Já muito descontada, Bolsa brasileira quase escapa ilesa de “segunda vermelha”

Enquanto índices americanos ainda têm altas, apesar de forte recuo de hoje, Ibovespa acumula queda de mais de 20% em dólares

Vitor Azevedo

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Em um dia marcado por fortes quedas dos ativos de risco no mundo todo, a Bolsa brasileira teve uma performance mais amena e praticamente escapou do movimento. O Ibovespa, principal índice nacional, recuou “apenas” 0,46%, aos 125.269 pontos, bem menos do que os seus pares norte-americanos, com Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuando, respectivamente, 2,60%, 3% e 3,43%.

Para especialistas, o que explica isso, em primeiro lugar, é o fato de os ativos locais já terem, no geral, caído demais em 2024 e estarem com seus múltiplos longe dos patamares históricos — isso em um momento no qual as projeções para os lucros das companhias estão avançando. 

Ibovespa já “queimou gordura”

O Ibovespa, com a performance de hoje, recua 5,60% no ano. Já os índices americanos, mesmo com as fortes quedas desta “segunda vermelha”, ainda avançam. O Dow Jones, que tem a menor alta, sobe 2,68% e o Nasdaq, com a maior, avança 7,62%.

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“O Ibovespa basicamente foi a bolsa emergente que mais caiu nos primeiros seis meses de 2024. Olhando dolarizado, então, a queda é maior e ele não atinge o topo da sua performance desde 2019”, fala Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos. Ao levar em conta a moeda americana, o benchmark cai 20,85% no acumulado.

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Se trata, então, de uma situação na linha de que o índice brasileiro já tem pouco espaço para cair.

Faust expõe ainda que isso acontece com a maioria das principais empresas do índice, que nos últimos cinco anos estão apresentando lucros subindo, expansão de margens e ganhos de receita. 

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“Com isso, a nossa Bolsa fica absolutamente barata frente a outros índices”, diz. “Então, há um dinheiro que não vai sair da bolsa tão fácil”, completa o especialista. 

Enrico Cozzolino, head de análise da Levante, vai na mesma linha, mencionando que empresas de commodities estão muito descontadas e que ativos que entregaram retornos de capital positivos não têm preços “condizentes com os fundamentos”.  No começo de agosto, o P/L (preço sobre lucros) das empresas que compõem o Ibovespa estava cerca de 8,5 vezes. A média histórica desse índice é de quase 11 vezes. 

Resiliência de ativos BR

“Houve um momento em julho em que a relação de risco e retorno do Ibovespa se torna extremamente interessante. Não que a 125 mil pontos não seja, mas a 118 mil, que vimos recentemente, era muito. Desde que a gente tenha uma relação de risco retorno mais interessante que bolsas lá fora, principalmente frente a outros emergentes, o capital permanece”, explica Cozzolino. 

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Yuri Alves, economista da Guide Investimentos, lembra ainda que a Bolsa brasileira, atualmente, responde a uma pequena parte das carteiras de investimentos de estrangeiros, o que também ajuda a explicar a performance do Ibovespa. “O sell off acaba contaminando mais as economias de grande porte”, explica. 

Por fim, ele expõe que a economia brasileira, diferentemente das dos EUA e da Europa, continua trazendo resiliência. “O risco de recessão é muito mais expressivo nos países desenvolvidos”.