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A cautela e a prudência devem ser a marca das decisões de política monetária dos principais bancos centrais da América Latina nos próximos meses, quando as grandes economias globais devem iniciar ou manter seus ciclos de reduções graduais das taxas de juros.
Como os choques globais são apenas uma parte da história, é preciso observar as divergências no processo de desinflação e o momento de cada BC dentro de seu próprio ciclo de normalização, que estão aumentando.
A análise é do economista Francisco Nobre, da área de Macro Research da XP, que reforça o fato de as histórias de inflação na América Latina estarem em momentos similares, mas diferentes.
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“Assim como nas economias desenvolvidas, todos os países da América Latina viram uma rápida desinflação de bens devido à melhora nas cadeias de suprimento, deflação exportada pela China e fraco comércio global. Mais recentemente, a inflação de serviços diminuiu em muitas economias, apesar de mercados de trabalho ainda apertados”, comentou em seu relatório.
No entanto, o momento de cada país em seus processos de desinflação varia por conta das diferentes posições cíclicas de cada economia e políticas de estímulos diferentes aplicadas pelos governos.
Ele observa, por exemplo, que no Brasil indicadores recentes sugerem que a política monetária não está suficientemente restritiva, o que deve levar a altas de juros. Já no México, o início do ciclo de cortes do Federal Reserve certamente ajudará o Banxico a reduzir as taxas, enquanto os BCs da Colômbia, Chile e Peru tendem a manter sua flexibilização gradual.
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UUm fator de grande relevância e que deve trazer influências para a região é que o Fed americano ganhou confiança para reduzir a taxa de juros. Uma vez que dados recentes de inflação nos EUA foram benignos, aliviando as preocupações do início do ano de que a economia estava superaquecida.
“Os números referentes ao terceiro trimestre serão cruciais para determinar se a melhoria é sustentável”, explicou Nobre. Ele disse não ver ainda sinais claros de recessão no país. “Os dados ainda estão voláteis, e a menos que surjam sinais preocupantes de recessão, o Fed provavelmente optará por uma abordagem gradual em seu ciclo de flexibilização monetária”, completou.
A XP espera três cortes de 0,25 ponto percentual nos Estados Unidos até o final do ano.
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Em relação aos preços, a inflação tem desacelerado de forma generalizada, incluindo no setor de serviços – o setor mais pressionado ao redor do mundo. Ademais, o mercado de trabalho está mais equilibrado, e o ganho real de emprego e o crescimento salarial moderaram consideravelmente. Este é um fator que tende a contribuir para o alívio das pressões sobre os preços dos serviços. No geral, os dados mostram que a economia está esfriando, respondendo à política monetária restritiva.
Nobre também citou os riscos geopolíticos, que têm limitado a queda nos preços das commodities como um fator a ser considerado. “Apesar da pressão crescente das tensões geopolíticas no Oriente Médio, os preços do petróleo Brent caíram cerca de 10% desde o último relatório, devido principalmente às crescentes preocupações com uma recessão nos EUA, maior consumidor de petróleo do mundo”, lembrou.
Além disso, dados fracos no setor manufatureiro nos EUA e na China agravaram o receio de menor consumo da commodity. “Preços mais baixos do petróleo podem contribuir para a redução das pressões globais sobre preços no curto prazo. No entanto, os riscos geopolíticos persistentes devem impedir que os preços do petróleo caiam de forma significativa”, previu.
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Brasil
Em sua análise, Nobre destacou que a inflação no Brasil foi benigna no primeiro semestre, com o índice de serviços desacelerando notavelmente. Enquanto isso, o núcleo do IPCA tem mostrado uma tendência consistente de alívio, com a variação de 3 meses dessazonalizada e anualizada rodando ao redor de 3,0% a 3,5%, próximo da meta de 3% do BC.
Para o economista da XP, embora essas tendências sejam encorajadoras, os dados de julho e a expectativa de um segundo semestre mais desafiador devido à combinação de depreciação cambial, aumento das expectativas de inflação, mercados de trabalho apertados, crescimento econômico sólido e política fiscal expansionista.
