Por que anúncios da China decepcionaram mercado e fizeram Hong Kong cair quase 10%?

Falta de medidas concretas levanta preocupações sobre a eficácia do estímulo planejado após forte ânimo com primeiros anúncios

Equipe InfoMoney

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Uma verdadeira montanha-russa. Essa foi a definição sobre o movimento dos mercados chineses na volta de um feriado de uma semana no gigante asiático, com investidores de olho principalmente no detalhamento das medidas de estímulo do país anunciadas semanas atrás.

O sentimento geral foi de decepção com coletiva de imprensa com autoridades chinesas. Com isso, o Xangai Composto, apesar de ter fechado em alta de 4,59%, a 3.489,78 pontos, mostrou uma forte desaceleração nesta terça, já que havia saltado 10%, na expectativa de que Pequim revelaria grandes medidas de estímulo adicionais, o que não se confirmou. Durante coletiva, autoridades do principal órgão de planejamento do país basicamente comentaram detalhes do plano de resgate que havia sido anunciado antes do feriado. Menos abrangente, o Shenzhen Composto avançou 8,89%, a 2.098,77 pontos.

Em outras partes da Ásia, o Hang Seng tombou 9,41% em Hong Kong, a 20.926,79 pontos, à medida que investidores decepcionados com a falta de novas medidas concretas na China aproveitaram a oportunidade para embolsar lucros de ganhos recentes.

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Já no mercado de commodities, o contrato de janeiro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou a sessão do dia com queda de 2,37%, a 783,5 iuanes (US$ 111,15 dólares) a tonelada. No início da sessão, o contrato atingiu o maior valor desde 8 de julho, a 844,5 iuanes por tonelada, impulsionado pelas esperanças, depois frustradas, de mais estímulos.

O chefe da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (NDRC) do país, Zheng Shanjie, disse em entrevista coletiva que o governo está confiante em manter um crescimento econômico estável e saudável e atingir a meta de crescimento anual, mas não apresentou medidas de grande abrangência para reativar a economia chinesa.

A expectativa dos analistas era pelo anúncio de um pacote na casas dos trilhões de yuans, mas Zheng falou apenas na antecipação de 100 bilhões de yuans (US$ 14,1 bilhões) do orçamento para investimentos do ano que vem e outro montante equivalente para projetos de construção, segundo a imprensa local.

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Zheng ressaltou a recuperação do índice de gerentes de compras (PMI) do setor de manufatura, o aquecimento do mercado de ações e a elevação do consumo durante o feriado dos últimos dias, após a implementação de políticas de estímulo.

“A tão esperada conferência desta manhã não conseguiu dar o sinal esperado de mais estímulos fortes”, disse Pei Hao, analista da corretora internacional Freight Investor Services. “Portanto, alguns (traders) liquidaram parte das posições compradas para obter lucro”, apontou, especificamente sobre o movimento do minério de ferro.

Uma série de políticas de flexibilização monetária e estímulos imobiliários na segunda maior economia do mundo nas últimas duas semanas fez com que os preços do principal ingrediente da siderurgia saltassem mais de 20%.

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Para o JPMorgan, as grandes expectativas que foram colocadas para essa coletiva acabaram levando a uma frustração posterior sobre o que efetivamente foi anunciado.

A composição incomumente sênior (presidente da NDRC e quatro vice-presidentes), o timing (o primeiro dia útil após o feriado do Dia Nacional) e a surpresa positiva de medidas de alívio concretas e abrangentes anunciadas na coletiva de imprensa de 24 de setembro, além de uma reunião do Politburo no mês passado, focada em questões econômicas, elevaram as expectativas do mercado para estímulos adicionais concretos, especialmente detalhes do pacote fiscal.

“Isso não ocorreu. Nenhum detalhe fiscal foi fornecido, o que não é surpreendente, pois a NDRC não é responsável pela política fiscal. A função da NDRC é formular e implementar estratégias sobre desenvolvimentos econômicos e sociais nacionais e promover a transformação estrutural”, apontam os analistas do banco.

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Contudo, para eles, o que é decepcionante é que a coletiva de imprensa de hoje não forneceu detalhes concretos sobre medidas de reequilíbrio estrutural. “Por exemplo, enquanto esperávamos políticas potenciais para promover inovação e produtividade, apoiar o consumo e o emprego, melhorar o acesso ao mercado e o tratamento justo para empresas privadas, e abordar problemas de competição excessiva, foi reiterada principalmente a postura política existente nessas áreas, em vez de apresentar novas medidas concretas”, avalia o JPMorgan.

A expectativa é que o governo busque garantir um crescimento econômico sustentável, mas a falta de medidas concretas levanta preocupações sobre a eficácia do estímulo planejado.

(com Estadão Conteúdo e Reuters)

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