Serviços em agosto sinalizam desaceleração, mas consumo das famílias atenua tendência

Economistas dizem que resultado de hoje, aliado ao desempenho da indústria e do varejo, já aponta que economia está perdendo tração; preocupações com inflação podem diminuir caso a tendência permaneça

Roberto de Lira

Doces na Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro (Foto: Pilar Olivares/Reuters)
Doces na Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro (Foto: Pilar Olivares/Reuters)

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A queda de 0,4% no setor de serviços em agosto, aliada à revisão para baixo do resultado de julho (de +1,2% para +0,2%) e ao desempenho no mês das atividades industrial e varejista, comprovam o quadro de desaceleração econômica no trimestre, afirmam economistas. Eles também argumentam que os serviços prestados às famílias, ainda aquecidos, podem servir com atenuador da tendência.

Em análise distribuída pelo Banco Inter, é destacado que a indústria foi o único dos três setores acompanhados pelo IBGE a figurar no campo positivo em agosto, mas mesmo assim com uma variação mais próxima de estabilidade.

“O volume de vendas no varejo e de prestação de serviço recuaram no mês, indicando um cenário de desaceleração da atividade em meio à política monetária mais restritiva”, diz o texto.

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Para o Inter, agora com uma nova fase de alta da Selic e com um último trimestre sem impulsos fiscais excessivos, é esperada uma continuidade dessa desaceleração. O banco digital projeta que IBC-Br (o índice de atividade econômica do BC) de agosto terá uma queda de 0,14%.

O banco comenta que o resultado negativo de serviços em agosto foi resultado da retração das duas atividades de maior peso no índice: Transportes caíram 0,4% e serviços de informação e comunicação recuaram 1% no mês. Enquanto isso, Serviços profissionais ficaram estáveis e serviços às famílias e outros serviços cresceram 0,8% e 1,4%, respectivamente.

“A queda dos serviços no mês veio por parte das atividades mais ligadas à oferta, enquanto a demanda ainda se mostra resiliente. No entanto, o conjunto de dados do mês, incluindo a piora do endividamento das famílias e o aumento do custo do crédito podem influenciar um recuo no consumo à frente”, alerta a equipe de economistas do Inter.

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O banco destaca que o BC tem se mostrado muito preocupado com o nível de atividade e seu possível impacto na inflação, principalmente baseado em novas estimativas de hiato do produto mais apertado, mas diz não ver tanto motivo para essa preocupação.

Além do IPCA de setembro mostrando um núcleo e uma inflação de serviços desacelerando em patamar bastante acomodado, o Inter cita a expectativa de menor impulso fiscal no último trimestre, caso o governo entregue a meta do superavit fiscal, o que terá impacto sobre a demanda como um todo.

Sinais mistos

Já a XP afirma em relatório ter observado sinais mistos em todas as categorias de serviços em agosto. No lado positivo, é citado o grupo dos Serviços Prestados às Famílias, que aumentaram pelo quarto mês consecutivo, refletindo sólidos fundamentos do consumidor.

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Por outro lado, os Serviços de Transporte caíram pelo segundo mês consecutivo, principalmente devido ao fraco desempenho do transporte rodoviário de carga. E os serviços de transporte aéreo também registraram números fracos em agosto.

Sobre a queda no indicador e a revisão feita no dado de julho, a XP adverte que qualquer análise dos resultados deve ser feita com cautela. É citado o caso de “uma grande empresa de espaço publicitário” que estava reportando receitas subestimadas e passou a reportar corretamente valores muito mais altos.

É explicado que os números dessa empresa impulsionaram a receita total de serviços em julho.

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“Em suma, os dados revisados ​​da empresa mudaram substancialmente a curva do grupo ‘Serviços Técnico-Profissionais’. Assim, as receitas reais do setor de serviços aumentaram 0,2% em julho, conforme a série de dados revisada, abaixo do ganho inicialmente relatado de 1,2%. Descontando esse efeito, vemos sinais mistos em todas as categorias de serviços.”

Para a XP, os números de agosto reforçam a visão de que o setor crescerá no 3º trimestre, embora mantendo os sinais heterogêneos entre seus principais componentes. “Prevemos que o setor de serviços em geral aumentará 3,2% em 2024, acima do avanço de 2,4% registrado em 2023.”

Na opinião de André Valério, economista sênior do Inter, o resultado negativo de serviços no mês foi bastante disseminado, com as principais atividades de oferta de serviços variando negativamente, como transportes e serviços de informação e comunicação, enquanto serviços profissionais ficaram estáveis.

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Enquanto isso, as únicas atividades com desempenho positivo foram os serviços prestados às famílias e outros serviços. “Portanto, em conjunto com o restante dos dados de atividade para agosto, temos evidência de uma demanda menos aquecida e esperamos que o IBC-Br varie -0,14% em agosto.”

O Bradesco BBI opina que há sinais que apontam para uma desaceleração econômica no 2º semestre. “O alto nível das taxas de juros e o crescimento mais lento dos gastos públicos são fatores que contribuem para uma economia menos aquecida. Por outro lado, as famílias têm economias substanciais que devem amortecer esses efeitos”, diz o banco.

A expectativa é que a economia cresça 0,4% no 3º trimestre, levando a um aumento anual do PIB de 3,0%.

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Claudia Moreno, economista do C6 Bank, diz que os números de julho e agosto, juntos, indicam desaceleração do ritmo de crescimento, mas sugerem resiliência, indicando que vai haver um terceiro trimestre ainda positivo. “Nossa projeção preliminar é que o PIB do terceiro trimestre cresça 0,6%, abaixo da expansão de 1,4% do segundo trimestre”, estima.

Para ela, daqui para a frente a atividade seguirá perdendo tração, “já que fatores que impulsionaram a economia no primeiro semestre, como os estímulos fiscais, deixarão de contribuir positivamente para o PIB”.

A previsão do C6 Bank é que o PIB tenha um crescimento de 3% em 2024 e de 1,2% em 2025.