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O candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo (SP0, Pablo Marçal, vem tendo de responder, frequentemente, durante a campanha eleitoral deste ano, a questionamentos sobre sua prisão e condenação, em 2005, por suposta participação em um esquema de fraudes bancárias em Goiás.
No último fim de semana, o UOL publicou trechos de conversas obtidas por meio de grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal (PF), no âmbito dessa investigação.
Em 2010, o empresário foi apontado como suposto participante do grupo que teria desviado dinheiro de bancos em meados de 2005 – na época, ele tinha 18 anos.
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O grupo criava sites falsos de instituições financeiras, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, e mandava e-mails acusando pessoas, falsamente, de inadimplência. Os criminosos roubavam dados e informações das vítimas e, ainda, “infectavam” computadores e dispositivos digitais com programas conhecidos como “cavalos de Troia”.
Marçal reconheceu que chegou a colaborar com o grupo, mas sempre garantiu não ter conhecimento de qualquer ilegalidade praticada. Ele foi condenado, mas teve a pena extinta em 2018, por prescrição retroativa.
As gravações
Nas gravações, o empresário e influenciador, que hoje disputa a prefeitura da maior cidade do país, conversa com Danilo Oliveira, que era pastor de uma igreja frequentada por Marçal e é apontado pela polícia como o líder da quadrilha.
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No áudio, Marçal diz a Danilo que está capturando os e-mails: “O negócio está bom hoje”. Ele também ouve críticas ao seu trabalho: “Muito ruim, tem que prestar atenção nisso aí”. Na conversa, Marçal é repreendido por usar o apelido “Delegado Federal” em conversas via MSN Messenger.
Em outro trecho do diálogo, segundo o UOL, Marçal pede dinheiro a Danilo: “Uns quarenta ‘conto’”.
As conversas foram inicialmente publicadas pelo jornal O Globo, no dia 21 de agosto, mas sem os áudios, agora obtidos pelo UOL.
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Bronca do pai
Ainda de acordo com a reportagem do UOL, Pablo Marçal recebe uma bronca de seu pai, em uma das conversas grampeadas, por ter se envolvido com o grupo de hackers.
“Já saí daquilo”, afirma Marçal. “Já saiu?” Eu não quero nunca que você mexa com aquele troço. Honra teu pai e tua mãe”, diz o pai do hoje candidato.
Transcrição dos áudios
De acordo com os áudios obtidos pelo UOL, no dia 3 de agosto de 2005, Danilo Oliveira ligou para a casa de Pablo Marçal:
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Priscila: Alô.
Danilo: Quem fala?
Priscila: É a Priscila.
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Danilo: Cadê o Pablo?
Priscila: O Pablo tá trabalhando lá no Danilo. Quem é?
Danilo: Danilo (risos).
Priscila: Ah, é você? Ah, ele não tá aqui, não.
Danilo: Ele tá com outro celular lá, não?
Priscila: Ele deixou o celular aqui ontem para carregar.
Danilo: Sei. Então tá bom. Ele tá sem celular, né?
Priscila: Tá.
Danilo: Tá bom, obrigado.
No dia 16 de agosto, Marçal pede dinheiro a Danilo:
Danilo: Alô?
Marçal: Fala, pastor!
Danilo: E aí, garoto?
Marçal: Bom? Tá longe?
Danilo: Não, tô chegando em casa pra almoçar.
Marçal: Posso passar aí?
Danilo: Tô até meio sem dinheiro, do que você precisa?
Marçal: Ah, de uns 40 conto tá bom.
Danilo: Oi?
Marçal: Uns 40 conto tá bom.
Danilo: Só uns 40? 40 é muito… Tem que ser só uns 20…
Marçal: Então só arruma 30 e aí nós fica feliz.
Danilo: Chega aí pra nós ver o que que faz.
Marçal: Falou, então.
Já no dia 19 de agosto, Danilo chama Marçal para “trabalhar” em sua casa:
Danilo: Garoto, preciso de você urgente.
Marçal: Pó falar.
Danilo: Não, trabalhar, ué. Cê tá onde?
Marçal: Tô em casa.
Danilo: Então desce aqui para minha casa urgente.
Marçal: Então falou.
Danilo: Para nós organizar uns trem ali. Porque eu vou viajar domingo e preciso organizar uns trem e conversar com você.
Em 20 de agosto, Marçal diz à namorada que estava “brincando” com um revólver:
Marçal: Eu estava brincando agorinha de atirar com revólver.
Namorada: Ah, é? Que brincadeira sem graça.
Marçal: Ele colocou o revólver em mim, e eu com colete. Aí ele tava fingindo um assalto. E eu fui tirar minha carteira, e ele pensou que eu estava dando uma de bobo. E eu arrumei a mão no revólver. Ele meteu bala. Ele pegou lá dentro da igreja. Aí eu fui atirar nele. Ele pensou que era esperto demais, né? Na hora que ele deu qualquer movimento, eu meti um tiro na barriga dele. Aí ele caiu para trás, porque é pesado levar um tiro no colete. Foi massa. Os meninos ficou doidinho.
