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As relações diplomáticas entre os governos do Brasil e da Venezuela continuam em franco processo de deterioração. Nesta quarta-feira (30), o ditador venezuelano Nicolás Maduro, antigo aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou a convocação do embaixador do país em Brasília (DF).
Maduro exige explicações sobre o que considerou “declarações intervencionistas e grosseiras” do governo brasileiro, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela.
Na diplomacia internacional, a convocação de um embaixador representa uma retaliação de um país a outro.
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No comunicado, o governo Maduro ataca o ex-ministro e atual assessor especial de Lula para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, que fez críticas recentes ao regime venezuelano.
“Amorim tem se comportando mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano e se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas”, diz o governo venezuelano.
Leia também: “Temos de manter uma interlocução”, diz Celso Amorim sobre relação com Venezuela
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Eleições não reconhecidas
Assim como grande parte da comunidade internacional, o Brasil não reconheceu o resultado das eleições presidenciais na Venezuela, realizadas no fim de julho.
Maduro foi declarado vencedor das eleições, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), supostamente derrotando o principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia. O resultado foi recebido com perplexidade pela grande maioria dos países democráticos ocidentais, já que o candidato oposicionista aparecia bem à frente de Maduro em todas as pesquisas dos principais institutos.
A oposição acusou o regime de fraudar a eleição, e diversos órgãos independentes internacionais apontaram irregularidades no pleito. Vários países, como o Brasil e os Estados Unidos, não reconheceram a vitória de Maduro.
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Críticas de Lula
No início de setembro, em entrevista à Rádio Difusora, de Goiânia (GO), Lula reiterou o posicionamento do governo brasileiro, mas descartou romper relações com a Venezuela.
“Eu tive uma grande relação com a Venezuela, que consumia tudo o que a gente produzia neste país. Depois que o [Hugo] Chávez morreu, entrou o Maduro, e as coisas começaram a ter um comportamento diferenciado”, admitiu Lula.
“Conseguimos paz durante alguns anos, inclusive com um referendo que foi feito na Venezuela”, recordou o presidente, referindo-se à sua relação mais próxima com o ex-ditador Hugo Chávez (morto em 2013).
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“O comportamento do Maduro é um comportamento que deixa a desejar. Aqui no Brasil a gente aprendeu a fazer democracia com muito sofrimento”, observou Lula.
O presidente brasileiro, no entanto, descartou a possibilidade de o país romper relações políticas e diplomáticas com a Venezuela.
“O Maduro, como presidente, deveria tentar provar que é o preferido do povo e convocar uma nova eleição, mas ele não faz”, lamentou Lula.
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“A gente não reconheceu o resultado das eleições, mas não vou romper relações e também não concordo com a punição unilateral, o bloqueio, porque o bloqueio não prejudica o Maduro. O bloqueio prejudica o povo. E eu acho que o povo não deve ser vítima disso”, completou Lula, criticando as restrições comerciais e econômicas impostas ao regime pelos EUA e por países da Europa.
Até o momento, o Ministério das Relações Exteriores do governo brasileiro ainda não se manifestou sobre a convocação do embaixador da Venezuela.
Leia, na íntegra, o comunicado do Ministério das Relações Exteriores venezuelano:
“O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela convocou, hoje, o encarregado de negócios da República Federativa do Brasil, com o objetivo de manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras de representantes autorizados pelo governo brasileiro, em particular as feitas pelo assessor especial de Assuntos Exteriores, Celso Amorim, que, comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas. Tais declarações constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países.
Da mesma forma, foi manifestado o total repúdio à atitude antilatino-americana, contrária aos princípios fundamentais da integração regional expressos na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e na longa história de unidade na nossa região. Essa atitude foi consumada pelo veto aplicado pelo Brasil na cúpula dos BRICS em Kazan, pelo qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados como membros associados da referida organização.
Denunciamos, também, o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariando a aprovação do restante dos membros dos BRICS, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva ao povo venezuelano.
Foi expressado que a Venezuela reserva-se, no marco de sua política exterior, o direito de tomar as ações necessárias em resposta a essa postura, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto desenvolvidos até então em todos os espaços multilaterais.
Por fim, informamos à comunidade nacional e internacional que, seguindo instruções do presidente Nicolás Maduro Moros, decidiu-se convocar imediatamente para consultas o embaixador Manuel Vadell, que exerce nossa representação em Brasília.”