Daí veio a revisão da projeção da XP para o IPCA, que deve encerrar o ano em 4,4%, ante os 4,1% estimados anteriormente.
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Por conta disso, o economista disse acreditar que o Copom deve iniciar um ciclo moderado de ajuste monetário já em setembro, com a taxa Selic atingindo 12,00% ao final do ano.
Seriam então três altas este ano, uma inicial de 0,25 p.p., seguida de duas altas de 0,50 p.p., e depois uma final de 0,25 p.p., em janeiro do ano que vem. Para Nobre, é provável que o Copom encontre espaço para cortes no final de 2025 ou início de 2026.
México
No México, a perspectiva inflacionária de curto prazo melhorou amplamente, segundo o relatório, com o núcleo do IPC desacelerando para sua média histórica e rodando em 3,2% nos últimos três meses. No entanto, a inflação de serviços tem rodado em torno de 5%, o dobro da inflação de bens, e os preços de alimentos e energia seguem muito voláteis.
O BC mexicano (Banxico) já fez um corte em sua taxa de referência em 0,25 p.p. para 10,75% em uma decisão apertada do colegiado e a XP espera cortes adicionais, se a inflação permitir. O desempenho do componente de serviços no último IPC foi preocupante, embora o conselho tenha optado por cortar mesmo assim. É algo a ser monitorado juntamente com os riscos domésticos, incluindo a recente depreciação cambial.
“O início do ciclo de cortes do Fed certamente ajudará o Banxico a reduzir as taxas. Se o Fed decidir acelerar seu ritmo de cortes para 0,50 p.p. por reunião, o Banxico provavelmente seguirá essa decisão. Prevemos uma taxa de juros terminal de 8,0%.”
Colômbia
A Colômbia também avançou muito em seu processo de desinflação, com o índice geral caindo de um pico de 13,3% em março de 2023 para 6,9% em julho de 2024. E o núcleo da inflação caiu de 10,5% para 5,8% no mesmo período.
No entanto, Nobre frisou que a diferença entre bens e serviços tem aumentado, com a média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada em 0,7% e 7,2% em julho, respectivamente. “A queda na inflação permitiu ao BanRep continuar ajustando o nível de restrição da política monetária, embora com cautela, já que a inflação ainda está bem acima da meta de 3%. Esperamos que a inflação encerre o ano em 5,4%.”
Chile
O Chile é, no entendimento do economista da XP, o país mais avançado em seu processo de desinflação na região, com a inflação geral e o núcleo da inflação atingindo mínimas de 3,2% e 2,6%, respectivamente. No entanto, ele ponderou que o governo chileno anunciou recentemente uma reversão na dinâmica dos preços devido a aumentos regulatórios nas tarifas de eletricidade que estavam congeladas por cerca de cinco anos.
“Esses aumentos começaram a ser refletidos nos dados de junho. O impacto geral deve ser de cerca de 1,5 pontos percentuais na inflação nos próximos 12 meses, o que deve manter a inflação acima da meta durante esse período”, previu.
Sobre o efeito disso na política monetária, a XP acredita que o BCCh deve seguir com o seu plano de cortes graduais, porém menos frequentes. “Esperamos cortes de taxa de 25 pontos-base a cada duas reuniões, até chegar na taxa terminal de 4,50% em 2025”.
Peru
No Peru, o estudo destacou que o BCRP reduziu sua taxa de juros em 0,25 p.p. para 5,50% em sua reunião de agosto, desafiando as expectativas dos analistas de manutenção pela terceira vez consecutiva.
“As autoridades sinalizaram que as próximas decisões seriam dependentes dos dados. O BCRP antecipa que a inflação anual se estabilize perto do meio do intervalo da meta de 1%-3% no futuro próximo, o que deve permitir ajustes adicionais. A taxa de juros deve cair para 5,0% até o final do ano e para cerca de 4,0%-4,5% até meados de 2025.”
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