Por que a holding da Vale paga mais dividendos do que a própria mineradora?

O dividend yield (taxa de retorno com dividendos) da Bradespar em é quase o dobro do registrado pela Vale

Lucas Gabriel Marins

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A Vale (VALE3) é uma das maiores pagadoras de proventos da B3. O dividend yield (taxa de retorno com dividendos) da mineradora no acumulado de 12 meses é o quarto maior entre as companhias com valor de mercado superior a R$ 50 bilhões. O histórico mostra, no entanto, que pode ser mais vantajoso abocanhar um pedaço do lucro da gigante da mineração por meio de sua holding, a Bradespar (BRAP4).

Fundada no início de 2000 após um desdobramento do Bradesco, a Bradespar é uma holding financeira cujo único ativo em seu portfólio é a Vale. Nos últimos cinco anos e sete meses, segundo levantamento da Quantum Finance, a companhia com valor de mercado R$ 7,39 bilhões distribuiu, proporcionalmente, quase o dobro do lucro para seus acionistas na comparação com a gigante brasileira da mineração.

“As holdings costumam apresentar um dividend yield maior do que as suas subsidiárias porque são frequentemente negociadas com desconto em relação ao valor das participações, resultando em um yield mais alto para os investidores. Além disso, como não estão diretamente envolvidas nas operações de subsidiárias, elas têm menos necessidade de investir lucros, permitindo a distribuição de uma maior parte desses ganhos como dividendos”, explicou Hayson Silva, analista da Nova Futura.

Confira o histórico do dividend yield da Vale e da Bradespar

AnoVale (VALE3)Bradespar (BRAP4)
20192,65%3,64%
20202,75%3,14%
20218,96%11,01%
202219,78%42,69%
20238,09%11,78%
2024*8,03%6,20%
Dividend yield acumulado do período68,75%110,92%
Fonte: Quantum Finance
*Entre 1º de janeiro e 24 de setembro

O mesmo cenário pode ser visto com Itáu (ITUB4) e sua holding Itaúsa (ITSA4), que tem 37% do banco brasileiro. A Itaúsa entregou um dividend yield acumulado de 32,13% para seus investidores entre o início de 2019 e o final de setembro deste ano, enquanto a instituição bancária teve uma taxa de retorno somente com proventos de 25,98% no mesmo período.

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Carteiras de dividendos de outubro


Na carteira de ações de dividendos mais indicadas para outubro, a Bradespar recebeu cinco recomendações entre 12 casas consultadas, ficando atrás apenas da Telefônica Brasil (VIVT3). A Vale não apareceu na lista, mas analistas voltaram a ficar otimistas com a empresa após a recuperação do minério ferro em meio aos estímulos anunciados pela China, apesar da queda das ações. A mesma tese é usada para a Bradespar, que viu seus papéis caírem por causa da recuo da commodity.

“Acreditamos na recuperação das ações (da Bradespar) ao longo de 2024. Essa perspectiva é respaldada pela reabertura da economia chinesa, prevendo-se um crescimento anual de 5%, e pela retomada das demandas por minério de ferro, especialmente no setor de construção”, disse Régis Chinchila, analista de investimentos da Terra Investimentos, em relatório. A corretora aposta em um preço alvo de R$ 26 para o papel da holding da Vale em 12 meses e um dividend yield de 15,54% até o final deste ano.

Apesar do desempenho superior com os dividendos, importante lembrar que a Bradespar depende totalmente da Vale. A holding finalizou o segundo semestre de 2024 com lucro líquido de R$ 535,46 milhões, 206% superior ao mesmo período do ano anterior, puxada principalmente pela mineradora. Seus resultados operacionais são originados do resultado de equivalência patrimonial da Vale.

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Riscos



A oscilação do minério de ferro ainda é um dos principais risco que podem impactar tanto a distribuição de proventos da Bradespar como da Vale. Os preços futuros da commodity na bolsa de Dalian caíram nesta quinta-feira (10), devolvendo parte dos ganhos registrados.

Em relação ao holding, outro fator preocupante é uma ação indenizatória de R$ 1,41 bilhão movida contra pela Litel Participações em 2018, que ainda tramita na Justiça. A empresa alega que a Bradespar descumpriu um contrato de Indenização envolvendo a Elétron S.A. Esse valor “equivale a uma perda potencial de R$ 3,56 por ação”, disse em relatório André Vidal, head de óleo, gás e petroquímicos da XP Investimentos.