trump 2.0

Não somente fatores internos afetam a participação brasileira — e de outras nações — em Davos 2025. A posse de Donald Trump para o seu segundo mandato nos Estados Unidos tem gerado expectativas (e incertezas) quanto às políticas econômicas e comerciais daquele país em relação ao restante do mundo. 

Isso porque a reeleição do republicano intensifica questões como protecionismo comercial e cooperação multilateral do país. Sua postura questionadora em relação a acordos globais, como o Acordo de Paris, e sua visão mais “isolacionista” em temas de comércio prometem influenciar não apenas as discussões, mas também as decisões tomadas pelos países participantes.  

Não por acaso, o Brasil não está sozinho na lista de países que estão enviando uma menor delegação de autoridades governamentais. Fábio Andrade, economista e professor de Relações Internacionais da ESPM, destaca que não se trata de uma coincidência, mas de um movimento mundial, por parte dos governos, de terem mais cautela até as primeiras medidas do 47º presidente americano.

Continua depois da publicidade

“Os países querem ter noção do quanto será a guinada do novo governo, não em relação ao antecessor, Joe Biden, mas porque estamos diante de uma administração que promete ser ainda mais radical do que o primeiro mandato Trump.”

— Fábio Andrade, economista e professor de Relações Internacionais da ESPM

Agenda interna e COP30  

Mesmo que reduzida, a delegação que irá representar o Brasil oficialmente conta com os nomes do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, e do governador do Pará, Helder Barbalho.

A delegação, contudo, destoa de edições anteriores, que além da presença de ministros-chave, como Marina Silva (Meio Ambiente) e Fernando Haddad (Fazenda), já contou com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para os especialistas, a atenção aos compromissos internos reforça o foco do governo em questões domésticas

Embora a participação brasileira em Davos seja mais discreta este ano, o evento permanece como uma plataforma estratégica para o país. Como explica Barral, o Fórum é um espaço de networking, onde governos e empresas podem promover reformas, atrair investimentos e apresentar grandes projetos ao cenário global.

Continua depois da publicidade

Welber Barral observa que, no caso do Brasil, os temas prioritários da agenda doméstica são as reformas tributária e fiscal, que não coincidem diretamente com os grandes debates do Fórum deste ano. “Contudo, o país segue sendo atrativo para investimentos internacionais, especialmente em um cenário de maior estabilidade econômica no futuro”, destaca o sócio-fundador da BMJ.

Só que, para Barral, a falta de uma delegação mais robusta por parte das autoridades públicas pode ser interpretada como uma oportunidade perdida de alinhar as agendas de Davos e da COP30, que será realizada em novembro, em Belém (PA). “A sustentabilidade e a ação climática, tópicos centrais no fórum, estão ligados aos preparativos para o evento climático global liderado pelo Brasil.”

Mesmo assim, até lá, as autoridades brasileiras terão outras chances de levantar essa pauta. Fábio Andrade, economista e professor de Relações Internacionais da ESPM, lembra que, até novembro, o país vai participar do Fórum Internacional Sustentabilidade, mas alerta que a decisão pode ter os seus riscos.

Continua depois da publicidade

“É possível que Trump tome medidas para abandonar a agenda de sustentabilidade e pautas ESG. Se isso realmente acontecer, o governo brasileiro pode enfrentar dificuldades e, no pior dos cenários, uma COP30 esvaziada”, diz.

Brazil House na Davos 2025

Enquanto os atores públicos lidam com demandas internas, o setor privado brasileiro toma a frente em Davos. Neste ano, estreia da Brazil House com a participação de grandes empresas e investidores, incluindo nomes como: Vale, Gerdau, Ambipar, Be8, JHSF, BTG Pactual e Randcorp. 

Para Andrade, esse espaço veio em um momento ideal já que ocupa o vácuo deixado pelas autoridades do governo. “É um importante ponto de captação para recursos de investidores externos e essas empresas estão bem cientes dos seus papéis na defesa do interesse nacional.”

Continua depois da publicidade

Já Barral aponta que, de maneira geral, o fórum deste ano e a participação brasileira será mais um espaço de troca de expectativas do que de decisões concretas, dada a conjuntura global de incertezas. “Talvez, no próximo ano, com um cenário global mais claro, o evento volte a ser mais relevante para discussões e tomadas de decisão de entes governamentais”, conclui.