EUA entrarão em recessão? Gestores afastam temores – mas se dividem sobre o dólar

Algumas casas defendem que o recuo dos juros nos Estados Unidos poderia ajudar a retirar parte da pressão sobre o real, mas visão não é consensual

Bruna Furlani

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A divulgação de dados mais fracos do mercado de trabalho americano, na semana passada, reforçaram temores de investidores ao redor do mundo sobre uma eventual desaceleração mais forte do que o esperado para a atividade dos Estados Unidos.

Aqui no Brasil, porém, a visão de gestoras é que é cedo para dizer que a economia americana caminha para um cenário recessivo. Em áudio enviado a investidores, Juliano Cecílio, economista-chefe da Adam Capital, destacou que o mercado de trabalho americano está em desaceleração, mas que isso não “conversa” com a manutenção das condições financeiras das famílias e com dados do mercado imobiliário, que ainda mostram uma alta nos preços das casas. “É improvável que estejamos passando por uma recessão”, resumiu.

A Tenax Capital vai na mesma linha e avalia que a economia americana está em uma situação “delicada para achar o equilíbrio entre a desinflação e a resiliência da atividade”, mas disse não enxergar um risco de recessão no horizonte, pelo menos por enquanto. A opinião foi compartilhada pela gestora em documento enviado a clientes.

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A Ace Capital, por sua vez, escreveu, em carta, que é cedo para concluir que a economia americana caminha em direção a uma recessão. A casa, porém, não negou que a desaceleração do mercado de trabalho vem “ganhando forma”, com a queda nos número de pedidos de demissão e de criação de postos de trabalho, além de um arrefecimento das pressões salariais.

Balanço de riscos do Fed

A grande preocupação da Ace está, na verdade, na mudança rápida do balanço de riscos percebido pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano). Segundo a gestora, a junção de um mercado de trabalho mais fraco com uma inflação mais bem comportada, especialmente na parte de serviços, devem fazer com que o único temor da autoridade americana seja “evitar uma desaceleração mais acentuada da atividade econômica”.

“A pergunta mais importante neste momento não deve ser se o Fed cortará o juro em setembro, mas sim qual será o tamanho do corte”

— Ace Capital

Para a casa, a mudança rápida no balanço de riscos aumentou as chances de um corte de 0,50 ponto na reunião de setembro, ao contrário dos 0,25 ponto esperado pelo mercado até a semana passada.

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A Ace, porém, lembra que os dados a serem divulgados até lá, sobretudo o próximo relatório de emprego, serão “determinantes” para a decisão do Fed sobre o ritmo que será adotado.

Alívio no câmbio?

O início da flexibilização monetária nos Estados Unidos é apontado por algumas casas como um vetor que poderá ajudar a conter a depreciação do real frente ao dólar registrada nos últimos meses.

Para a Gap Asset, o real deve voltar a se acomodar em “patamares mais baixos” com a redução dos riscos fiscais e o início do ciclo de corte nos países desenvolvidos. Em carta, a casa ponderou que o dólar e os juros de países emergentes tendem a subir quando há grande aversão a risco ao redor do globo, mas afirmou que dessa vez acredita que será diferente.

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“O dólar já se encontra apreciado em relação às principais moedas. Além disso, as
commodities têm sofrido e seus preços (em moedas locais) não têm apresentado alta, o que não pressiona a inflação”, observou a casa.

Além disso, a gestora afirmou que o afrouxamento monetário feito pelo Fed poderá permitir que os bancos centrais de países emergentes realizem mais cortes nas taxas de juros.

Visão parecida foi defendida pela Kinea. Em entrevista ao InfoMoney no começo da semana, Ruy Alves, gestor de multimercado na casa, afirmou que o “câmbio pode fazer um caminho de volta”, ou seja, se apreciar em relação à moeda americana, passado esse momento de “choque de Var”. “Com o Fed cortando e o Brasil sendo uma das únicas geografias do mundo que tem aumento de juros precificado, acho que há espaço para o dólar ceder em relação ao real”, defendeu.

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Já na visão da Adam, o real pode seguir em desvalorização frente ao dólar, a depender da percepção dos agentes sobre as condições econômicas locais e na Ásia. Em carta, a gestora defendeu que o Brasil possui uma dependência grande de commodities e que a China, que é o principal cliente do país, enfrenta dificuldades estruturais crescentes para manter o ritmo de expansão da demanda, o que tem impulsionado os preços das matérias-primas para baixo.

A Adam também alertou para a possibilidade de o dólar se manter em patamares elevados ao longo do ano e, assim, levar a anúncios de programas de venda de dólares, o que poderia gerar um efeito colateral negativo para os juros futuros. “Este instrumento seria possivelmente visto como o último recurso dentro do pacote de ferramentas factíveis”, resumiu.