Galípolo, sobre pacote fiscal: papel do BC não é “falar o que deve ser feito”

Gabriel Galípolo, futuro presidente do BC, afirmou que, pelos indicadores da economia, é lógico supor que a taxa de juros precisará ficar em nível mais contracionista – ou seja, mais elevado

Equipe InfoMoney

Gabriel Galípolo, indicado para a presidência do Banco Central (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)
Gabriel Galípolo, indicado para a presidência do Banco Central (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

Publicidade

O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, reiterou que o papel da autarquia não é dar sugestão de condução da política fiscal, após ser questionado por participantes no evento do Esfera Brasil, em São Paulo (SP), na noite de quinta-feira (28), sobre os debates com o PT e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por quem foi indicado.

“O BC sempre é chamado quando se quer ter o que acontece no mercado. O BC, quando é chamado pelo governo, não vai falar o que deve ser feito”, enfatizou o diretor, que lembrou que o papel da autoridade monetária não é extrapolar a alçada de política monetária, mas explicar o comportamento dos ativos.

Galípolo também teceu elogios ao trabalho do Ministério da Fazenda e da Casa Civil na elaboração do pacote fiscal. “Foi muito importante, presenciei isso”, disse, frisando que “colaborar para a produção de consensos é essencial”.

Quanto você precisa para viver de Dividendos?

Participe do treinamento gratuito Manual dos Dividendos e descubra a estratégia simples e poderosa para viver de renda.

Galípolo afirmou também que, pelos indicadores da economia, é lógico supor que a taxa de juros precisará ficar em nível mais contracionista – ou seja, mais elevado.

“Pelos indicadores, é lógico supor que precisará de juro em nível mais contracionista. Isso [a busca pela meta] pode se dar em doses diferentes, por mais custos, por menos custos, mas esse é um mandato do Banco Central em que a gente segue firme, recebe esse objetivo de perseguição da meta. Ainda que seja, muitas vezes, por um motivo que, para muita gente, pode ser estranho”, afirmou o futuro presidente do BC.

Convívio com taxa maior

Gabriel Galípolo avalia que é um tema complexo explicar a resiliência maior da economia com juros mais altos. “É um tema para essa geração enfrentar”, frisou. “No caso do Brasil, enfrentar isso não tem bala de prata, envolve analisar todos os tipos de dissonâncias que existem para o que são as melhores práticas globais, seja do ponto de vista de políticas públicas no âmbito fiscal, seja no âmbito da taxa de juros, no tema da desindexação, por exemplo”, detalhou.

Continua depois da publicidade

Galípolo pontuou que um elemento que não tem mitigação a juros mais altos é o Tesouro, e lembrou que a taxa fixada pelo Tesouro não é a mesma fixada pelo BC. “Esse convívio com taxa de juros mais alta se faz sentir, sim, em um peso maior sobre o Tesouro”, disse. 

“E eu acho que deveria ser um debate que não envolve só a atribuição do Banco Central, mas também de como é que a gente consegue normalizar as políticas econômicas no Brasil e conseguir aproximá-las do que são as melhores práticas internacionais, para que a gente possa ter mais potência e poder ter o mesmo efeito sem precisar dar uma dose tão alta.”

Meta de inflação

Galípolo enfatizou que discutir a meta de inflação de 3% não é tema para ser debatido por um diretor da autarquia. “Meta, você cumpre e persegue”, reiterou.

Continua depois da publicidade

O diretor voltou a repetir que, uma vez fixada a meta em 3%, cabe ao Copom perseguir o alvo e calibrar a taxa Selic em um nível suficientemente restritivo pelo tempo que for necessário para alcançá-la.

Sobre a relação da autoridade monetária com o mercado financeiro, o futuro presidente do BC ainda fez uma alusão à relação entre o marinheiro e o mar. “Autoridade monetária se queixar do mercado é como marinheiro reclamar do mar”, concluiu. 

(Com Estadão Conteúdo)