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Uma combinação de juros mais altos, depreciação cambial e impulso fiscal menos intenso e uma base de comparação mais desafiadora vai tornar o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2025 bem diferente do observado em 2024, dizem os economistas. O crescimento, por exemplo, vai desacelerar dos cerca de 3,5% esperados para este ano para algo próximo de 2,% no ano que vem.
Ou seja, espera-se uma versão um pouco mais turbulenta do “pouso suave” da economia – expressão muito usada em análises sobre os EUA — embora não esteja prevista uma retração muito forte. O desempenho da Agropecuária, por exemplo, será bem melhor no ano que vem do que foi em 2024, quando a contribuição deve ficar negativa, mas estará distante da alta superior a 16% observada em 2023.
Já a contribuição do setor externo tende a ser um pouco melhor, enquanto o consumo das famílias deve mostrar alguma resiliência, mesmo num ambiente de inflação mais alta, crédito mais seletivo e câmbio ainda desafiador.
Tudo isso se encaixa no contexto do “freio de arrumação” do próximo ano, expressão usada pelo economista-chefe da XP, Caio Megale, para classificar o que se espera para 2025.
No recente relatório “Onde Investir em 2025”, ele destaca que, com inflação acima do limite da meta, câmbio desvalorizado em 20% e os sinais de superaquecimento, o país precisa desse pit-stop, com políticas monetária e fiscal mais restritivas, para evitar um ciclo de desancoragem de expectativas que poderia desestabilizar o mercado e pressionar ainda mais o custo de vida dos brasileiros.
“Sem um ajuste fiscal e monetário mais firme, a economia brasileira pode entrar em um ciclo de desancoragem de expectativas, dificultando a previsibilidade de câmbio e inflação. Cabe ao Banco Central e ao governo adotar medidas tempestivas para trazer estabilidade ao mercado”, destacou o economista na apresentação do relatório.
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Uma observação importante que os especialistas fazem para o ano que vem é que os componentes do PIB terão comportamentos diferentes dos verificados neste ano.
Na edição de dezembro do Boletim Macro, do FGV/Ibre, os economistas Silvia Matos e Caio Dianin, disseram que, por conta desse cenário, a projeção de crescimento do PIB foi revisada para baixo, de 2,2% para 1,8%, com uma desaceleração mais pronunciada no 2º semestre.
Eles projetam uma desaceleração mais acentuada do PIB no setores cíclicos – aqueles que respondem mais rapidamente a choques e estímulos monetários — os setores menos sensíveis, chamados de “exógenos” devem ganhar força.
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“Especificamente, as perspectivas para a agropecuária, impulsionada por condições climáticas favoráveis, e a extração de petróleo, devido à inauguração de novas plataformas, são bastante positivas”, projetam os economistas.
Eles dizem esperar que esses setores “exógenos” contribuam com 0,7 ponto percentual para o crescimento previsto de 1,8%, o que representa uma aumento moderado em relação a este ano, que deve ter contribuição estimada de 0,4 p.p.
Para os setores cíclicos, a contribuição deve ser de 1,1 p.p. para o crescimento anual, o que representa uma forte desaceleração em relação a este ano, que teve contribuição estimada de 3,1 p.p.
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Para Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, a história importante no ano que vem não vai ser o PIB, mas justamente a composição das contas nacionais. O especialista concorda que ao menos dois setores devem ir muito bem no ano. Um deles é o exportador, com as vendas externas da agropecuária e o petróleo liderando. O outro, mas uma vez, será o consumo, uma vez que as condições de renda da população devem continuar muito favoráveis, mesmo em ambiente de juros altos.
“O mercado de trabalho segue apertado, os impactos da desaceleração são defasados e tem programas de transferência de renda. Isso tudo favorece o consumo e sustenta o PIB”, afirma.
Por outros lado, Padovani alerta que os setores que dependem do crédito vão sofrer muito, penalizados pelo choque monetário realizado pelo Banco Central. “Construção civil, mercado imobiliário, venda de bens duráveis, todos esses setores devem sofrer muito. Então, vai ser um crescimento menor e setorialmente e regionalmente desigual”, afirma.
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Impacto dos juros
Andrea Damico, economista-chefe da Armor, também vê desaceleração do PIB em 2025, basicamente pelo efeito da política monetária mais restritiva. “Os juros reais estarão elevadíssimos e esse aperto monetário deve contribuir para essa desaceleração importante da atividade.
