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A Hapvida (HAPV3) pode dizer que chegou ao final de 2024 com a casa arrumada. A empresa praticamente concluiu a integração de sistemas iniciada há dois anos, a partir da fusão com o Grupo NotreDame Intermédica e outras aquisições. Também fez mudanças em seu conselho administração, dobrando a participação de conselheiros independentes. Meses antes, trocou de CFO, em um movimento que chegou a ser bastante questionado pelo mercado.
O CEO Jorge Pinheiro diz que a Hapvida hoje tem profissionais “mais adequados à filosofia de longo prazo da companhia”. Agora a empresa aponta para uma expansão mais orgânica e estima investir R$ 1 bilhão por ano na ampliação de sua rede própria, para fortalecer a estratégia de verticalização.
“É muito provável que, nos próximos dois anos, a gente ultrapasse a marca de 100 hospitais próprios”, afirmou o executivo, em entrevista exclusiva ao InfoMoney.
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A companhia possui 85 hospitais dentro de um ecossistema de quase 800 unidades assistenciais próprias. São Paulo e Rio de Janeiro devem ter a preferência dos recursos investidos pelo potencial competitivo, mas a empresa não pretende abrir mão de sua diversificação geográfica.
Jorge Pinheiro é filho do fundador da Hapvida, Candido Pinheiro Koren de Lima. O cearense diz que seu estilo de gestão é o da “barriga no balcão”, muito próximo das operações da empresa. Apesar de estar à frente de uma companhia que veio de essência familiar, o CEO reconhece que a Hapvida só chegou a padrões mais elevados de governança com o apoio do mercado de capitais.
Nem sempre o clima é de lua de mel com o investidor. No começo do ano, a Hapvida chegou a perder R$ 3,5 bilhões em valor de mercado em três dias, após notícia veiculada na imprensa afirmar que a companhia descumpria decisões judiciais favoráveis a seus beneficiários – o que a empresa negou.
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O tema da judicialização voltou à baila com os resultados mais recentes da companhia. No terceiro trimestre, a Hapvida aumentou provisões para contingências de ações judiciais. Na teleconferência sobre o balanço, o CEO disse que a empresa deve reformular o modelo de precificação para absorver esse impacto.
Na entrevista ao InfoMoney, Pinheiro falou em busca por melhor qualidade de atendimento a partir de investimentos em tecnologia.
“Os indicadores de qualidade impactam diretamente na remuneração variável e estratégica de toda a nossa empresa”, esclarece.
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A expansão da rede própria também tem sido acompanhada por uma abordagem mais preditiva. A Hapvida tem apostado em programas de prevenção e especializados.
“É a abordagem mais eficiente para lidar com a nova realidade etária do Brasil”, diz Pinheiro.
Confira, a seguir, os principais pontos da entrevista:
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InfoMoney: De que forma a Hapvida planeja alocar recursos daqui para frente?
Jorge Pinheiro: O primeiro bloco de investimentos está sendo direcionado à qualificação e para a criação de uma rede própria assistencial. Pelos nossos critérios, vamos priorizar regiões onde acreditamos existir grande potencial de crescimento e também aquelas em já atuamos, porém carecem de mais rede própria, de proximidade. Estamos investindo principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, que é onde devemos ter novas unidades com maior potencial competitivo. Mas também abrimos novos hospitais nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Além do investimento na construção das unidades em si, tem também a parte de tecnologia, equipamentos novos, diagnóstico, laboratório e suporte hospitalar.
InfoMoney: E como ficam os investimentos em integração de sistemas que têm sido feitos nos últimos anos desde a integração da Hapvida com a Notre Dame?
Jorge Pinheiro: A gente finaliza a integração das operações agora no final de 2024 e não teremos mais esse investimento que foi bem relevante nos últimos dois anos, para customização de sistemas e tecnologias, no sentido de tornar a empresa uma coisa única, né? Então, olhando para 2025, devemos ter pouco investimento em integração de sistemas. Os recursos para tecnologia vão estar muito mais focados em digitalização das operações e inovação.
IM: A unificação é uma etapa vencida?
JP: Está bem próxima de ser vencida. É uma jornada que finaliza agora em dezembro e traz uma série de ganhos em qualidade assistencial, além das possibilidades de captura de sinergias. A padronização é fundamental para uma companhia da nossa dimensão. Temos rede assistencial própria com hospitais nas cinco regiões do país. São quase 90 e há outros em processo de execução, construção e finalização. É muito provável que, nos próximos dois anos, a gente ultrapasse a marca de 100 hospitais próprios. É uma operação muito espalhada, não só nos grandes centros, mas em várias cidades do interior
IM: Como garantir que a padronização não vai prejudicar e a personalização de cuidados e a qualidade percebida pelos pacientes?
JP: Partimos do princípio de que um único sistema para ambulatórios, hospitais e unidades de prevenção traz uma riqueza de dados única. As informações médicas estão cada vez mais caras e importantes, pois permitem definir os melhores protocolos assistenciais. Nesse sentido, temos uma ‘fartura’ única no Brasil e que pouco se vê ao redor do mundo. Com esses dados, conseguimos fazer um diagnóstico precoce, identificar pacientes que possuem tendência a ter algum tipo de doença, em grupos diferentes de patologia. A partir daí, a gente consegue encaminhá-los para programas especializados e manter o paciente mais saudável. O nosso sistema define qual cirurgia vai ter menos chances de uma complicação, de uma infecção e deixar a pessoa por menos tempo no hospital. Em resumo: identificamos as melhores práticas, treinamos toda a nossa rede própria e garantimos que todos estão repetindo aquilo que funciona e tem mais qualidade assistencial.
IM: Que tipo de tecnologia está sendo utilizada na busca por esse incremento de qualidade?
JP: Temos uma possibilidade infinita de uso de tecnologia, com destaque, naturalmente, para a inteligência artificial. É preciso estar constantemente trabalhando na digitalização das nossas relações, seja com o médico, com o vendedor, o fornecedor, e, principalmente, com o nosso usuário. Mais de 60% das nossas consultas, por exemplo, já são marcadas por aplicativos e não mais em call centers. Um paciente que é internado em nossos hospitais consegue acompanhar por quais procedimentos vai passar e suas medicações dentro de um app desenvolvido aqui dentro de casa. Além disso, nós temos a maior experiência brasileira em teleconsulta – são mais de meio milhão por mês, incluindo pronto-atendimento e especialidades.