Diferença maior de juro é desafio para a Bolsa no Brasil – mas uma classe pode ganhar

Morgan Stanley cita registros históricos que mostram que períodos de aumento das diferenças entre as taxas do Brasil e dos EUA tendem a ser desafiadores - contudo, ações com "perfil global" podem se beneficiar

Lara Rizério

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Paradoxalmente, o crescimento econômico no Brasil é uma má notícia para as ações, pois pressiona as taxas de juros ainda mais para cima, destaca o Morgan Stanley em relatório de estratégia chamado “Cabo de guerra”.

A reunião do último Comitê de Política Monetária (Copom) foi encerrada com uma alta dos juros de 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano, e trazendo uma mensagem hawkish (dura, mostrando preocupação com a inflação). Enquanto isso, o Federal Reserve cortou os juros em 0,5 ponto, passando para faixa de 4,75%-5% e aumentando a diferença das taxas entre os dois países. As decisões marcaram a quarta vez, historicamente, que houve uma dessincronização nos ciclos de juros entre os EUA e Brasil.

Estrategistas do Morgan Stanley citam registros históricos que mostram que períodos de aumento das diferenças entre as taxas do Brasil e dos EUA tendem a ser desafiadores para as ações brasileiras.

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No entanto, permanecem com uma posição overweight (exposição acima da média) em relação ao Brasil dentro da América Latina, já que os juros dos EUA mais baixos podem trazer fluxo estrangeiro para papéis específicos, especialmente para ações brasileiras líquidas com apelo global.

Dentre as “ações líquidas globais”, estão nomes como JBS (JBSS3), Nu (NY: NU; BDR: ROXO34), Mercado Livre (BDR: MELI34), Embraer (EMBR3) e Petrobras (PETR4).

Além disso, para o banco, embora a diferença entre as taxas de curto prazo entre EUA e Brasil devam se alargar ainda mais, as taxas de longo prazo tendem a ter uma diferença menor, favorecendo histórias de fluxo de caixa estável, como shoppings e concessões.

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O banco aponta que o real pode se fortalecer, o que reduziria a volatilidade total e o risco nas ações brasileiras. A expectativa é de que as taxas de 10 anos estejam mais propensas a cair do que se subir, devendo beneficiar as já mencionadas ações de empresas de concessões, shoppings, além de produtos de consumo básico e utilities (energia e saneamento) no Brasil. Enquanto isso, o Morgan está cauteloso com as companhias de consumo cíclico.


Para o Morgan, não há razão para uma grande reestruturação de portfólio. Os investidores locais no Brasil, que estão próximos da mínima histórica de exposição a ações domésticas, serão menos propensos a adicionar risco agora.


O banco também aponta que, no seu portfólio de América Latina, o Brasil continua sendo favorecido em relação ao México em termos de política e risco econômico, enquanto o Chile parece cada vez mais atrativo.

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A XP também destaca a “dessincronização” entre os juros nos EUA e no Brasil, apontando dois lados da moeda.

O movimento do Fed deve ser positivo para o aumento de tomada de risco por parte dos investidores globais, beneficiando o Brasil e os mercados emergentes de forma geral. Antes mesmo do início dos cortes, houve uma entrada muito significativa de investidores estrangeiros na Bolsa brasileira, impulsionando a forte alta do Ibovespa em julho e agosto.

Por outro lado, a decisão do Copom adiciona mais cautela para a Bolsa. Juros mais altos tendem a aumentar o custo de capital para as empresas, e tende a pressionar a economia em geral. Além disso, tornam a Renda Fixa mais atrativa, canalizando os fluxos de investidores Pessoa Física para essa classe de ativos.

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Nesse cenário, continua com um posicionamento defensivo em Bolsa brasileira, mas acredita que há boas oportunidades. “Apesar de taxas de juros altas domesticamente, vemos as ações brasileiras muito descontadas em relação à Renda Fixa”, avalia a XP.

Compasso de espera

Nikolaj Lippmann, Juan Ayala e Julia Nogueira, estrategistas que assinam o relatório do Morgan, apontam que a divergência na política monetária entre Brasil e EUA é atualmente o principal ponto de debate entre investidores globais e locais que acompanham os ativos brasileiros.

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Para os estrategistas, se o BC entregar o que está precificado, será uma má notícia para a classe de ativos. No entanto, considera improvável que isso aconteça em meio a um cenário de crescimento global enfraquecido e um ciclo de afrouxamento nos EUA, o que poderia proporcionar um ponto de entrada interessante. “Nossa equipe econômica do Brasil prevê um ciclo de aperto mais moderado do que o precificado pelo mercado”, avalia.

Em conversas com clientes, o banco ressalta que os investidores estrangeiros de ações continuam a ter dificuldades para entender os cerca de 200 pontos base de aumento dos juros que o mercado atualmente projeta para a taxa Selic no ciclo de alta em andamento até junho de 2025, especialmente quando o Fed deve entregar cerca de 230 pontos base de cortes durante o mesmo período. “De fato, na semana passada, o Fed reduziu as taxas em 50 pontos base, enquanto o BCB aumentou em 25 pontos base, resultando em um aperto relativo de 75 pontos base.

No Brasil, o banco central destacou a resiliência da atividade econômica, o que levou a uma reavaliação do hiato de produção para o território positivo. No entanto, os riscos de uma aceleração no ritmo de aumento para 50 pontos base permanecem, devido à alta previsão de inflação do BC ao longo do horizonte relevante.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.