Em 21 de agosto de 2005, há um novo diálogo entre Marçal e Danilo:
Marçal: Tô capturando aqui, chefe. Negócio tá bom. Negócio aqui em casa tá bom. Capturei hoje o dia inteiro.
Danilo: Mas tem que prestar atenção nas listas. Você vê, aquela lista que você fez, com o JC (software) aqui em casa, muito ruim. A minha que eu fiz, muito boa, tudo bom, quase tudo bom, entendeu? Tem que prestar atenção nisso aí, ver como que tá fazendo. O que é e tal. O segredo é olhar os webmail direitinho.
Ainda no dia 21, Marçal é cobrado pela qualidade dos e-mails que estaria “capturando”:
Danilo: Quero ver a produção de email capturado. Aquele email que você capturou no primeiro dia não tava bom, não.
Marçal: Da primeira vez?
Danilo: É.
Marçal: Os que eu tô pegando não tem como eu enviar de lá, não?
Danilo: É mais para capturar, filho.
Marçal: Então tá.
No dia 24 de agosto, há uma nova conversa entre Danilo e Pablo Marçal:
Marçal: Faz o seguinte, eu coloco os que eu for enviar pra depois você entrar e enviar depois… Você fez dois emails, não fez? Eu entro no seu email, com a senha daquele ‘primocorreria’, mando dele pro meu, só que fica salvo dentro do seu. Aí esse ‘primocorreria’ é o que eu vou mandar. Agora os que eu for mandar pro ‘primocorreria2’ é pra você enviar. Entendeu?
Danilo: Beleza. Então se for mandar hoje já manda pro ‘primocorreria2’.
Marçal: Eu vou mandar agora pro ‘primocorreria2’.
Em 24 de agosto, o chefe do esquema repreende Marçal pelo uso do nickname “Delegado Federal” no MSN Messenger:
Marçal: Tô mandando seu trem aqui agora. Zipado, aqui. (…) Os capturados. (…)
Danilo: Tira essa porra de ‘Delegado Federal’ aí, pô.
Marçal: Ué, por causa de quê?
Danilo: Cê é doido.
Marçal: Vou tirar aqui, só por sua causa, então.
Danilo: Eu chego aqui e vejo essa porra de ‘Delegado Federal’ no meu MSN, rapaz.
No dia 26 de agosto, dias antes de ser preso, Marçal conversa com seu pai:
Marçal: Já saí daquilo.
Pai de Marçal: Já saiu?
Marçal: Já
Pai de Marçal: Graças a Deus. Eu não quero nunca que você mexe com aquele troço. Mesmo que você trabalhe de servente, honra teu pai e tua mãe. O nome vale mais que ouro fino, prata fina, liga a televisão pra você ver.
Preso por 2 dias
Pablo Marçal foi preso no dia 31 de agosto de 2005, em casa, e liberado depois de 2 dias. Em depoimento à PF, ele detalhou o funcionamento do esquema criminoso e entregou os comparsas.
Marçal foi condenado, em primeira instância, a 4 anos e 5 meses de prisão por furto qualificado, em abril de 2010, mas não cumpriu a sentença. Em 2018, a pena foi prescrita.
O que diz Marçal
Procurada pela reportagem do InfoMoney, a assessoria da campanha de Pablo Marçal ainda não se manifestou sobre a reportagem do UOL. O espaço segue aberto ao candidato.
Em diversas declarações recentes, quando questionado por jornalistas em entrevistas coletivas sobre o caso, o candidato do PRTB tem afirmado que “não teve lucro” com a participação no esquema.
“Ano que vem, que é 2025, vai fazer 20 anos disso. Eu ganhava R$ 350 trabalhando para esse cara. Ele me colocava para consertar computador e pedia algumas coisas. Lá na sentença está escrito que eu não auferi lucro nenhum”, disse. Marçal.
“[Marçal] era unicamente encarregado de promover a manutenção dos computadores de Danilo e arrecadar listas de endereços eletrônicos, trabalhando, assim, como prestador de serviços”, explica a defesa de Marçal, no processo.
Em sabatina na GloboNews, na semana passada, Marçal voltou a minimizar o episódio.
“Queria ser uma pessoa que nunca foi processada, um menino que nem ‘peida’. Mas não foi assim. Infelizmente, fui injustiçado. Muitas coisas na minha vida foi bobeira mesmo que eu fiz, todo mundo erra. A gente tem um presidente que fez a maior quadrilha e vocês estão pegando em coisa que eu peguei R$ 350 para ajudar na minha casa?”, indagou o candidato.