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SÃO PAULO (Reuters) – As taxas dos DIs fecharam a quinta-feira em forte alta, precificando 100% de probabilidade de o Banco Central subir a taxa básica Selic em setembro, na esteira de novo discurso duro contra a inflação do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, e da alta dos rendimentos dos Treasuries no exterior.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 — que reflete a política monetária no curtíssimo prazo — estava em 10,749%, em alta de 9 pontos-base ante os 10,749% do ajuste anterior.
Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,595%, ante 11,446% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,605%, ante 11,413%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,68%, ante 11,49%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,65%, ante 11,466%.
As taxas futuras se firmaram em alta já no início da sessão, refletindo o avanço firme dos yields dos títulos norte-americanos no exterior, após novos dados econômicos dos EUA.
O Departamento de Trabalho informou que o número de pedidos iniciais de auxílio desemprego subiu para 232.000 na semana encerrada em 17 de agosto, ante 228.000 pedidos revisados para cima na semana anterior.
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O resultado reforçou o argumento de que há um esfriamento do mercado de trabalho norte-americano, com operadores elevando as apostas de um corte de 25 pontos-base dos juros na reunião de setembro do Federal Reserve — e não de 50 pontos-base, como chegou a ser precificado.
O viés positivo para as taxas dos DIs foi reforçado à tarde, com a participação de Galípolo em evento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em São Paulo.
Em um discurso duro, Galípolo afirmou que suas falas recentes não colocaram o BC em um “corner” em relação ao que será feito com a Selic em setembro, mas repetiu que a autarquia subirá a taxa básica se necessário.
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Nos últimos dias têm ganhado força entre instituições financeiras a avaliação de que, em função de falas recentes de Galípolo, consideradas hawkish (duras com a inflação), o BC terá que subir a Selic em pelo menos 25 pontos-base em setembro mesmo em meio à relativa melhora do cenário externo, já que as taxas futuras precificam isso.
Na prática, seria uma profecia autorrealizada: a fala de Galípolo forçou a alta das taxas dos DIs, que passaram a precificar Selic maior no curto prazo, e o BC seria obrigado a elevar a taxa básica justamente para não estressar ainda mais a curva a termo.
No evento em São Paulo, Galípolo disse discordar “respeitosamente” das interpretações do mercado sobre o BC ter ficado em um “corner”, em referência a uma situação difícil.
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Ao mesmo tempo, ele manteve o discurso duro das últimas semanas: “Inflação fora da meta é situação desconfortável, e ter que subir juros é situação cotidiana para quem está no BC”, afirmou.
Os comentários de Galípolo reforçaram a percepção de que uma alta da Selic está de fato a caminho, o que deu fôlego extra às taxas dos DIs. O trecho curto da curva a termo passou a precificar, perto do fechamento, 100% de probabilidade de o BC subir a Selic em 25 pontos-base em setembro.
Na quarta-feira a curva precificava 67% de probabilidade de alta de 25 pontos-base e 33% de chances de manutenção da Selic em 10,50% ao ano.
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Ofuscado pela fala da tarde de Galípolo, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, também demonstrou pela manhã preocupação com o cenário “mais desafiador” para a inflação.
Falando em evento organizado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Guillen disse que o BC segue vendo um cenário com muita incerteza externa e doméstica, além de projeções elevadas para a inflação e mais riscos.
“Eu sigo vendo assim, projeções mais elevadas e com mais riscos, levando a um cenário mais desafiador para o Comitê. Vai ser importante ir acompanhando os dados”, disse Guillen.
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No exterior, no fim da tarde os rendimentos dos Treasuries seguiam em alta firme. Às 16h44 o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– subia 8 pontos-base, a 3,86%.