Ela prevê que o setor Agro vai trazer contribuição positiva, com alta estimada próxima de 4%, após um 2024 que trará contribuição negativa, ou próxima de zero. Mas alerta que não será nem perto dos mais de 16% de alta de 2023.
Damico também acredita que o consumo das famílias deve reagir ao juro mais alto e ao câmbio depreciado. “Isso [o câmbio] vai gerar uma maior inflação. Provavelmente deve ter uma perda real para as pessoas, no rendimento das famílias.
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“A gente vê o investimento cedendo mais do que o consumo. Então, vai desacelerar o consumo ante os níveis atuais, mas provavelmente não vai ter queda, ou variação negativa de consumo, nem no trimestre e muito menos no ano”, estima.
Sobre os investimentos, a projeção é pior por ser uma variável muito mais volátil, que sente muito mais as condições financeiras, alerta a economista. “Isso afeta bastante o investimento, encarece os bens de capital. O investimento deve sentir bastante ao longo de 2025”, afirma.
Na opinião de Andrea Damico, a contribuição do setor externo muito provavelmente ainda seguirá negativa, mas não na mesma proporção deste ano, que acabou tendo uma absorção doméstica muito maior do que o próprio PIB.
“A contribuição do setor externo deve ficar ainda um pouco negativa, mas em menor magnitude do que foi 2024, quando teve uma absorção doméstica bem mais forte. Deve diminuir um pouco essa contribuição negativa”, reforça.
O Bank of America (BofA) diz que a esperada desaceleração da economia motivou uma revisão de expectativas, de um crescimento de 2,5% previsto anteriormente, para 2,0% no ano que vem. Isso devido a três razões principais: o menor impulso fiscal, os efeitos de base por conta do desempenho de 2024 e as taxas de juros acima do nível neutro.
Para o BofA, devido ao alto nível de taxas de juros previsto para o próximo ano, o crescimento do PIB em 2025 provavelmente não será sustentado por um aumento no investimento. “Com o desemprego baixo, as despesas do governo crescendo mais de 2,5% em termos reais e a possibilidade de uma nova safra recorde de soja no próximo ano, o consumo, a despesa governamental e as exportações devem impulsionar a expansão da renda doméstica.”
Safra recorde
Para Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5, a expectativa é que a agricultura se destaque novamente, com mais uma safra recorde. A projeção dele também é que o PIB cresça 2,0% em 2025.
A previsão para a atividade do Itaú em 2025 está em 2,2%, em parte devido a um maior carregamento (“carryover”) estatístico e ao esperado robusto PIB agrícola no 1º trimestre de 2025.
“Ainda antecipamos alguma desaceleração em relação ao forte ritmo de crescimento observado em 2024, em função das reduções nos impulsos fiscal e monetário”, diz o banco em relatório.
No último Relatório Brasil Macro Mensal da XP, existe a previsão que a economia brasileira crescerá a um ritmo mais suave ao longo de 2025, refletindo o aperto adicional da política monetária, o menor impulso fiscal e o fim da ociosidade nos fatores de produção.
Segundo as projeções, a parte do PIB mais sensível à política econômica – a indústria de transformação, a construção e os setores de comércio e serviços – crescerá cerca de 1,5% no ano que vem. Porém, a agropecuária e a indústria extrativa tendem a crescer fortemente, especialmente a produção de grãos.
Pouso suave
A projeção é de uma alta de 2,0% para o PIB de 2025, o que seria uma espécie de “pouso suave” para o Brasil, embora exista um alerta de os riscos estão aumentando, sobre m relação à sustentabilidade fiscal. “Por exemplo, há preocupações crescentes com a dinâmica das concessões de crédito e efeitos negativos nos investimentos privados”, diz a XP no relatório.
Em sua Perspectiva 2025, o Banco Inter diz que os indicadores de confiança não antecipam grande deterioração para a atividade econômica. Com o consumo das famílias ainda robusto e o mercado de trabalho se mantendo aquecido, o PIB deve reduzir um pouco o ritmo de crescimento, para 1,9% no ano que vem.
Entre os segmentos, o banco destaca que a demanda aquecida e os estímulos do governo impulsionaram o mercado imobiliário em 2024, mas que, com juros mais altos, deve haver uma desaceleração no ano que vem.