Inflação e juros altos: quais cenários o Bradesco BBI projeta para o Ibovespa?

Analistas do Bradesco BBI apontam os riscos e oportunidades no mercado doméstico, além de ajustes em projeções de lucro e PIB

Murilo Melo

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A inflação no Brasil segue acima da meta, enquanto os investidores já se preparam para um possível cenário de aceleração dos preços, semelhante ao ciclo inflacionário de 2014 a 2015, segundo apontou o Bradesco BBI em relatório da última semana.

A curva de juros brasileira, precificando taxas mais altas por um período prolongado, diz o banco, indica uma série de obstáculos para o mercado de ações, com uma pressão acentuada para o Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Valores do Brasil.

Com isso, apesar da atratividade das ações brasileiras quando se analisa a relação do múltiplo preço/lucro (P/L), o alto custo de capital atual limita as perspectivas para uma possível recuperação do valuation em direção à média histórica no curto prazo. Neste sentido, para os estrategistas do BBI, o custo do capital próprio (CoE) é um ponto crucial para 2025 para o mercado doméstico.

Atualmente, devido às expectativas desancoradas em relação à inflação, a curva de juros brasileira está prevendo taxas em torno de 15% para o futuro próximo – versus o histórico dos últimos 10 anos de aproximadamente 11%.

O longo período de política monetária restritiva pode reduzir o crescimento do PIB e dos lucros, além de aumentar os custos e diminuir a rentabilidade das empresas. As previsões de crescimento dos lucros para 2025 já caíram de 20% para 12%, alinhando-se com nova perspectiva econômica, e existe o risco de uma redução adicional para 2026.

Segundo a análise do valuation do Ibovespa, considerando uma perspectiva de crescimento anual dos lucros com base na média histórica de 5%, e assumindo uma taxa de desconto – ou custo de capital próprio – de 15%, a pontuação de referência esperada para Ibovespa deveria ser de aproximadamente 135 mil pontos – correspondente a um múltiplo P/L de 7,5 vezes.

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O Bradesco BBI, assim, conduziu uma análise de sensibilidade do Custo de Capital do Ibovespa, com o objetivo de entender os riscos e recompensas para o mercado. Em um dos cenários, a taxa de juros prevista é de 20,5%, levando a uma queda de até 26% no Ibovespa. Em outro cenário, com taxas reais de dez anos de 7%, o impacto seria menos severo, com um downside de 15%. O cenário mais otimista considera cortes mais rápidos nas taxas de juros, o que poderia resultar em uma valorização de até 36% para o Ibovespa. As análises são mostradas nos quadros abaixo, elaborados pelo Bradesco BBI.

Análise de sensibilidade – Ibovespa 2025 (Fonte: Ágora)

O Bradesco BBI mantém uma posição neutra sobre as ações brasileiras, reconhecendo os riscos e as oportunidades no cenário macroeconômico.

Neste ambiente, enquanto o cenário macroeconômico permanece desafiador e com baixa visibilidade para mudanças, os estrategistas do BBI entendem que a estratégia mais adequada para posicionamento estrutural em renda variável deve focar neste momento em empresas com maior previsibilidade de resultados (evitando os ativos mais cíclicos), poder de precificação – o que facilita o aumento de preços e manutenção da lucratividade em ambientes inflacionários, baixa alavancagem e que, de preferência, vivem um bom momento operacional em seus respectivos setores de atuação.

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Em paralelo, considerando o nível atual do câmbio, os estrategistas entendem que também seja oportuno adicionar empresas com exposição ao dólar ao portfólio.

Confira abaixo as ações destacadas neste cenário pelo BBI:

Ações selecionadas (Fonte: BBI/Ágora)

Considerando um cenário hipotético de reancoragem das expectativas de inflação e melhor visibilidade em relação ao início do ciclo de flexibilização monetária – que resultariam em redução do prêmio de risco implícito nos juros futuros, bem como da taxa de desconto – o BBI avalia que poderia entrar em uma nova dinâmica para a escolha dos setores e ativos.

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Neste contexto, o BBI entende que empresas cíclicas e mais dependentes do cenário macro, sem renunciar aos fundamentos, podem ganhar destaque.

Confira abaixo as ações selecionadas pelo BBI neste cenário:

Ações selecionadas (Fonte: BBI/Ágora)