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A dificuldade de encontrar investimentos fora da renda fixa capazes de bater o CDI neste ano fez a procura por produtos como fundos de debêntures incentivadas, que oferecem a isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas, disparar entre investidores ao longo dos últimos meses.
Embora os produtos sigam como os “queridinhos” da XP entre os fundos de renda fixa e a visão para o longo prazo seja favorável, o investidor pode se deparar com uma maior flutuação no valor das cotas no curto prazo. O alerta foi dado por Clara Sodré, analista de fundos de investimento na casa, durante conversa com o InfoMoney, e em relatório divulgado nesta semana, juntamente com o analista Luiz Felippo.
Sodré explica que há dois componentes que guiam os retornos de fundos de debêntures incentivadas: o spread de crédito (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos, considerados de baixo risco) e a curva de juros.
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Sobre o primeiro aspecto, a XP diz que houve uma estabilização nos spreads de crédito após um forte fechamento (recuo) registrado desde o meio do ano passado. Já ao comentar sobre o segundo ponto, a especialista diz que uma eventual abertura da curva de juros poderia elevar a taxa da parcela prefixada que acompanha os papéis atrelados à inflação. Tais papéis oferecem a variação do IPCA no período da aplicação somada a uma taxa prefixada que foi contratada no momento do investimento.
No caso de uma elevação, a questão é que isso levaria a um recuo nos preços dos papéis presentes no fundo por causa da marcação a mercado. Títulos prefixados e atrelados à inflação costumam desvalorizar quando as taxas de juros estão em tendência de alta.
O contrário também é verdadeiro: os preços dos papéis normalmente sobem quando as taxas de juros caem. Por isso, até o vencimento, eles podem apresentar rentabilidade negativa em alguns momentos, o que acaba por afetar também a cota dos fundos que detêm tais títulos.
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A preocupação ocorre porque, nos últimos dias, os juros voltaram a abrir. Agentes financeiros elevaram o prêmio de risco após perceber a falta de um discurso mais alinhado entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, acerca do que precisará ser feito na reunião de setembro.
A dúvida ganhou força quando o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse, na última terça-feira (20), que é preciso cautela em relação às expectativas de alta de juros, alimentadas em grande parte por declarações recentes do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo.
Recentemente, Galípolo afirmou que uma “alta da Selic estava na mesa”, embora tenha defendido que ver um balanço de riscos assimétrico para a inflação não está “relacionado a um guidance” (indicação futura) sobre os próximos passos do Copom.
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Longo prazo é favorável
Ainda que as declarações de diretores do Banco Central possam afetar a curva de juros e trazer volatilidade para as cotas de fundos de debêntures incentivadas no curto prazo, Sodré pondera que o patamar atual oferecido pelos títulos atrelados à inflação faz com que o investimento seja atraente se o investidor pensar no produto para prazos mais longos.
A especialista também argumenta que a expectativa é que haja um fechamento da curva, à medida em que houver uma melhora na percepção do ambiente econômico, político e fiscal para o País.
“O fechamento, por consequência, beneficia os preços praticados, trazendo retornos
positivos para o investidor que detém os títulos”, diz a profissional, no relatório. Tal movimento também seria importante para os cotistas de fundos de debêntures incentivadas ao valorizar as cotas dos produtos.