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SEUL (Reuters) – Após uma batalha nesta semana em Kursk, região nevada do oeste da Rússia, as forças especiais ucranianas vasculharam os corpos de mais de uma dúzia de soldados inimigos norte-coreanos mortos.
Entre eles, encontraram um ainda vivo. Mas, ao se aproximarem, ele detonou uma granada, explodindo a si mesmo, de acordo com uma descrição do combate publicada nas mídias sociais pelas Forças de Operações Especiais da Ucrânia na segunda-feira.
As forças disseram que seus soldados escaparam da explosão sem ferimentos. A Reuters não pôde verificar o incidente.
Mas o caso está entre as evidências crescentes do campo de batalha, de relatórios de inteligência e de testemunhos de desertores de que alguns soldados norte-coreanos estão recorrendo a medidas extremas ao apoiarem a guerra de três anos da Rússia contra a Ucrânia.
“Autodetonação e suicídios: essa é a realidade da Coreia do Norte”, disse Kim, um ex-soldado norte-coreano de 32 anos que desertou para a Coreia do Sul em 2022, pedindo para ser identificado apenas por seu sobrenome devido ao medo de represálias contra sua família, que ficou no Norte.
“Esses soldados que saíram de casa para lutar lá sofreram uma lavagem cerebral e estão realmente prontos para se sacrificar por Kim Jong Un”, acrescentou, referindo-se ao recluso líder norte-coreano.
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Kim, apresentado à Reuters pelo grupo de direitos humanos NK Imprisonment Victims’ Family Association, com sede em Seul, disse que trabalhou para os militares da Coreia do Norte na Rússia por cerca de sete anos, até 2021, em projetos de construção para ganhar moeda estrangeira para o regime.
Avaliações ucranianas e ocidentais dizem que Pyongyang enviou cerca de 11.000 soldados para apoiar as forças de Moscou na região de Kursk, no oeste da Rússia, que a Ucrânia tomou em uma incursão surpresa no ano passado. Mais de 3.000 foram mortos ou feridos, de acordo com Kiev.
A missão da Coreia do Norte na Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
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Moscou e Pyongyang inicialmente rejeitaram os relatos sobre o envio de tropas da Coreia do Norte como “notícias falsas”. Mas o presidente russo, Vladimir Putin, em outubro, não negou que soldados norte-coreanos estivessem atualmente na Rússia, e uma autoridade norte-coreana disse que qualquer envio de tropas seria legal.
Nesta semana, a Ucrânia divulgou vídeos do que disse serem dois soldados norte-coreanos capturados. Um dos soldados expressou o desejo de permanecer na Ucrânia e o outro de retornar à Coreia do Norte, segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy.
“UMA ÚLTIMA BALA”
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O envio de homens da Coreia do Norte para a Rússia é seu primeiro grande envolvimento em uma guerra desde a Guerra da Coreia de 1950 a 1953. A Coreia do Norte teria enviado um contingente muito menor para a Guerra do Vietnã e para o conflito civil na Síria.
Os Estados Unidos alertaram que a experiência na Rússia tornará a Coreia do Norte “mais capaz de travar uma guerra contra seus vizinhos”.
O líder da Coreia do Norte já havia exaltado seu Exército como “o mais forte do mundo”, de acordo com a mídia estatal. Vídeos de propaganda divulgados pelo regime em 2023 mostravam soldados de peito nu correndo por campos nevados, pulando em lagos congelados e socando blocos de gelo para treinamento de inverno.
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No entanto, um parlamentar sul-coreano informado pela agência de espionagem do país disse que o número de soldados norte-coreanos feridos e mortos no campo de batalha sugere que eles não estão preparados para a guerra moderna, como ataques de drones, e podem estar sendo usados como “bucha de canhão” pela Rússia.
O mais preocupante é que há sinais de que essas tropas foram instruídas a cometer suicídio, disse ele.
“Recentemente, foi confirmado que um soldado norte-coreano corria o risco de ser capturado pelo Exército ucraniano, então ele gritou pelo general Kim Jong Un e puxou uma granada para tentar se explodir, mas foi morto”, disse Lee Seong-kweun, que faz parte do comitê de inteligência do Parlamento sul-coreano.
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Memorandos carregados por soldados norte-coreanos mortos também mostram que as autoridades norte-coreanas enfatizaram a autodestruição e o suicídio antes da captura, acrescentou.
Quando perguntado sobre mais detalhes dos casos a que se referiu, ele se recusou a entrar em detalhes, dizendo que eram informações da Ucrânia compartilhadas com o Serviço Nacional de Inteligência (NIS) da Coreia do Sul. O NIS não respondeu a ligações pedindo comentários na terça-feira.
Os suicídios de soldados ou espiões não apenas demonstram lealdade ao regime de Kim Jong Un, mas também são uma forma de proteger suas famílias que ficaram em casa, disse Yang Uk, analista de defesa do Asan Institute of Policy Studies.
Zelenskiy, da Ucrânia, disse no domingo que Kiev está pronta para entregar soldados norte-coreanos capturados ao líder Kim Jong Un se ele puder facilitar a troca por ucranianos mantidos em cativeiro na Rússia.
Para os soldados norte-coreanos, no entanto, ser capturado e enviado de volta a Pyongyang seria visto como um destino pior do que a morte, disse Kim, o desertor norte-coreano e ex-soldado.
“Tornar-se um prisioneiro de guerra significa traição. Ser capturado significa que você é um traidor. Guardar uma última bala, é disso que estamos falando nas Forças Armadas”, disse.