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A Áustria realiza eleições gerais no próximo domingo (29) e, conforme as pesquisas têm apontado, o direitista Partido da Liberdade (FPÖ), com histórico de posições extremistas, deve ser o mais votado.
Ainda existem dúvidas se a agremiação conseguirá ter maioria para aprovar mais à frente um nome para governar o país, mas é certo que muitas de suas demandas anti-imigração serão aceitas numa possível coalizão. A curiosidade na disputa deste ano é que o partido acabou recebendo a ajuda inusitada de Taylor Swift e até da cerveja.
Em agosto, os shows que a artista americana faria na capital Viena foram cancelados após as forças de segurança locais – com a ajuda da americana CIA – conseguirem impedir um atentado planejado por membros do Estado Islâmico que pretendia causar “dezenas de milhares” de vítimas, conforme relatórios da inteligência dos EUA divulgados semanas depois. O fato ajudou, portanto, no discurso e na propaganda abertamente islamofóbicos e anti-imigração do partido.
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A outra ponta da história é que um partido político com tema de cerveja, criado de maneira satírica por um líder de banda punk rock em 2015, está com 7% das intenções de um voto que poderia naturalmente migrar em parte para o centro ou a esquerda. Com isso, o partido do roqueiro Mario Pogo pode ser um fator determinante para os nacionalistas chegarem ao poder.
O “Bier Party” já competiu três vezes em sua história, sendo que na eleições gerais de 2019 alcançou apenas 0,1% dos votos. Mas, no ano seguinte, na disputa local de Viena, chegou a 2% dos voto, prometendo desde “fontes públicas de cerveja” até lotes mensais para as famílias, informou o site Semafor. Nas eleições presidenciais de 2022, Pogo concorreu com seu nome verdadeiro (Dominik Wlazny) e obteve 8% dos votos.
Além do efeito Swift-cerveja, o site Hyphen lembra que o FPÖ tem sabido usar bem a agitação interna sobre a alta no custo de vida, a guerra na Ucrânia e a dependência da Áustria do gás russo. “O clima atual é muito antigovernamental, há muito descontentamento”, disse ao site Reinhard Heinisch, professor de política austríaca comparada na Universidade de Salzburgo.
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“O partido da Liberdade tem sido muito eficaz em suas mensagens antigovernamentais durante um momento em que as pessoas se sentem muito desorientadas e confusas”, explicou.
A vida política da Áustria, na verdade, gira em torno de três partidos, o citado FPÖ, o Partido Popular Austríaco (ÖVP), de centro-direita, e o Partido Social-Democrata da Áustria (SPÖ), de centro-esquerda.
Pelas últimas pesquisas, a extrema-direita pode chegar a até 30% dos votos no domingo, cabendo 24% e 21%, respectivamente, para seus dois oponentes diretos. É preciso uma maioria de 50% dos votos para formar um governo, o que força acordo de coalizão
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Nas eleições desde ano o Partido Verde e o Partido Liberal também devem ganhar cadeiras no Parlamento.
Histórico nazista
Os adversários do FPÖ tentam explorar seu histórico problemático. Os dois primeiros líderes do partido, Anton Reinthaller e Friedrich Peter, serviram como oficiais da SS durante a Segunda Guerra Mundial.
Como lembra o jornal britânico The Guardian, partido foi duas vezes o parceiro minoritário em governos de coalizão de curta duração com o conservador ÖVP, depois de terminar em terceiro lugar nas eleições parlamentares de 1999 e 2017 com 27% e 20,5% dos votos, respectivamente.
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Ambas as coalizões terminaram cedo. Lutas internas do FPÖ levaram ao colapso do primeiro em 2002, e o chamado escândalo Ibizagate em 2019 forçou a renúncia do então líder do partido, Heinz-Christian Strache, torpedeando o segundo governo após 18 meses.
Mas sua primeira participação governamental aconteceu apenas em 1983, em um governo de coalizão curiosamente com a centro-esquerda. Naquela época, o FPÖ era liderado pelo moderado Norbert Steger.
Mas seu sucessor, Jörg Haider, ganhou popularidade com uma volta às raízes. Numa entrevista à BBC, ele se referiu aos campos de concentração nazistas como “campos de punição”, disse que os ex-soldados da SS eram “pessoas decentes” e elogiou a política de emprego durante o nazismo.
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O site Inkstick lembra que, sob a liderança de Haider, o FPÖ voltou ao governo nacional em 2000, desta vez numa coalizão com o ÖVP, que conseguiu eleger como chanceler Wolfgang Schüssel, apesar de o partido ter terminado em terceiro nas eleições parlamentares de 1999. Para conter o clamor internacional, Haider ficou fora do gabinete.
Envolvido em crises internas, o partido voltou a despertar paixões a partir de 2015, quando um grande número de refugiados e migrantes chegou à Áustria. Correndo sob o slogan “Sua Pátria Precisa de Você Agora”, o candidato do FPÖ nas eleições presidenciais austríacas de 2016, Norbert Hofer perdeu a disputa para o candidato do Partido Verde por muito pouco, obtendo 46,2% dos votos no segundo turno.
O partido foi bem nas eleições parlamentares de 2017, com seus melhores resultados desde 1999, e teve 25,5% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu em 2024.
Programa
O manifesto do partido para a disputa de domingo é bem claro nas propostas para impulsionar a economia e conter a imigração, informa a Reuters. Fala em não criar novos impostos, isentar de taxas jovens trabalhadores no início da carreira, apoiar jovens adultos por meio de aluguel subsidiado de moradias e em distribuir bônus dedutíveis de impostos para trabalhadores a partir dos 60 anos e que trabalham além da idade legal de aposentadoria.
O programa do partido propõe ainda uma “reimigração” no país, especialmente para pessoas de origem migrante que infringem a lei. Também quer limitar o sistema de bem-estar social e o pagamento de benefícios vinculados à cidadania e cita uma “determinação constitucional que declara que existem apenas dois sexos”. O FPÖ que ainda aprovar uma lei para proibir o “islamismo político”.
Outra linha pregada é o aumento da democracia direta, incluindo a concessão aos cidadãos do direito de aprovar leis por meio de referendos, além de dar aos eleitores o direito de votar para destituir ministros do gabinete ou o governo, também por meio de referendos.