A “epidemia das bets” e o papel das empresas do setor financeiro

Companhias do setor financeiro e de crédito também devem se engajar nessa causa

Fernando Silva

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Nos últimos meses, o Brasil tem enfrentado uma nova crise silenciosa: o crescimento descontrolado das apostas online, conhecidas como bets. Embora o entretenimento faça parte da vida de todos, e parte dos apostadores use os sites com moderação, o impacto financeiro desse fenômeno tem causado dificuldades financeiras para milhões de pessoas, especialmente as mais vulneráveis. 

De acordo com o Banco Central, somente em agosto, mais de R$20 bilhões foram apostados via Pix, sendo que R$ 3 bilhões vieram de beneficiários do Bolsa Família. Isso evidencia um problema crítico: recursos que deveriam ser destinados a necessidades básicas estão sendo consumidos em apostas, expondo famílias ao risco de endividamento e à fragilidade financeira.

Em resposta a essa situação alarmante, o governo federal e órgãos reguladores têm intensificado suas ações para conter o problema. A Febraban sugeriu a suspensão temporária do Pix para transações de apostas, além da imposição de limites para essas operações. Adicionalmente, a Anatel anunciou a remoção de mais de 2.000 páginas de apostas eletrônicas. Além disso, casas de apostas representadas pela Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) anteciparam a decisão do Ministério da Fazenda e vetaram o uso de cartão de crédito para jogos de azar online desde o início de outubro.

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Essas iniciativas demonstram a urgência de regular o setor de apostas para proteger as famílias brasileiras. No entanto, a responsabilidade por essa conscientização vai além das instituições governamentais e da regulamentação. Empresas do setor financeiro e de crédito também devem se engajar nessa causa. 

Essas companhias têm a capacidade de alcançar milhões de clientes e educá-los sobre o uso saudável de crédito e finanças pessoais. Mais do que isso, é essencial que essas instituições utilizem seu alcance e influência para fomentar uma cultura de planejamento financeiro, conscientizando seus clientes sobre os riscos das apostas e os perigos do crédito mal gerido.

No atual cenário, onde a proliferação das bets expõe milhões de pessoas a riscos financeiros, o engajamento das empresas do setor é essencial para que o crédito seja utilizado como uma ferramenta de crescimento e inclusão, e não como um fator de endividamento e dificuldades financeiras. 

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Temos de estar firmemente alinhados com o propósito social de proporcionar inclusão financeira e tomar cuidado com a sustentabilidade do crédito para não causar superendividamento da população. Esperamos que mais empresas do setor assumam essa postura e contribuam para que o crédito seja produtivo e melhore as condições de vida da população ao invés de causar superendividamento, como é o caso do crédito para bets. O combate à epidemia das bets exige uma ação coletiva e coordenada, com regulação rigorosa e um esforço conjunto do âmbito público e privado para proteger os mais vulneráveis. Somente assim poderemos garantir que o crédito e as finanças pessoais sejam ferramentas de desenvolvimento, e não de ruína.

Fernando Silva é CEO e fundador do Jeitto, aplicativo de crédito e consumo voltado para Classes C e D.

Fernando Silva

CEO e fundador do Jeitto