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A atividade econômica está forte, o desemprego está nas mínimas históricas, empresas produzindo e consumidores gastando. Mas, então, o que explica o câmbio acima de R$ 6 e a curva de juros abrindo para os patamares de 2016, pré-impeachment da presidente Dilma Rousseff? Para o economista Marcos Lisboa, é uma resposta ao otimismo exagerado no início do terceiro mandato do presidente Lula, que se reverteu em um pessimismo até maior.
“Foi tanto otimismo que os economistas e agentes financeiros jogaram as contas de escanteio. Quando veio o encontro com a realidade, a frustração foi maior do que o esperado. Erraram no otimismo e agora estão exagerando no pessimismo”, afirmou Lisboa em painel do último dia do Onde Investir 2025, evento promovido pelo InfoMoney.
Para Lisboa, os investidores estrangeiros e locais apostaram muito no Brasil logo que o presidente Lula foi eleito. Ele disse no painel que o clima era de grande expectativa de que o governo iria respeitar as contas públicas, os juros fechariam e o câmbio ficaria controlado. “Mas deu errado”, disse.
Ainda no primeiro ano de mandato a curva de juros abriu e o câmbio subiu. “Isso levou os investidores a terem muitas perdas e desde o ano passado eles começaram a sair do país. Agora, precisa criar condições para eles voltarem”, disse o economista.
Tem o curto prazo…
Lisboa afirma que o Brasil tem problemas de curto e longo prazo. No curto prazo, “o emergencial é garantir que o fiscal não saia de controle”. Para isso, o economista vê como a melhor saída limitar o crescimento dos gastos públicos.
“No Brasil, não tem como cortar gastos de forma relevante. Esse não é um debate no Brasil. Nosso sistema legal limita muito o quanto de ajuste fiscal pode ser feito via corte de gastos. Nossa discussão é limitar o crescimento ou não”, disse.
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No caso de uma limitação eficiente, o economista acredita que os juros fechariam de forma saudável, sem pressão inflacionária, e a perspectiva de crescimento seria melhor para o longo prazo.
Para isso, a agenda mais imediata do país também passa por outro tema, na opinião de Lisboa, o “oportunismo”. O ex-diretor de política monetária do Ministério da Fazenda entre os anos 2003 e 2005 vê muita captura dos recursos da União por pautas que não deveriam sequer ser cogitadas.
“Um tema recente, o envio de verbas para os estados. O meu Rio de Janeiro mesmo. Os estados tomam o dinheiro da União, se endividam, dão aumento para servidores, gastam tudo e ninguém sabe muito bem como, quebram, pedem mais ajuda, e continua nesse ciclo. Mas o resto do país não deveria ter que trabalhar para ajudar o Rio de Janeiro, ou Minas Gerais”, afirma o economista.
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Segundo ele, da mesma forma que as pessoas devem ser responsabilizadas pelos seus erros, os estados também devem. “Que o estado arque com as consequências dos seus gastos e não sequestre os recursos do país.”
… e o longo prazo
Já para o longo prazo, Lisboa vê problemas na segurança jurídica do país. “Não dá para ter tanta volatilidade nas regras. Precisa ter um processo estruturado e não ficar mudando o tempo todo”, diz. Ele argumenta que ter regras e processos claros permite que o investidor não seja pego de surpresa e diminui a volatilidade que prejudica o crescimento do país.
Infraestrutura também é uma questão, segundo o economista. “Há insegurança sobre os marcos regulatórios. Logística e energia precisam de regras mais claras”.
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“Nossas reformas têm problemas graves. No tributário, infelizmente a gente se atrapalhou no fim e caiu nas medidas oportunistas de curto prazo, mudando regras de supetão e gerou insegurança”, disse Lisboa.
O economista argumenta que essa insegurança que se instalou nos últimos meses sobre o mercado financeiro “não veio de graça”. Segundo ele, são meses de falta de clareza e falta de confiança, por regras que não são cumpridas.