Corte de gastos: Analistas projetam pacote de Haddad em R$ 30 bilhões

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney apontam medidas prováveis a serem anunciadas pela área econômica do governo Lula

Marcos Mortari

Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)
Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

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O aguardado “pacote” de medidas de contenção de despesas prometido pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem alimentado expectativas divergentes entre especialistas quanto ao esforço fiscal gerado e as políticas afetadas.

É o que mostra a 59ª rodada do Barômetro do Poder, levantamento feito pelo InfoMoney com algumas das principais consultorias e analistas políticos com atuação no Brasil (saiba mais sobre os participantes e a metodologia adotada ao final da reportagem). Clique aqui para acessar a íntegra.

Segundo o estudo, realizado entre os dias 4 e 8 de novembro, as projeções de 16 dos 17 especialistas consultados para o impacto fiscal das medidas variam de R$ 10 bilhões a R$ 50 bilhões — nível de dispersão que indica o grau de incerteza do momento.

O levantamento mostra que a média das apostas dos analistas políticos ficou em R$ 29,94 bilhões de economia gerada com as possíveis ações ainda não anunciadas. O número é praticamente o mesmo da mediana: R$ 30 bilhões. Uma das consultorias participantes optou por não responder esta pergunta.

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O mercado financeiro aguarda com ansiedade a apresentação de um pacote de medidas de controle de despesas prometido pelo governo federal para depois das eleições municipais, encerradas há quase 3 semanas. A ideia é que o conjunto de ações ajude a apontar para a sustentabilidade do novo marco fiscal e reduza o nível de ceticismo fiscal de agentes econômicos observado nas últimas semanas.

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O Poder Executivo deve se debruçar sobre iniciativas que contenham a evolução dos gastos classificados como obrigatórios, que respondem por mais de 90% do Orçamento Federal e a cada ano crescem acima do limite de 2,5% real estabelecido pelo arcabouço fiscal (o que obriga a realização de cortes cada vez maiores nas despesas discricionárias, que incluem investimentos públicos).

O pacote tem sido objeto de longa discussão entre integrantes das áreas econômica e política do governo. Nos bastidores, são apontados como possíveis caminhos mudanças nas regras de benefícios como o seguro-desemprego e o abono salarial (espécie de 14º salário pago a profissionais com carteira assinada e renda de até dois salários mínimos, ou R$ R$ 2.824,00).

Também estão na lista mudanças em programas como o Benefício de Prestação Continuada (BPC-Loas), além de desvinculações das regras de reajuste em relação ao salário mínimo — sobre o qual também é discutida a imposição de um limite de crescimento. Nos últimos dias, também ganhou espaço a possibilidade da imposição de um teto para o crescimento do salário mínimo, compatível aos limites do arcabouço fiscal (até 2,5% reais por ano), e da inclusão de mudanças na previdência dos militares.

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Na 59ª edição do Barômetro do Poder, os analistas políticos foram consultados sobre a probabilidade que atribuíam para o avanço de algumas dessas iniciativas que circulam nos bastidores. Entre os 9 pontos abordados pela pesquisa, são vistos com mais chances de avançar: 1) a revisão de ineficiências em cadastros e o redesenho de programas sociais; 2) a limitação de programas sociais (como Proagro e seguro-defeso) à disponibilidade orçamentária aprovada na peça do ano respectivo; e 3) a desobrigação de algumas das despesas hoje classificadas como obrigatórias.

Na sequência, aparecem a inclusão de limites para a evolução de despesas obrigatórias; a inclusão de despesas com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) no piso constitucional da Educação; e o combate aos “supersalários” (pauta já em discussão no Congresso Nacional, mas que sofreu significativas mudanças durante a tramitação).

Já na ponta de baixo das probabilidades apontadas aparecem iniciativas como a desvinculação de BPC, seguro-desemprego e pensões em relação à nova política de valorização do salário mínimo; o uso de parte da multa de 40% no saldo do FGTS para “financiar” o seguro-desemprego; e a mudança no conceito de receita corrente líquida (RCL) na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para reduzir os repasses necessários para cumprir o mínimo constitucional da Saúde.

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Veja as probabilidades atribuídas pelos especialistas para os 9 pontos testados:

Como foi feita a pesquisa?

O Barômetro do Poder ouviu 17 especialistas entre os dias 4 e 8 de novembro, através da aplicação de questionário online.

Deste grupo, 12 representam consultorias de análise de risco político ou relações governamentais. São elas: Ágora Assuntos Políticos; BMJ Consultores Associados; Dharma Political Risk & Strategy; Dominium Consultoria; Eixo Estratégia Política; Eurasia Group; MCM/LCA Consultores; Medley Global Advisors; Patri Políticas Públicas & Public Affairs; Prospectiva Consultoria; RGB Consultoria; e Seta Solutions Public Affairs.

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Além deles, participaram do levantamento 5 analistas políticos de forma independente: Antonio Lavareda (Ipespe); Carlos Melo (Insper); Leonardo Barreto (Think Policy); Rogério Schmitt (Espaço Democrático); e Thomas Traumann (Traumann Consultoria).

Conforme previamente acordado com os especialistas convidados, as respostas de cada um são mantidas anônimas, sendo divulgados apenas os resultados agregados.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.