Santander vê Ibovespa a 145 mil pontos em 2025, mas destaca riscos e muda carteira

O banco diz que a deterioração fiscal continua sendo uma preocupação central para os investidores

Murilo Melo

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O Santander projeta um cenário desafiador para o Brasil em 2025, em que os preços dos ativos devem enfrentar fraquezas pontuadas por breves períodos de recuperação ou estabilização. A preocupação também se estende aos investidores institucionais locais e estrangeiros, que, segundo o banco, estão adotando uma postura mais conservadora, com reforço em posições em caixa e um fluxo reduzido de investimentos externos.

Diante desse cenário, os analistas ajustaram o preço-alvo para o Ibovespa em 145 mil pontos no final de 2025, com um aumento projetado de aproximadamente 20% frente o fechamento da última quarta-feira (18).

Em relatório, o banco diz que a deterioração fiscal continua sendo uma preocupação central para os investidores, o que reflete em uma elevação na curva de rendimento e uma desvalorização acentuada do real. O recente pacote de cortes de gastos, considerado determinante para enfrentar o círculo vicioso de expectativas inflacionárias e aumento das taxas, acabou sendo insuficiente e gerou frustração, conforme o banco. Essa resposta insatisfatória aumentou ainda mais a ansiedade dos investidores, agravando o ambiente econômico.

Além disso, os analistas apontam que o anúncio de uma proposta para elevar o teto de isenção de imposto de renda para R$ 5 mil, financiado pela criação de um novo imposto para pessoas com rendimentos acima de R$ 50 mil por mês, adiciona uma camada adicional de complexidade à perspectiva fiscal.

Em meio a esse cenário, o Banco Central do Brasil (BCB) elevou a taxa Selic em 100 bps para 12,25%, com previsões de dois novos aumentos de mesma magnitude nas próximas reuniões (em janeiro e março de 2025), o que elevaria a Selic para 14,25%. Embora essa medida tenha como objetivo controlar as expectativas inflacionárias, para o mercado de ações, segundo o banco, um ciclo de aperto monetário mais agressivo pode ser prejudicial, já que pode impactar negativamente a atividade econômica e levar a cortes em investimentos e maiores dificuldades financeiras, especialmente para empresas altamente alavancadas.

Os estrategistas do Santander também apontam que os ativos locais estão enfrentando um ambiente de dificuldades, com prêmios de risco elevados e uma alocação já leve do mercado. Embora a curto prazo pareçam subvalorizados, eles afirmam que será difícil reverter essa dinâmica sem medidas mais decisivas e sinais claros de comprometimento com a responsabilidade fiscal por parte do governo.

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Projeções para o Ibovespa

Com as projeções de uma taxa Selic entre 14% e 16,5% durante 2025, o Santander diz que o cenário mais pessimista apresenta um impacto limitado nos lucros totais do Ibovespa. No entanto, setores domésticos como educação, saúde, varejo e transporte podem enfrentar pressões expressivas.

Assumindo uma taxa de crescimento dos lucros de longo prazo de 5,5%, alinhada com um Produto Interno Bruto (PIB) potencial brasileiro de 1,5% e uma taxa de inflação de longo prazo de 4%, o cenário base projeta um crescimento dos lucros do Ibovespa de 10% em 2025. Apesar disso, observa o banco, existe o risco de uma queda nas estimativas consensuais de lucros, especialmente para empresas focadas no mercado doméstico. Essas empresas, afirmam os estrategistas, devem enfrentar maiores custos devido à desvalorização do real e à curva de rendimento pressionada.

Portfólio recomendado

A análise do Santander aponta as perspectivas para os próximos anos de diversas empresas listadas na bolsa brasileira, destacando mudanças na sua carteira recomendada. O banco substituiu a Vivara (VIVA3) pela Raia Drogasil (RADL3), além de trocar a Eletrobras (ELET3) pela Copel (CPLE6). “Essa decisão foi baseada no fato de que a Copel está mais protegida de pressões inflacionárias dada sua significativa exposição ao segmento de distribuição”, avalia.

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Confira a carteira recomendada a seguir:

Carteira recomendada 12/24 (Fonte: Santander)

Ao falar sobre as escolhas do Santander, começando com a Ambev (ABEV3), o relatório acredita que as condições de mercado estão melhorando, permitindo à empresa repassar custos e ampliar margens, apesar da inflação de custos. A companhia mantém uma posição líquida de caixa, funcionando como um investimento com alavancagem reduzida.

A BRF (BRFS3), por sua vez, é vista com otimismo devido ao forte momentum nos lucros, impulsionado por uma geração sólida de fluxo de caixa livre. A expectativa é que a oferta de frango permaneça equilibrada, enquanto a demanda por proteínas acessíveis deve aumentar com o declínio no ciclo de gado. Além disso, os ganhos estruturais com eficiência operacional e melhoria na conversão de caixa trazem confiança na continuidade do crescimento.

A Copel (CPLE6) é outra empresa destacada pelo banco, apresentando uma combinação atraente de avaliação barata e baixo risco. Os analistas lembram que a privatização da companhia ainda não está totalmente precificada, e seus riscos são considerados baixos em todas as linhas de negócios. A distribuição, por exemplo, possui tarifas baixas e alta eficiência operacional, enquanto o segmento de geração enfrenta riscos moderados com relação aos preços de energia e déficit hídrico.

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Direcional (DIRR3) também recebe atenção positiva do Santander, com uma avaliação atraente e potencial para expansão do retorno sobre o patrimônio (ROE). A empresa apresenta um forte balanço patrimonial, suportando crescimento no curto prazo, além de riscos positivos para lançamentos futuros.

No setor financeiro, o Itaú Unibanco (ITUB4) mostra sinais de forte desempenho, de acordo com o Santander, com aumento de Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) e a possibilidade de distribuição de dividendos extraordinários em 2024 e 2025. Combinando isso com uma postura conservadora e capacidade de reter lucros, para os especialistas a instituição apresenta uma perspectiva promissora.

No setor varejista, a Lojas Renner (LREN3) destaca-se pelo recente momentum operacional, com vendas mesmas lojas acelerando e margens expressivas sustentadas por um novo centro de distribuição e uma estratégia de cobrança considerada pelo mercado como eficiente. A empresa é considerada suficientemente barata, com uma recomendação de Outperform.

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Segundo o Santander, o Mercado Livre (MELI34) também continua atraente, devido ao seu posicionamento no cruzamento de oportunidades digitais, apesar do market cap superior a US$100 bilhões. A expansão em fintech e mídia de varejo é vista pelos estrategistas como uma vantagem competitiva, enquanto a Totvs (TOTS3) mantém momentum favorável com crescimento contínuo no segmento de software de gestão e fintech.

Petrobras (PETR3) é valorizada por sua força financeira, com operações de pré-sal e um plano de negócios potente, permitindo dividendos atraentes, avaliam os analistas. Já Porto (PSSA3) demonstra capacidade de expansão no segmento de não bancos, beneficiando-se das elevadas taxas de juros.

A Raia Drogasil (RADL3), líder no varejo farmacêutico, continua a fortalecer sua posição de mercado com expansão acelerada de lojas e decisões baseadas em dados para geração de valor. Smart Fit (SMFT3) também é destacada, com um modelo resiliente e expansão agressiva de academias. Sabesp (SBSP3) e WEG (WEGE3) completam o panorama, apresentando avaliações atraentes e capacidade de entrega consistente no longo prazo, respectivamente.