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Especialistas em investimentos dizem que a constância é a melhor estratégia – vale mais apostar na frequência dos aportes do que ficar esperando um momento mágico para investir, quando as ações estão baratas e o potencial de valorização é grande. Porém, em momentos de incerteza, como o que o mercado acionário vem atravessando, fica mais difícil decidir sobre a janela ideal para se expor a algo novo.
Este é o dilema que se apresenta ao investidor que quer, finalmente, entrar na onda da inteligência artificial (IA) e começar a investir em ações de empresas americanas: dolarizar uma parte do portfólio com ativos de boa qualidade é ótimo para a diversificação, mas o mercado não parece otimista; e se os preços caírem ainda mais?
Os analistas que acompanham o mercado diariamente não têm boas perspectivas para as bolsas americanas no curto prazo. “Vimos muita volatilidade recentemente, principalmente após o aumento de juros no Japão; avaliamos o movimento como eufórico, mas parecemos caminhar para uma correção em agosto”, diz Daniel Nogueira, coordenador de distribuição da InvestSmartXP.
“A perspectiva para o restante de agosto é de muita cautela”, segundo Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos. Ele explica que “o mercado ainda busca indicadores sobre a saúde da economia americana”, o que pode trazer volatilidade nos preços. Caio Schettino, head de alocações da Criteria, diz que o mercado “ainda não escolheu a narrativa que quer” e vem fazendo movimentos “irracionais”, como precificar um corte de 0,50 ponto percentual nos juros já em setembro: “o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) tem pouquíssimo a ganhar com um corte de 0,50”.
É melhor investir agora ou esperar correção?
A cautela com o momento do mercado acionário dos EUA parte de um fator essencial: o preço. “Analisando os múltiplos, acreditamos que as ações americanas estão um pouco mais esticadas (caras)”, afirma Harada. O grande responsável por puxar os múltiplos para cima foi o setor de tecnologia. A Nvidia (NVDC34) chegou a ter um preço de mercado cerca de 240 vezes maior que seu lucro. O S&P 500 vem ganhando cada vez mais peso de tecnologia e inteligência artificial, o que empurrou o índice recentemente, principalmente após balanços positivos das big techs.
Diante desse cenário, Harada, da Blackbird, recomenda que o investidor que ainda não tem ações americanas deixe um valor separado para quando surgir uma oportunidade de entrada, “para aproveitar um momento menos incerto; eu não faria uma alocação tão expressiva”.
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Mas há quem defenda que sempre é bom dolarizar parte do patrimônio, mesmo em momentos complicados na renda variável dos EUA. “Comprar ações lá fora é positivo, mas é preciso fazer de maneira cautelosa, sem colocar grande parte do patrimônio em risco, em movimentos parcelados”, recomenda Nogueira.
Para Schettino, as ações estão caras, “mas alguns papéis no S&P hoje não valem nada e depois podem valer trilhões de dólares com alguma disrupção e quem investir lá vai colher frutos no longo prazo”.
Onde investir?
Para o curto prazo, porém, o especialista da Criteria recomenda o investimento em small caps (empresas com menor valor de mercado) e no S&P 500 Equal Weight, um fundo de índice que iguala o peso de todas as ações do S&P 500, positivo para “fugir das distorções causadas pelas Magnificent Seven” (grupo de ações das maiores empresas de tecnologia).
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No início do mês, veio à tona um movimento importante da Berkshire Hathaway (BRK.B): a empresa de investimentos de Warren Buffett, vendeu quase metade de sua participação na gigante de tecnologia Apple (AAPL34) no segundo trimestre, o que “acendeu sinal de cautela no mercado para ações de tecnologia”, explica Nogueira. Ele cita setores mais defensivos como melhores opções para o momento. Bens de consumo, saúde e setor imobiliários estão entre as preferências dos especialistas.
Schettino acrescenta à lista o setor de segurança cibernética, que tem empresas como Palo Alto Networks e CrowdStrike, defendendo que o apagão global se deu por falha de atualização, não de segurança. Para ele, são companhias com forte relação com as big techs, que devem ganhar cada vez mais relevância, mas que seguem descontadas “porque algumas atrocidades fizeram o mercado preferir outros setores no curto prazo”.
Os especialistas da Criteria e InvestSmartXP citaram ETFs como uma maneira fácil e eficiente para começar a investir em ações americanas. “É muito barato, permite a exposição em setores que o investidor acredita e traz muita diversificação”, elogia Schettino.