Estados Unidos vs China: Onde fica o Brasil nesta briga?

Em meio à reunião da cúpula dos Brics, nomes da economia nacional e internacional buscam entender posição comercial do País

Iuri Santos

(Foto: Kaboompics.com/Pexels)
(Foto: Kaboompics.com/Pexels)

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Olhares atentos são lançados ao Brasil em meio ao agravamento da polarização global entre Estados Unidos e China. Enquanto participa da cúpula dos Brics, na Rússia, o Brasil passa pelo escrutínio de grandes nomes da economia nacional e internacional, atentos às sinalizações quanto ao alinhamento geopolítico brasileiro.

Sob a sombra das eleições americanas, que devem sinalizar para políticas mais ou menos protecionistas, países ainda lidam com a quebra de cadeias de produções globais ocasionadas pelas guerras no Oriente Médio e na Europa e com a instabilidade política agravada desde a pandemia de Covid-19.

Para Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, manter uma posição em que tente agradar a todos não seria sustentável para o Brasil. “Devemos ter de forma muita clara em nossas mentes que somos um país ocidental. Não parece tão claro para muitos”, disse o economista no evento Bloomberg New Economy, em São Paulo, na quarta-feira (23).

“Eu penso, no entanto, que somos naturalmente parceiros comerciais multilaterais. Historicamente, os problemas mais profundos não nos impediram de negociar”, disse Fraga.

Com o mote “nova realidade, novas regras”, relevantes figuras do PIB nacional e mundial estiveram no palco do evento promovido pela Bloomberg. Na abertura do segundo dia de evento, na quarta-feira, o fundador da empresa de dados para o mercado financeiro, Michael Bloomberg, tratou “as questões que nos dividem, que dividem o debate”, como o ponto central do fórum.

Executivos como Wesley Batista, acionista da J&F e integrante do conselho da JBS (JBSS3), e Ana Cabral, CEO da mineradora canadense Sigma Lithium, concordam em uma postura de não-alinhamento com as grandes potências como um benefício para os negócios.

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Wesley Batista avalia que deve haver um esforço de empresários, governos e imprensa para contornar o aumento de tensões. Na JBS as principais plantas de produção se encontram nas Américas, mas a China é o maior mercado consumidor.

“Quando vemos que a China e os Estados Unidos aumentaram as tensões, claro que gera preocupação. Uma preocupação global, eu diria”, disse o executivo no evento Bloomberg New Economy. “O Brasil está fazendo a coisa certa, conversando com todos e buscando formas de encontrar soluções.”

Ana Cabral, brasileira que ocupa a principal cadeira executiva da Sigma Lithium, destaca que há de ser feita uma distinção entre o ponto de vista de nações e de empresas: “Temos que dar um passo para trás e ter uma visão mais ampla sobre a perspectiva das corporações e dos países.”

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A CEO dá como exemplo o mercado de veículos elétricos, cujo lítio usado nas baterias é o principal mineral comercializado pela Sigma Lithium. “Nós também industrializamos óxido de lítio e competimos com a China. Nós competimos, nós ganhamos, e temos clientes lá. Só que a China tem 60% do mercado de veículos elétricos, a Europa tem 30% e os Estados Unidos, 10%”, explica.

Jon Huntsman Jr., ex-embaixador dos Estados Unidos na China, crê que as eleições americanas, agora em novembro, irão responder às frustrações quanto ao funcionamento dos sistemas e às alianças entre os países. Isso pode levar a uma visão mais unilateral e regionalista por parte dos países em relação às duas potências globais.

“Alinhamentos tradicionais serão vítimas de abordagens do tipo ‘faça você mesmo'”, disse o diplomata também em painel do Bloomberg New Economy.

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“Devemos ver a restituição de uma espécie de construção bipolar. Embora a relação entre Estados Unidos e China sigam permeando tudo que veremos acontecer nos próximos anos, devemos ver grupos regionais surgindo, porque países não vão querer apostar em um país diretamente”, argumentou.

Iuri Santos

Repórter de inovação e negócios no IM Business, do InfoMoney. Graduado em Jornalismo pela Unesp, já passou também pelo E-Investidor, do Estadão.