Dólar pode chegar a R$ 6 até o final do ano? Veja o que dizem os analistas

Alta da moeda foi puxada por expectativa de cortes menores de juros nos EUA e eleições americanas

Lucas Gabriel Marins

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O dólar chegou a bater nos R$ 5,73 no início da semana, puxado pela expectativa de cortes menores de juros nos Estados Unidos e o aumento de chances de vitória de Donald Trump nas eleições de novembro. Mas será que a moeda pode alcançar R$ 6 até o final do ano?

De acordo com analistas, as chances são baixas, mas não podem ser descartadas. “Acredito ser um pouco improvável que o dólar fique acima de R$ 6 ao final de 2024, a menos que ocorram choques econômicos significativos”, disse Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.

De acordo com o especialista, um dos pontos que jogam a favor do real frente ao dólar é a postura mais “dovish” (favorável a taxas de juros mais baixas) do Federal Reserve (Fed), que sugere que a moeda norte-americana deve perder força globalmente.

Apesar de os dirigentes do Fed terem descartado novo corte de 0,50 ponto porcentual, 87% dos traders futuros apostam em uma tesourada de 0,25 ponto percentual na próxima reunião de política monetária, marcada para o início de novembro, segundo dados da ferramenta FedWatch.

“Quando o Fed adota uma política de juros mais baixos, isso pode resultar em um fluxo de capital de saída dos EUA para mercados emergentes, como o Brasil, onde os juros podem ser mais altos e oferecer melhores retornos nos diferenciais de juros. Assim, o real poderia se valorizar com o aumento do fluxo de investimentos estrangeiros, já que o Brasil continua oferecendo melhores oportunidades de rendimento”, disse.

Além da política monetária, segundo o especialista, Brasil tem sido beneficiado pelo desempenho de algumas commodities, o que ajuda a manter um fluxo constante de dólares no país, favorecendo a estabilidade cambial. O Ibovespa Futuro operou com alta hoje puxado pela recuperação do minério de ferro, por exemplo.

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O peso das eleições

José Alfaix, economista da Rio Bravo, falou que, em meio ao cenário extremamente volátil, “é difícil dizer” se o dólar deve chegar a R$ 6 nos próximos meses. Ele acredita, no entanto, que as eleições nos EUA devem respingar tanto no real como nas moedas dos demais países emergentes, especialmente se a vitória do candidato republicano se concretizar.

“O aumento da dívida pública deve demandar maior ‘prêmio’ por parte dos investidores no médio-prazo, entretanto, Trump tem um plano de governo mais deficitário, e as políticas protecionistas devem prejudicar mais as moedas emergentes, afetando a demanda por produtos estrangeiros e, por consequência, a balança comercial dos mesmos”, disse.

Embora Trump e a vice-presidente Kamala Harris estejam empatados nas pesquisas, na plataforma de previsões Polymarket, “queridinha” dos investidores do mercado internacional, o candidato republicano aparece com 62,5% de chances de vitória, ante 37,5% da a vice-presidente do país.

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Questão fiscal no Brasil

Além das eleições e da política monetária, outro fator que vem afetando o câmbio é questão fiscal no Brasil. Há ceticismo dos investidores por parte do comprometimento do governo com as contas públicas. Em julho, por exemplo, o presidente e diretor de investimentos da renomada casa Verde Asset, o gestor Luis Stuhlberger, disse que se “PT for ao limite, vai dar saudade do dólar a R$ 5,60“.

Alfaix falou que essa situação é responsável por aumentar o prêmio de risco de investimentos brasileiros. “O aumento do serviço da dívida compromete ainda mais o orçamento já espremido, e entramos em uma bola de neve. Depois de certo ponto, a má gestão das contas públicas excede a relação risco/retorno do investidor, e observamos uma vazão do fluxo financeiro, o que corrobora para a depreciação da moeda”.

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Ele falou, no entanto, que caso aconteça um ajuste das contas públicas e o governo consiga analisar os “problemas do crescimento crônico das despesas obrigatórias”, certamente seria possível observar uma apreciação relevante do real. “O problema é antecipar se esse ajuste realmente acontecerá, e se será compatível com as expectativas do mercado”.

Até onde o dólar pode chegar?

Apesar de o dólar ter batido nos R$ 5,73 nesta semana, o maior valor desde o início de agosto, as casas não acreditam que a moeda termine o ano nessa faixa. A Western Asset, por exemplo, projeta R$ 5,50, mesmo patamar previsto pela gestora Armor Capital. Já a Ativa Investimentos prevê R$ 5,30.

O último relatório Focus do Banco Central, com projeções do mercado financeiro, mostra que a previsão do dólar ao fim deste ano subiu para R$ 5,42, de R$ 5,40 há uma semana. Em 2025, a expectativa é de que a moeda norte-americana atinja R$ 5,40, semelhante à previsão anterior.