Dólar valorizado pode disparar preços de eletroeletrônicos? Especialistas respondem

Opinião majoritária é que estoques devem segurar os preços por enquanto, mas que a recente escalada da moeda americana ainda pode gerar aumentos

Iuri Santos

Anúncio do Samsung Galaxy Book4 Ultra (Foto: Reprodução do Instagram/@samsungbrasil)
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Brasileiros que começaram 2025 pensando em renovar algum de seus produtos eletrodomésticos e eletroeletrônicos podem estar reavaliando os planos. Com um dólar alto, a tendência é de um aumento nos preços, embora especialistas considerem uma disparada ainda incerta, ao menos nos primeiros meses do ano.

A moeda americana fechou 2024 cotada a R$ 6,179, alta anual na casa dos 27%. O movimento poderia ter sido mais intenso, não fosse um recuo na última semana do ano que segue até hoje — a divisa fechou em R$ 6,06 na última sexta-feira (17).

Normalmente, um alta como essa tende a ser repassada em produtos como eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Mesmo quando são fabricados no Brasil, muitos dos componentes desses bens de consumo são importados em negociações feitas em dólar.

“Há um impacto grande [entre dólar e preço de eletroeletrônicos], particularmente quando se trata de celular, televisão, computador e notebook”, diz o professor de gestão financeiras na Fundação Vanzolini e da Poli-USP, Michael Roubicek. “Em utensílios domésticos, como linha branca, o impacto não é tão grande porque a indústria local é mais forte”, conta.

O que fica mais caro?

No caso de notebooks, por exemplo, o preço mediano aumentou 28% entre janeiro e dezembro de 2024; para smartphones, a elevação foi de 41%, segundo um levantamento da plataforma de comparação de preços Zoom. Já a variação de um aparelho de ar-condicionado foi de aproximadamente 9%.

Embora um aumento no preço já tenha sido observado em 2024, especialistas consultados pelo InfoMoney ainda consideram difícil cravar se a disparada do dólar no fim do ano deve ter uma influência grande nos preços a curto prazo.

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“Eu acho que no primeiro trimestre a gente não vai ter grande mudança em relação à precificação de produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos”, diz o economista especialista em varejo e consumo e professor de MBAs da FGV, Roberto Kanter.

Sua avaliação é a de que no caso dos eletrodomésticos, há maior chance de segurar os preços, já que as margens costumam ser elevadas e não são produtos aos quais o consumidor costuma ter muita fidelidade às marcas. Assim, a preferência é por apertar margens e seguir competitivo.

Rota do dólar define próximos meses

Paira a dúvida sobre como o comportamento do dólar deve seguir pelos próximos meses, no entanto. Como a moeda americana tem ficado estável nas últimas semanas, pode ser que o efeito seja menos sensível quando as varejistas renovarem seus estoques. Além do mais, muitos dos contratos fechados são pagos a prazo e ainda seguirão pelo valor do dólar na contratação

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“O varejo que teve uma boa Black Friday, teve um Natal mais ou menos, tem um relativo estoque razoável de produtos, está jogando as compras para frente. Ocorre tanto para a compra do componente importado quanto para a compra do produto acabado”, diz Kanter.

Para Roubicek, será inevitável, no entanto, que preços de componentes sejam repassados quando a renovação dos estoques começar. “Certamente haverá uma queda nas vendas, e é ainda mais complicado com os juros, já que a maior parte dessas vendas é a prazo”, afirma.

Em nota, a Eletros, Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, demonstra preocupação com o cenário. Em nota, a entidade disse que a alta na variação cambial “impacta significativamente os custos de produção no Brasil” por conta dos insumos importados.

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Para os consumidores que pensam em comprar um novo produto, um eventual aumento pode limitar as alternativas. Como explica Kanter, o Brasil tem cada vez mais similaridade com mercados maduros, em que a quantidade de componentes eletrônicos dos eletroeletrônicos modernos aumenta o custo de um conserto.

O economista defende que os preços devem se manter estáveis no primeiro trimestre, e o comportamento do dólar nos próximos meses é que vai definir uma eventual guinada.

Iuri Santos

Repórter de inovação e negócios no IM Business, do InfoMoney. Graduado em Jornalismo pela Unesp, já passou também pelo E-Investidor, do Estadão.